Quem Inova: Ricardo Mussa, CEO da Raízen: "A digitalização transformou a estratégia do negócio"

29 de abril de 2021
Divulgação

O líder da empresa de energia: de olho nas demandas globais por descarbonização

Com um possível IPO no horizonte, a empresa integrada de energia Raízen reforça o foco em tecnologia e inovação para apoiar o desenvolvimento de novos produtos e serviços, ampliar sua atuação em mercados internacionais e atender aos anseios de organizações globais por descarbonização.

Em entrevista à Quem Inova, o CEO da empresa, Ricardo Mussa, falou sobre como a tecnologia avançada tem ajudado a empresa a responder a necessidades do mercado. Além disso, a companhia, uma das maiores produtoras de cana de açúcar no mundo e licenciada da marca Shell no Brasil, usa a inovação aberta para antecipar potenciais demandas ao longo de sua cadeia produtiva e a criação de ofertas ainda inexistentes em seus segmentos de atuação.

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“A cada safra, investimos em inovação de portfólio, com novos produtos, otimização de processos, melhoramento de maquinários, dentre outras inovações que agregam ainda mais ao nosso modelo de atuação único e irreplicável e nos permitem olhar adiante, na busca por elevar a atuação da companhia a um patamar de protagonismo na transição energética e de redefinir o futuro da energia”, aponta o executivo.

Do campo ao posto, o aprimoramento contínuo em tecnologia é uma prioridade para a empresa, em frentes como energia renovável, com o uso de inteligência artificial para apoiar a tomada de decisão e aprimoramento do balanço energético e eficiência na cogeração de energia. Esta atuação abrange biocombustíveis, bioeletricidade, biocombustíveis avançados e bioprodutos, área que inclui duas das grandes apostas da empresa, o biogás e o etanol de segunda geração (E2G).

A empresa do grupo Cosan também faz uso intensivo de tecnologia em iniciativas para aprimorar sua cadeia de distribuição, que envolve uma frota de cerca de 3.300 caminhões e mais de 4.000 motoristas de empresas prestadoras de serviços responsáveis pelo transporte de combustíveis que percorrem, aproximadamente, 250 milhões de quilômetros por ano, o equivalente a 500 mil viagens Rio-São Paulo.

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“A complexidade da operação necessária para atender aos desafios geográficos impostos pela capilaridade da distribuição executada pela companhia gerou a necessidade da criação de uma solução assertiva, em que a tecnologia tem papel fundamental para monitorar o volume de ações típicas desta operação”, detalha o CEO.

Para melhorar as rotas e fluxos de distribuição, aumentar a segurança para as transportadoras terceirizadas e reduzir custos com a realização de mais viagens com o mesmo veículo, a Raízen implementou o Programa de Excelência Operacional Logístico, conhecido internamente como ONE. O sistema é conectado à torre de abastecimento e programação de São Paulo, tem uma célula estratégica em Piracicaba (SP) e funciona de forma integrada com áreas como infraestrutura e operações da empresa, realizando a gestão em tempo real do ciclo da frota rodoviária das operações primárias.

Outra área em que o investimento em tecnologia e inovação se manifesta na empresa de energia é o segmento de marketing e serviços, que inclui a atuação no posto de gasolina. Iniciativas nesta frente incluem o aplicativo para pagamento de combustíveis Shell Box, lançado em 2016, que atende ao aumento no uso de transações sem contato desde o início da pandemia, e agrega prêmios, promoções, descontos e pontos Smiles.

“Esses movimentos reforçam a importância de definir estratégias estruturadas para reconhecer oportunidades, com o objetivo de desenvolver soluções e tecnologias que possam beneficiar negócios e conectar as estratégias da Raízen com as demandas impostas por um mundo em constante transformação”, ressalta o executivo. “Acreditamos que o foco na eficiência é uma das formas de aumentar a competitividade, consistência e protagonizar nossa participação nos setores em que atuamos.”

OXIGENANDO IDEIAS

Lançado em 2018, o hub de inovação da Raízen, o Pulse, é uma peça importante na estratégia de inovação da empresa. Segundo Mussa, o centro baseado em Piracicaba desempenha um papel de “oxigenação de ideias” dentro e fora das operações da companhia. “Com [o Pulse], conseguimos maior conexão de empreendedores com o setor produtivo, sendo possível a troca de experiência entre aqueles que buscam soluções para toda a cadeia produtiva,” aponta.

Atualmente, o hub colabora diretamente com o desenvolvimento de um grupo de mais de 38 startups e mais de 70 projetos piloto foram conduzidos com estas parceiras em diversas áreas da empresa, além de diversos contratos comerciais. “Essas empresas estão inseridas em um setor fundamental para o país, desenvolvendo projetos que impulsionam ainda mais o agronegócio brasileiro e demais frentes”, diz Mussa. “Esta cocriação é uma oportunidade ímpar de integrar diversas jornadas em um ecossistema único como o da Raízen.”

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Analisando a trajetória do Pulse, e os desafios e resultados gerados pelo hub ao longo de quase quatro anos, o CEO diz que sua visão da empresa sobre a atuação das startups e que essas empresas têm a oferecer não mudou. “Sempre acreditamos na inovação aberta, é algo que faz parte da cultura da Raízen e, consequentemente, do nosso modelo de negócio”, pontua.

Por outro lado, o executivo ressalta que, ao contribuir para todas as frentes de atuação da empresa, o hub de inovação exerce um papel “fundamental” na aceleração de iniciativas estratégicas e tomadas de decisão, mas também norteia a evolução do agronegócio de forma mais ampla.

“Nós e os nossos parceiros enxergamos em iniciativas como uma oportunidade de entrar no ecossistema de inovação. Já as startups veem a capacidade de crescer, escalar suas soluções e atender demandas mais desafiadoras: é uma relação em que todos os agentes de tecnologia e inovação se conectam na busca por rendimento e sustentabilidade dos negócios”, aponta Mussa.

Ainda sobre as possibilidades que a inovação traz para o agro, o CEO da Raízen acredita que o setor sempre teve um grande potencial quanto à busca por tecnologia, e este movimento é impulsionado no Brasil, já que o país oferece “um laboratório vasto de experimentação”.

“A tendência é que esse movimento cresça, com o ecossistema de inovação mostrando sinais consistentes de avanços e se tornando um aliado no desenvolvimento de projetos que supram as demandas da atualidade,” diz o CEO, em referência a abordagens como a Internet das Coisas (IoT).

Pensando nestas evoluções, a Raízen tem investido em diagnósticos, pilotos e ações para garantir maior digitalização e o incremento de novas tecnologias em campo, apoiando o controle e monitoramento do início ao fim do processo produtivo, envolvendo desde a cana colhida até a operação industrial. “Como resultado disso, alcançamos uma alta performance no plantio, colheita, produção, indústria, distribuição e no relacionamento com os nossos pares”, pontua Mussa.

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Além disso, o Pulse é uma importante alavanca na transformação digital interna da Raízen. A área de tecnologia da empresa, que atua nos sistemas que apoiam a complexa operação ao longo da cadeia produtiva, tem no hub de inovação a ponte com as inovações do ecossistema de startups, bem como um vetor de expansão da mentalidade ágil, de experimentação e falha rápida na empresa.

“O Pulse facilita o processo para que startups e grandes provedores de tecnologia se posicionem de forma a fortalecer seus diferenciais e que potencializem a melhor extração de valor em nossas relações”, diz o CEO.

INTERNACIONALIZAÇÃO

A venda da tecnologia para a produção do etanol de segunda geração dominada e aperfeiçoada pela companhia para outros países está entre os principais objetivos estratégicos da Raízen. Segundo Mussa, o E2G se diferencia pela utilização dos subprodutos da cana, permitindo melhor aproveitamento da matéria-prima ao elevar a capacidade do etanol em até 50% utilizando a mesma área plantada, e possibilita que mercados globais possam ser atendidos em sua amplitude, uma vez que a empresa é um dos únicos players no mundo operando em escala comercial.

“O desafio de superar gargalos tecnológicos e transformar o produto em uma plataforma confiável, já é reconhecido tanto no mercado nacional como internacional”, destaca o CEO, citando parcerias no Brasil com empresas como O Boticário, que inicialmente previa o fornecimento do E2G para alguns itens de perfumaria e evoluiu neste ano para o uso em 100% da linha de fragrâncias da empresa a partir do etanol celulósico da Raízen. O produto foi rebatizado pela marca como EcoÁlcool, para facilitar o entendimento do consumidor quanto à sustentabilidade do produto.

Para além do mercado nacional, a Raízen atualmente fornece o E2G para o mercado europeu e norte-americano, principalmente na Califórnia, região em que empresas e consumidores buscam produtos mais sustentáveis. Segundo Mussa, a tecnologia de baixo carbono também apoia empresas globais no cumprimento de suas metas de descarbonização.

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“Devemos pensar e agir globalmente quanto às questões que envolvem descarbonização e, na Raízen, estamos instituindo mecanismos para acelerar uma economia de baixo carbono de maneira integrada. Para o futuro próximo, a proposta é vender a tecnologia”, detalha o executivo. “Dessa maneira, ganharemos também em função dos royalties e, por sua vez, os clientes contarão com uma solução renovável em suas operações.”

A empresa tem acompanhado uma grande demanda global por energia limpa, segundo Mussa, e a Raízen está em uma posição vantajosa por ter dominado esta tecnologia e a elevado a um patamar que permite à empresa atender os anseios de descarbonização do mercado.

“O fato deste biocombustível ter capacidade elevada em comparação a produção de etanol comum é um dos fatores para sustentar a expansão operacional do produto em escala global, como fonte limpa de energia”, diz o CEO, acrescentando que a pegada de carbono atual do E2G em uma unidade integrada é 30% menor do que a pegada média do etanol brasileiro produzido a partir de cana-de-açúcar.

Ainda sobre a internacionalização da Raízen, o Pulse deve continuar trazendo uma importante contribuição. Segundo Mussa, o hub de inovação nasceu com a perspectiva de monitoramento e geração de negócios considerando o ecossistema de inovação mundial, já que as conexões da empresa não estão restritas ao Brasil.

No radar do Pulse estão certas disciplinas e setores com maior maturidade fora do Brasil, como empresas de tecnologia aplicada ao varejo, as chamadas retailtechs. Por outro lado, o CEO da Raízen nota que o avanço do setor de tecnologia aplicada à agricultura, o agtech, com foco na cultura da cana de açúcar – produto cuja relevância no setor agrícola é muito maior no Brasil do que em outros países – desperta o interesse de empreendedores brasileiros por desenvolver soluções para esta matéria-prima mais do que em outros ecossistemas como Estados Unidos, China ou Israel.

“Sempre apostamos no valor da fonte renovável, por isso saímos na frente, mas acreditamos que com o mundo e a sociedade também cobrando das corporações uma agenda robusta de sustentabilidade, matérias-primas como a cana-de-açúcar ganharão maior interesse por parte dos empreendedores e fundos de venture capital“, prevê o executivo, ressaltando que o Pulse tem evoluído junto com o aumento da maturidade do ecossistema local.

Sobre a aceleração da evolução tecnológica trazida pela pandemia, o CEO nota que o contexto do último ano mostrou a importância da resiliência, agilidade e assertividade para a reinvenção dos negócios. Para ilustrar seu ponto, Mussa nota que a perspectiva anterior da empresa, de que a automação de processos e uso de inteligência artificial para controle avançado viria em um futuro próximo, tornou-se realidade no último ano.

“Nosso processo de colheita, por exemplo, vem evoluindo de maneira contínua, e atualmente é quase 100% mecanizado, exceto em localidades onde não há possibilidade de entrada de maquinário por conta da geografia”, diz o executivo, ressaltando que as circunstâncias da pandemia aceleraram a demanda por maior rendimento, mas também mostraram que a tomada de decisão mais ágil e assertiva garantirá a sustentabilidade dos negócios a longo prazo.

“[Tecnologias digitais] definitivamente transformaram a estratégia do negócio e, com elas, buscamos atingir uma maior digitalização nas operações em campo, do canavial ao posto, suprindo a demanda por tecnologia junto aos nossos parceiros e fornecedores, entendendo os novos hábitos de consumo, levando experiência aos clientes e apostando que esses movimentos conversam diretamente com a agenda do futuro”, finaliza.

Angelica Mari é jornalista especializada em inovação e comentarista com duas décadas de atuação em redações nacionais e internacionais. Colabora para publicações incluindo a FORBES (Estados Unidos e Brasil), BBC e outros. Escreve para a Forbes Tech às quintas-feiras

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