Em 2019, cerca de 11% dos adultos norte-americanos relataram sintomas de ansiedade ou depressão, índice que disparou para 42% em dezembro de 2020. Os investidores de risco chegaram ao final do ano tendo despejado um recorde de US$ 1,5 bilhão em startups relacionadas à saúde mental. “Quando a pandemia começou, houve uma pausa de duas semanas”, diz Lisa Suennen, uma antiga investidora na área de saúde que lidera o fundo de risco no escritório de advocacia e consultoria Manatt, Phelps & Phillips. “E, então, tudo enlouqueceu.”
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Não há uma desaceleração à vista, com o volume de financiamento no primeiro trimestre de 2021 chegando a US$ 795 milhões, à medida que as startups continuam a disputar o domínio do mercado pós-pandemia. “Espero que o interesse pela saúde mental seja persistente”, diz Lisa. A onda de financiamento “parece uma moda passageira agora, o que me preocupa”, assim como a expansão das avaliações. “Alguns desses valores de mercado estão além do apropriado, dados os fundamentos subjacentes”, diz. “E isso não é exclusivo da saúde mental, isso é saúde digital em todos os aspectos agora.”
O ponto alto foi definido antes da pandemia, quando a empresa de telepsiquiatria Genoa Health foi comprada pelo UnitedHealth Group por US$ 2,5 bilhões em 2018. Na sequência, em 2019, a startup de saúde mental Calm atingiu uma avaliação de bilhões de dólares. A Lyra conquistou o status de unicórnio em 2020 após uma rodada de financiamento impulsionada pela pandemia. Já a Modern Health, BetterUp e Ginger se juntaram ao clube em 2021.
Em janeiro, o Talkspace anunciou planos de abrir capital em um acordo SPAC que avaliou a empresa em US$ 1,4 bilhão; espera-se que o negócio seja concluído ainda este ano. Em abril, a KKR adquiriu uma participação majoritária na empresa de software de registros eletrônicos de saúde mental Therapy Brands por um valor não revelado. Este mês, o LifeStance Health Group, provedor ambulatorial de saúde mental apoiado pela empresa de investimento TPG Capital, anunciou planos para abrir capital em uma avaliação estimada em mais de US$ 6 bilhões.
Apesar das leis federais nos EUA exigirem que a saúde mental seja reembolsada na mesma proporção das doenças físicas, muitas pessoas com seguro médico ainda enfrentam obstáculos, como longos tempos de espera e batalhas para reverter recusas de sinistros. Cerca de um em cada quatro norte-americanos não tem acesso a terapeutas nos convênios, de acordo com a National Alliance on Mental Illness. Muitos fornecedores de saúde mental optam por operar fora das redes credenciadas, uma vez que as taxas de reembolso são muito baixas.
Dada a cobertura irregular, Kocher e Ebersman levantaram a hipótese de que os empregadores estariam dispostos a pagar por um benefício de saúde mental separado, especialmente porque a depressão é uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo. “Esta é a única empresa com a qual já trabalhei que não temos que fazer marketing”, diz Kocher. “Isso mostra como o acesso tem sido difícil para a maioria das pessoas durante a maior parte de suas vidas.”
Antes da pandemia, já se estimava que menos da metade dos adultos e crianças com problemas de saúde mental nos Estados Unidos ficavam sem nenhum tratamento. Isso se deve a uma combinação de problemas de estigma, custo e acesso, juntamente com uma crescente escassez de fornecedores de saúde mental. Em 2016, mais da metade dos condados do país não tinha um único psiquiatra.
As empresas de plataforma de saúde mental ajudam a conectar usuários diretamente a terapeutas e outros fornecedores. A Lyra e a Modern Health, com sede em São Francisco, só podem ser acessadas por meio de um acordo do empregador, enquanto a Talkspace, com sede em Nova York, e a BetterHelp, em Mountain View, também na Califórnia, têm sites onde qualquer pessoa pode preencher um questionário e agendar uma consulta. (Nenhuma das companhias pode ajudar pessoas que estão em uma crise de saúde mental com risco à vida. Em vez disso, pessoas nessas condições devem recorrer aos serviços públicos de prevenção de suicídios, disponíveis na maioria dos países.)
Várias empresas apoiadas por capital de risco também empregam “coaches de saúde mental”. Essas pessoas não podem diagnosticar ou tratar condições clínicas, mas devem ajudar os usuários que estão lidando com fatores estressantes em seus empregos ou relacionamentos antes que eles cresçam.
Embora haja um consenso de que melhorar o acesso aos serviços de saúde mental é extremamente necessário, a explosão de financiamento e avaliações altíssimas significa que os consumidores e médicos são deixados para escolher entre centenas de opções sem um bom senso de quais irão funcionar e quais são apenas exageros. Muitas dessas startups fazem parceria com instituições de pesquisa para publicar estudos, mas ninguém fez uma comparação direta do mercado. Também existe a preocupação de que o hiperfoco em tecnologia e cuidado virtual seja como fazer algo superficial para parecer mais interessante.
Também há a questão do que pode ser perdido caso a maioria das consultas de saúde mental mude para o online. Jessi Gold, psiquiatra e professora assistente da Washington University em St. Louis, tem feito consultas virtuais, mas prefere ver os pacientes pessoalmente. Ela diz que existe um equívoco de que só porque os profissionais de saúde mental não conduzem exames físicos, tudo o que eles precisam é ver o rosto do paciente em uma tela para serem eficazes. “As emoções e a conexão com as pessoas são muito mais importantes e vão muito além de olhar apenas para o rosto delas”, diz Jessi, que também é colaboradora da Forbes .
A especialista reconhece que o sistema de saúde mental dos Estados Unidos é falho. Mas as startups de tecnologia apoiadas por capital de risco por si só não resolverão o pântano complicado de cobertura ruim do seguro, atos administrativos malucos para pacientes em perigo e médicos esgotados por carregar o peso da dor do país. “Eu entendo de uma perspectiva de negócios e de uma perspectiva de necessidades porque [as startups] estão interessadas em saúde mental agora”, diz ela.
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