The Billion Dollar Code, da Netflix, coloca o poder das big techs em perspectiva

23 de outubro de 2021

Carsten e Júri desenvolveram um projeto chamado Terravision com financiamento da Telekom, Estatal Alemã Oriental (Crédito: Reprodução)

Lançada no início do mês de outubro pela Netflix, a minissérie documental alemã “The Billion Dollar Code”, ou “Batalha Bilionária: O Caso Google Earth”, traz os detalhes de uma disputa judicial iniciada por dois jovens alemães que fundaram o Terravision, em 1994, o que seria, supostamente, a base do algoritmo que compõe, atualmente, o Google Earth. A série traz uma perspectiva pelo lado dos empreendedores que processam o Google por violação de patente e semelhanças entre os dois serviços.

A série tem duas timelines diferentes: na primeira, parte da história se passa na Berlim dos anos 1990, um dos berços da anarquia digital, onde dois estudantes (Carsten e Júri), estão desenvolvendo um projeto visionário chamado Terravision com financiamento da Telekom (Estatal Alemã Oriental). O projeto acaba ganhando força e fama, e eles viajam para o Vale do Silício, onde conhecem Brian Anderson, um visionário desenvolvedor, famoso por evangelizar novas tecnologias, que fica extremamente entusiasmado com a ideia e acaba por fundar sua própria empresa que posteriormente foi vendida ao Google.

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Anos mais tarde, surgiu o Google Earth, contemplando, de acordo com Carsten e Júri, exatamente o mesmo código do Terravision. A série nos traz para sua segunda timeline, 25 anos depois, durante a preparação para um julgamento onde, de um lado estão os  jovens desenvolvedores, já não tão jovens, e do outro, o Google. De acordo com Mariana da Cal Soares, especialista em inovação e tecnologia, que analisou a série, o conteúdo coloca em perspectiva o poder das big techs e traz alguns aprendizados.

A série traz uma perspectiva pelo lado dos empreendedores que processam o Google por violação de patente e semelhanças entre os dois serviços (Crédito: Reprodução)

A utopia do mundo digital

“A internet foi uma das maiores revoluções tecnológicas do mundo, que proporcionou a realização do sonho de liberdade e acesso sem fronteiras à informação. A ideia utópica de que todo o conhecimento pudesse estar disponível para todos era extraordinário e impressionante para aquela época. A série nos traz a reflexão justamente em um momento que questionamos o gigantesco poder de influência das big techs sobre nossas vidas, que já controlam cerca de 80% do mercado. Além da privacidade, estamos vivendo discursos calorosos sobre direito de propriedade intelectual e monopólio”

Problemas que viram inspiração

“Sobre uma perspectiva empreendedora, a série reforça que você deve sim seguir seus sonhos apesar das diversidades, utilizando tecnologias disponíveis ou vislumbrando tecnologias futuras. Os obstáculos fazem parte do processo criativo da empresa. Trabalhar com curva de inovação é complexo, e pode ser muito difícil num primeiro momento, como no caso da Terravision, e como também foi no surgimento do Blockchain. Tecnologias disruptivas, que no momento em que foram concebidas ninguém acreditava, pois o mercado não estava maduro o suficiente para recepcionar”

Transformando ideias em potência comercial

“Muitos entusiastas e fundadores de empresas de tecnologia, começam também seus projetos com ideias fantásticas para seus softwares, e acabam não percebendo seu verdadeiro potencial comercial, penetração no mercado e poder de influência. Acredito que o empreendedor que assiste essa minissérie acaba por perceber que sem milho não tem pipoca, e que por mais libertária e inovadora seja uma ideia de projeto, ele precisa ser monetizável. Inovar é quebrar paradigmas tecnológicos e sociais. Outro aprendizado que a série traz é : não divulgar recursos fundamentais e a forma como seu recurso chave foi concebido. Compartilhar ideias não significa abrir para oportunistas a base de funcionamento da sua aplicação”