“Se as pessoas estão no metaverso, é lá que a moda deve estar”, diz Paulo Borges

18 de novembro de 2021

Paulo Borges durante a divulgação e exibição das skins de Free Fire em formato real (Crédito: Divulgação)

A abertura da 52ª SPFW, na noite desta quarta-feira, 17, teve vários momentos inéditos e representativos sobre o futuro da moda. Paulo Borges, idealizador e fundador da Semana da Moda de São Paulo, interagiu com avatares, QR code´s, fez a abertura de um evento híbrido mesclando físico e digital e conduziu a materialização de roupas nascidas em um game, no caso o Free Fire, vestindo modelos de carne e osso.

Em entrevista à Forbes Brasil, Borges reforça seu entusiasmo pela tecnologia, entende que a moda é uma das expressões humanas que mais estão abertas para a inovação. Destaca como que as novas plataformas virtuais podem impactar o negócio como um todo e reforça que a moda e as marcas deste universo devem estar onde as pessoas estão. “E se é no game ou no metaverso, não importa, é lá que devemos estar”, destacou.

Forbes Brasil – O que há de inédito e emblemático nesta abertura da 52ª edição onde as roupas que vestem aos modelos nascem de um game?
Paulo Borges –
É muito interessante o poder de comunidade que existe em um jogo como o Free Fire e a maneira como essa força criou as skins dos personagens. No caso de trazer esse mundo para o universo físico, o Daniel Ueda foi a pessoa mais indicada para essa releitura. Ele contou com pessoas incríveis e o croqui foi um passo fundamental para a qualidade deste projeto. Além disso, ele chamou o ateliê do Alexandre Herchcovitch que produziu com muita qualidade, entendimento e acabamento impecável de design. Foi incrível mergulhar nesse mundo e conectar o game e a moda de forma tão intensa.

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Forbes Brasil – Como a moda reage a esse tipo de inovação, além de muitas outras que vêm se popularizando?
Paulo –
A moda para mim é o ambiente que mais suga tudo que está acontecendo no mundo. A moda vive disso. Do desejo de achar as narrativas e as inovações. Hoje, mais do que nunca, ela não é um sistema fechado, no sentido de que pode criar o que quer, não, ela precisa estar onde as pessoas estão e dar o que elas querem. E é nítido esse movimento que começou com o streetwear que se adentrou ao alto design no mundo inteiro e nos ensinou muita coisa. Cada vez mais, esse olhar de que a moda deve estar onde as pessoas estão, seja no game ou no metaverso, será muito importante. É natural que seja desafiador, mas é muito relevante.

Sérgio Rial, presidente do Santander e Paulo Borges, na abertura do SPFW (Crédito: Andressa Barbosa)

Forbes Brasil – Hoje o metaverso está em alta em vários segmentos e a moda não é uma exceção, como você enxerga o impacto deste conceito para a indústria?
Paulo –
É onde a moda gosta de se arriscar. Hoje você tem muita tecnologia e possibilidades de fazer coisas diferentes. A realidade aumentada, o metaverso e o VR estão aí para nos mostrar quanto que dá para ser feito de forma criativa e apaixonante. Eu fui a um desfile do Lucas Leão que era presencial, só que usávamos um filtro de realidade aumentada no Snapchat e era algo lindo. No celular era uma experiência, e fora dele era outra completamente diferente. Isso será cada vez mais comum porque as tecnologias estão mais acessíveis, disponíveis e extremamente funcionais.

Forbes Brasil – No caso da edição deste ano, como é levar esse equilíbrio?
Paulo –
A transmissão do SPFW é digital com a presença do público. E isso já nos permite muitas coisas como, por exemplo, ter um avatar apresentando. Eles não existem na vida real, mas estão presentes por meio de uma tecnologia de hiper-realidade. Tem o movimento do corpo de forma virtual, mas só a voz real. Tudo isso não é apenas ferramenta, mas traz provocações e experimentações que se retroalimentam e fazem parte do processo da própria moda em si.

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Forbes Brasil – Indo além da experiência, o que isso impacta em termos de negócios?
Paulo – Abre muitos modelos. Hoje, você tem um número cada vez maior de marcas que já nasceram digitais. Não possuem uma loja. Todos os processos são digitais. Isso impacta toda uma cadeia. É uma transformação que o mundo vive em todas as áreas e que conosco não seria diferente. A moda está de pernas para o ar porque a tecnologia acelerou muita coisa. Imagine que antes tínhamos toda uma cadeia de 60 anos que viveu uma revolução trazida pelos novos hábitos e formatos. Alterou o tempo de produzir e de entregar. Tudo ficou mais rápido. Eu acredito que o grande aprendizado é que não é isso ou aquilo, é isso e aquilo juntos. Um desfile presencial sempre será importante pela catarse que ele provoca, mas a tecnologia vem para potencializar essa experiência.