A Accenture anunciou, nesta semana, a compra da Morphus, provedora privada brasileira de serviços de defesa cibernética, gerenciamento de riscos e inteligência de ameaças cibernéticas, expandindo suas atividades no Brasil e na América Latina. Fundada em 2003 em Fortaleza, no Ceará, a Morphus tem escritórios também em Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, e em Santiago, no Chile. O portfólio da empresa inclui serviços de governança, risco e compliance, gerenciamento de riscos corporativos, estratégia cibernética, inteligência de ameaças e serviços de segurança gerenciados.
Leia mais: CEOs valorizam, mas encontram dificuldades na aplicação de tecnologia
De acordo com a pesquisa recente de Cyber Threat Intelligence da Accenture, o Brasil é uma das principais vítimas do malware infostealer – software malicioso projetado para roubar informações da vítima, como senhas. À Forbes Brasil, André Fleury, Diretor Executivo e Líder de Segurança na Accenture para América Latina, comenta a importância do país para a estratégia de cibersegurança regional da empresa.
Forbes Brasil – Pode dar uma perspectiva de como a Accenture avança em sua estratégia de cibersegurança com a aquisição da Morphus?
André Fleury – A Accenture tem como missão se apresentar como uma opção de parceira prioritária de nossos clientes para o tema da segurança cibernética. Segurança já é um tema estratégico e complexo demais para que nossos clientes ainda tenham a complexidade adicional de gerenciar múltiplos fornecedores de segurança. A Morphus, umas das principais e mais completas empresas de segurança do País, traz capacidades que nos complementam em alguns pontos como segurança de aplicações e de nuvem. E também nos enriquecem em outros pontos, como o Morphus Lab, que faz pesquisa e desenvolvimento voltado para as características do mercado brasileiro. Por fim, eles nos trazem um aumento de capacidade estratégico em todos os demais setores de segurança como blue e red teams (times de segurança defensiva e ofensiva), estratégia e operações de segurança. Com esta aquisição a Accenture praticamente dobra o seu efetivo no Brasil, um mercado com um déficit de dezenas de milhares de profissionais.
Leia mais: Como a Mastercard Brasil investe em tecnologia para ir além dos cartões
FB – O que a Accenture viu de atrativos na empresa brasileira e como ela vai somar ao portfólio da Accenture?
André – Além dos pontos que cobri na resposta anterior, o Morphus Labs, um laboratório de pesquisa e desenvolvimento em tecnologia voltado para a segurança cibernética é um diferencial. Mas a Morphus tinha ainda três aspectos principais: 1. A cultura, que inclui aspectos como acreditar no desenvolvimento científico nacional, bem como ser uma empresa genuinamente preocupada com temas de inclusão e diversidade. Estão muito atentos e engajados tanto em ter uma responsabilidade social quanto com o planeta. E, principalmente, o carinho e a atenção com os quais todos os profissionais da empresa são tratados. Uma empresa brasileira com clientes que permanecem com eles há 20 anos é algo que nos demonstrou o grau de comprometimento com as pessoas. 2. A paixão e o senso de missão com que eles tratam o tema da segurança cibernética. Pessoalmente, eu atuo há 32 anos no setor de segurança, muito antes de ser o que é hoje. E é um setor que exige muita resiliência. Muito tenso.
FB – Pode dar uma dimensão de como vem crescendo esse ecossistema em todo o mundo e quais as perspectivas para 2023?
André – O crescimento do mercado mundial é alto, ano após ano. Quando você fala com um CEO de um grande banco, de uma empresa de telefonia ou de uma distribuidora de energia, assim como com um ministro de estado, alto funcionário de governos ou dirigentes de qualquer setor da economia, a segurança está entre as três prioridades na agenda dessas pessoas. Não é apenas uma preocupação, mas é assunto com o qual se envolvem pessoalmente. E por que isso? Vale olhar o relatório sobre riscos do WEF, feito em parceria com a Accenture para ver que ameaças cibernéticas são hoje um dos principais riscos para qualquer negócio ou operação governamental. Por que chegamos nesse ponto? O desenvolvimento da tecnologia, levando a Internet (o digital) para os equipamentos médicos, para o chão de fábrica, para os automóveis e para virtualmente todos os setores da economia temos situações impensáveis há alguns anos como a de que um ataque cibernético pudesse impedir uma venda de picolé na beira da praia. Basta que a empresa de telecom do cliente, ou o banco ou serviço financeiro que o cliente use para fazer um pix não estejam disponíveis na ponta. O nível de interrupção da economia real pode ser muito alto. É o que chamamos de superfície de ataque, que não para de crescer e, com ela, o risco trazido pelas ameaças de um crime cibernético que cresce e se sofistica. O nosso País tem um dos sistemas financeiros e de telecomunicações mais avançados do mundo. A pandemia acelerou a digitalização de diversos outros setores da economia que não necessariamente buscaram acompanhar esse processo com investimento proporcionalmente em segurança. Tudo isso faz com que os riscos e também o crescimento do mercado de segurança no Brasil sejam maiores e estejam crescendo de forma mais acelerada do que no resto do mundo.
FB – Por fim, quais são os próximos planos da Accenture envolvendo cibersegurança na região?
André – Precisamos consolidar algumas práticas como regionais, ou seja de um ponto na América Latina atendemos clientes de México à Argentina. E reforçar investimentos em práticas locais nos países de língua espanhola prioritários como México, Colômbia, Chile e Argentina. Estamos integrando as nossas operações de Centros de Operação de segurança, os nossos Cyber Fusion Centers que na região já temos no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Buenos Aires e, agora, acrescentando Fortaleza com a aquisição da Morphus. Vamos seguir a nossa agenda de investimentos nas capacidades que precisam estar localizadas, perto dos clientes, nestes países prioritários.