Em entrevista exclusiva à Forbes, Luz falou sobre uma das inovações que a companhia começa a apostar: a carne cultivada em laboratório, a partir de células de animais, pode ser responsável por parte da produção de proteínas no mundo nas próximas duas décadas. A BRF, que está no Especial Forbes Agro 100, acaba de anunciar o investimento para essa inovação.
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A partir da observação de que haverá consumidores para esse tipo de produto, a BRF entende que é o momento de inovar para atender essa demanda. Segundo a Organis (Associação de Promoção dos Orgânicos), em 2020, a venda de produtos orgânicos e sustentáveis teve crescimento de mais de 50% só no Brasil. É nesse tipo de consumidor que a BRF aposta.
Mas não é somente esse nicho que irá crescer. De modo geral, o consumo de proteína animal tende a aumentar no mundo para as três categorias que hoje já são as mais consumidas: a bovina, a suína e o frango. Para atender a esse público, as projeções do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para o período de 2019 a 2030 mostraram que o maior crescimento de produção brasileira, de 28,1%, será na carne de frango.
No entanto, a liderança das exportações ficará com a carne suína, que deve crescer 36,7%, seguida pela carne de frango (34,3%) e pela bovina (32,7%). A produção total das três proteínas, que estava estimada em 28,2 milhões de toneladas em 2019/20, deve chegar a 34,9 milhões de toneladas no final da próxima década.
A BRF não divulgou valores de investimento para a produção da nova tecnologia que tem sido tratada como “revolucionária” na companhia. Países como Estados Unidos, Israel e Singapura já têm essa inovação e a ideia da empresa, neste momento, é desenvolver a tecnologia no Brasil.
O processo de produção da carne artificial ainda está em fase de testes entre a BRF e a startup israelense. Em linhas gerais, se baseia na multiplicação em laboratório de células retiradas de animais. A primeira etapa é a extração de células através de uma biópsia. Em seguida, as células são colocadas em um meio de cultura com fatores de crescimento e nutrientes e começam a se multiplicar. O crescimento é então acelerado em reatores biológicos, até que as células se aglutinam para dar origem a pequenos filamentos que se juntam para formar o tecido muscular
“Pensamos numa solução que conviva com as proteínas da carne animal e não a substitua”, afirma Sérgio. Ele explica que o processo da carne de laboratório passa por cinco fases em seu processo de produção. “Alimentação de células animais, o crescimento dessas células, o resultado dessa alimentação – como se fosse um monte hambúrguer desmontado –, a separação do tecido e a estruturação da carne dentro desse tecido. Por exemplo: se existe uma demanda maior por um pedaço de picanha, patinho ou qualquer corte de carne, seria reproduzi-la. “Uma coisa revolucionária, que ainda está em processo de desenvolvimento”, reforça o diretor.
Os dois executivos da BRF, no entanto, pregam cautela quanto à chegada dessa proteína na mesa dos consumidores. Isso porque a carne de laboratório ainda depende de marcos regulatórios e de análises junto à Diagro (Agência Defesa e Inspeção Agropecuária), órgão do Mapa, e à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). “Faz parte do nosso acordo com a nossa parceira as missões regulatórias. Estamos lado a lado com o ministério da agricultura e agropecuária nacional, estabelecendo qual vai ser essa diligência de jornada tecnológica e qual vai ser a jornada de aprovação de ingredientes de regulação”, afirma Sérgio. “Há um interesse em ambas partes, já que o Brasil é um dos maiores exportadores de proteína animal do mundo.”
Para Lorival o objetivo do negócio é ter algo de qualidade, eficiente e com acessibilidade. “Você tornar esse produto rentável e disponível à população já é um benefício à empresa. É o que o mundo tem nos permitido, a mudar diariamente. Inovar, ter a atenção do mercado e ver as transformações dos negócios e dos consumidores.” Com a tecnologia dominada e em escala, em valores atuais Sérgio calcula que essa carne poderia chegar ao consumidor pelo preço médio entre R$ 30 e R$ 35 o quilo. “Hoje ela ainda é uma tecnologia cara. Mas a gente vai conseguir deixar em um preço bem acessível ao consumidor de todas as classes sociais. Será uma carne competitiva no mercado.”
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