Embora em um primeiro olhar o patamar sugira um momento espetacular para o produtor, quando observada a atividade leiteira sob a ótica da relação de troca leite/milho, fica claro que a alta recente do leite apenas aliviou um pouco relação, que segue em alto patamar histórico. Esta melhora do indicador para o produtor de leite também teve a influência da queda do preço do milho em junho, da ordem de 9,5% no Triângulo Mineiro, associada ao início da entrada em comercialização do milho safrinha e da apreciação cambial.
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A seca, desde o último verão, afetou o produtor de leite de duas maneiras: a primeira foi o comprometimento precoce da qualidade das pastagens nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, principalmente, antecipando a necessidade de suplementar o rebanho.
Além disso, a estiagem afetou o potencial de produção de milho, primeiramente na região Sul, no caso do milho verão, e mais recentemente o milho safrinha na maior parte das principais bacias leiteiras, mantendo o mercado do cereal escasso e consequentemente caro.
A qualidade das silagens produzidas também foi prejudicada pelo clima adverso. Com isso, vem ficando difícil manter o crescimento da captação de leite, que pelo indicador do Cepea desacelerou de 5,6% em março para 3,6% em maio, em relação ao mesmo mês do ano passado. Já em comparação com o mês anterior, a última alta observada foi em dezembro de 2020.
Impasse nos Laticínios
Sob a ótica dos derivados lácteos, a situação dos laticínios também é desafiadora. Afinal, ao seguirem com preços historicamente elevados, acabam desestimulando a demanda, que tem se mostrado frágil sem a presença de um auxílio emergencial mais robusto, como o do ano passado.
Mesmo com os preços de alguns dos derivados bem acima de um ano atrás – caso do leite em pó (20,5%), leite C (28,8%) e outros queijos com elevações superiores a 20%, mais UHT e muçarela que subiram 5,5% –, os spreads da indústria nestes produtos se mantêm entre os mais baixos da história. Há um ano, o preço do leite ao produtor ainda não havia escalado, mas os derivados sim, o que ampliou bastante os spreads e fortaleceu o interesse dos laticínios, o que acabou ajudando na subida do preço ao produtor. Ou seja, neste momento o cenário é bem diferente, com necessidade da indústria em repassar custos aos consumidores finais e possibilidade de altas adicionais na matéria prima, em meio à oferta restrita pelo menos até a melhora da condição das pastagens por volta do último trimestre do ano.
Olhando para frente
Um gradual aumento da captação geralmente ocorre a partir de julho/agosto, em função da melhora das condições na região Sul com as pastagens de inverno. Entretanto, no Sudeste e Centro-Oeste, a baixa qualidade das pastagens e a ração cara devem seguir limitando a recuperação, o que sugere um ritmo de produção, no agregado, mais contido relativamente ao ano passado.
Uma melhora do consumo também deve ser desafiada pelo aumento da inflação em geral, o que impacta o consumo de alimentos das famílias de menor renda. Já a possibilidade de um real mais apreciado, caso ocorra, pode trazer algum alívio aos produtores do lado dos custos dos grãos, porém eleva a atratividade das importações por parte da indústria, sobretudo diante do cenário de preços firmes ao produtor. Finalmente, vale destacar que com a provável firmeza do preço do boi e da vaca de descarte, o produtor de leite deve continuar sensível à possibilidade de reduzir seu rebanho, o que teria um consequente e rápido efeito negativo na oferta de leite.
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