Greidanus está certo, mas o que muda para as cooperativas nos dias atuais, com a corrida pelo ESG? De modo geral, as cooperativas têm como discurso serem por essência e origem estruturas ESG desde a sua criação. A Frísia, por exemplo, foi criada por um grupo de produtores rurais em 1911 para incrementar o comércio das propriedades. Mas foi nos anos 1940 que começou a ganhar nome entre os consumidores, quando passou a se chamar Batavo, ganhando escala e se posicionando hoje como uma das principais marcas de laticínios do mercado brasileiro. Atualmente, a marca pertence à francesa Lactalis. O nome Frísia veio em 2015, com uma maior diversificação de produtos e produtores de outras atividades, como os suinocultores. Para o executivo, o trabalho em grupo e comunitário das cooperativas no cenário ESG passa pela reflexão sobre “o que nós, como cooperativa, somos e qual é o nosso papel?”
Olhadas no conjunto, as cooperativas são gigantes, com um ativo da ordem de R$ 495 bilhões. Apenas os tributos geraram aos cofres públicos R$ 11 bilhões. “Sim, é importante gerar valor, mas ele não é só monetário, o valor é para a sociedade” afirma Greidanus. “Quando há uma distribuição de resultados, ele fica dentro do município de atuação da cooperativa, seja através dos colaboradores ou através dos cooperados. A gente quer projetar essa ‘empresa’, que envolve diretamente mais de 3.000 pessoas.” Nesse caso, que é a distribuição das sobras, o que seria o lucro das empresas privadas, o valor foi de R$ 14,8 bilhões no país. Na Frísia, as sobras no ano passado foram de R$ 170 milhões.
A sigla ESG vem servindo para modular atividades de grandes empresas que estão nos Campos Gerais, região marcada pelo troperismo, povos tupis e uma legião de imigrantes que vão de alemães a italianos. O agronegócio da região atraiu empresas do porte de Ambev, Bunge, Cargill, Klabin, CCR, Tetra Pak, Heineken, Louis Dreyfus e Rumo, entre outras, mas foram as cooperativas que melhor conseguiram traduzir um modelo de construção social dessa parte do país e hoje também querem se reinventar. A sede da Frísia, por exemplo, está em Carambeí, município no qual os produtores de leite detêm índices de produtividade de suas vacas comparados aos melhores resultados de grandes e eficientes produtores globais, como os Estados Unidos. São 9.000 litros de leite por vaca/ano, mesma faixa dos norte-americanos. A média brasileira é de 2.000 litros.
A Frísia processou no ano passado 280 milhões de litros de leite, 860 mil toneladas de grãos, 27 mil toneladas de carne suína e 140 mil toneladas de madeira produzidas em florestas plantadas. A receita foi de R$ 3,7 bilhões em 2020, ante R$ 2,9 bilhões no ano anterior, valor que a coloca no grupo das grandes empresas que operam no país. Neste ano, de janeiro a junho, a receita chegou a R$ 2,47 bilhões, valor 53,9% acima do mesmo período do ano passado.
O valor de R$ 1 bilhão será distribuído nas três frentes de atuação da Frísia: grãos, carnes e lácteos e setores de apoio, como fábrica de ração, armazenagem, indústria de processamento, logística e serviços que vão de lojas agropecuárias a postos de combustível. “Estamos trabalhando, principalmente junto ao governo do Estado e municípios, estudando os incentivos que eles possam eventualmente nos fornecer para instalarmos esses investimentos”, declara Greidanus. Embora estejam em confidencialidade, o executivo dá pistas seguras do caminho que a cooperativa está trilhando. “Existe uma preocupação muito grande do mundo com relação à pegada de carbono e a gente tem um trabalho muito forte nesse sentido para estarmos inseridos nesse mundo cada vez mais globalizado, buscando uma neutralização da nossa pegada de carbono.”
Há várias ações em aberto, mas as energias renováveis são um dos destaques. A Frísia já possui programas de uso racional da água e investimento em biodigestores. Um exemplo é o Fundo Azul nos municípios de Castro, Piraí do Sul e Carambeí, para reduzir o aporte de matéria orgânica nos mananciais de abastecimento. Os biodigestores também estão na jogada. “A gente tem um programa desenvolvido junto a propriedades para usarmos realmente o metano como uma fonte de energia”, afirma Greidanus. “Na pecuária ou na agricultura, a gente quer oferecer para o mundo um produto que tenha uma pegada zero.” Além disso, a cooperativa já possui um programa para financiar a geração de energia através de placas fotovoltaicas. “É um incentivo para que o produtor possa fazer investimento na área dos biodigestores e, lógico, usar também dejeto como fertilizante para ajudar na produção.” De acordo com o executivo, cerca de “10% dos produtores têm um sistema de produção de biogás na propriedade, ou energia fotovoltaica e usando o dejeto”.
Os resultados em escala vêm das inovações. O executivo acredita que “a inovação não é algo que você tem que, de repente, virar sua propriedade de cabeça para baixo, mas são por vezes coisas simples que podem melhorar muito os teus resultados”. Na agricultura, a Frísia implantou a plataforma Sigma, na qual é possível realizar avaliações de campo, recomendações de manejo e análises por satélite. Mas deve se estender aos outros setores da cooperativa. “O produtor vai conseguir ter uma assistência técnica muito mais assertiva. Porque o Sigma, na verdade, não é só uma ferramenta para agricultura, mas a gente quer estender isso também para pecuária”, diz Greidanus. “Com ela, é possível profissionalizar cada vez mais os próprios controles financeiros das propriedades, criar programas dentro da cooperativa, em que o produtor possa ter os números dele na mão usando a própria estrutura cooperativa para fazer a sua contabilidade gerencial e econômica”. Para ele, a cooperativa vai ser, cada vez mais, uma alavanca social para que os produtores possam alcançar seus objetivos.
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