Um mel que cura. Assim, pode ser definido o mel de aroeira produzido na região Norte de Minas Gerais. Antes considerado de pouco valor comercial, por ser muito escuro, as pesquisas mostraram que as suas qualidades podem ser exploradas na cadeia produtiva. Não por acaso, o Mel do Norte de Minas recebeu o registro de IG (Indicação Geográfica), na espécie Denominação de Origem ontem (1).
Com produção anual média de 450 toneladas, o Mel do Norte de Minas apresenta compostos fenólicos com ação antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana, o que fortalece o sistema imunológico. “Esse é o diferencial do nosso mel. Esperamos que com a IG possamos vender o nosso mel com agregação de valor, desenvolver produtos e serviços com aroeria Myracrodruon urundeuva. Desenvolver turismo, remédios naturais e comercializar nossos produtos no mundo”, diz Luciano Fernandes, presidente da Coopemap (Cooperativa dos Apicultores e Agricultores Familiares do Norte de Minas), ao citar estudos da Fundação Ezequiel Dias e do Instituto Mineiro de Agropecuária. “Com isso, podemos preservar a aroeria e manter os apicultores e agricultores familiares no campo”, afirma.
O que é o Mel de aroeira
O mel de aroeira recebe este nome porque as abelhas retiram os recursos da planta Myracrodruon ur undeuva, um tipo de aroeira, vegetação predominante em regiões de mata seca, caracterizadas pelo clima árido e precipitação anual baixa, além de solos com baixa acidez e altas quantidades de cálcio. Mas, além disto, outro fator natural que contribui para as características deste mel é a associação de insetos psilídeos, conhecidos como pulgões, em suas folhas e flores.
LEIA TAMBÉM: Abelhas nativas se tornam rainhas na alta gastronomia de badalados restaurantes
As árvores abrigam esses insetos em todas as fases de seu ciclo de vida (ovo, ninfa e adulta). Eles sugam a seiva elaborada da planta e a digerem e maturam em seu organismo, excretando uma substância açucarada conhecida como melato ou honeydew. Os pulgões, ao sugar a seiva vegetal, também induzem a aroeira a produzir substâncias fenólicas para se proteger, que são excretadas pela planta em diversos de seus órgãos, entre os quais os nectários e as flores.
É assim, ao polinizar a aroeira-do-sertão, que as abelhas coletam um néctar misturado às secreções fenólicas produzidas próximo aos nectários, bem como a secreção excretada pelos pulgões. Desse modo, o mel produzido a partir da aroeira contém alta concentração de compostos fenólicos e presença de melato, diferentemente de méis produzidos a partir de outras espécies vegetais, nos quais está ausente essa última substância.
Por que uma Denominação de Origem vale o esforço
Carlos Roberto de Castro, auditor federal agropecuário do Mapa que atua na coordenação de fomento de IGs na representação de Minas Gerais, explica que para o produto obter o reconhecimento como Denominação de Origem ele deve levar em consideração as características exclusivas da localidade, inclusive os fatores naturais e humanos que o tornam diferenciado. “O protagonismo é do produtor, pois ele tem a propriedade intelectual do modo de fazer”, afirma.
No Norte de Minas há uma área contínua onde ocorrem condições edafoclimáticas para a presença da aroeira-do-sertão. São essas particularidades, e o saber fazer dos apicultores com conhecimento da flora apícola, que levam à produção de um mel com qualidades e características oriundas do meio geográfico.
Em relação aos fatores naturais, o Norte de Minas está inserido em uma área de transição entre os domínios do Cerrado e da Caatinga. Essa região concentra grandes extensões de Matas Secas, caracterizadas pelo clima árido, precipitação anual baixa e solos com baixa acidez e altas quantidades de cálcio.
As Matas Secas do Norte de Minas apresentam plantas adaptadas à deficiência hídrica e ao clima seco, dentre as quais se destaca a espécie Myracrodruon urundeuva Allemão (aroeira-do-sertão). O rigoroso processo de manejo das colmeias e de coleta do mel permite um produto de aroeira monofloral com a máxima expressão de suas qualidades e características típicas.
O registro de IG, segundo a coordenadora de Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Débora Santiago, de fato pode trazer reconhecimento pelo mercado e pelos consumidores. “A partir desse momento, os produtores que seguirem as regras da indicação geográfica Norte de Minas podem optar por usar também o Selo Brasileiro da Denominação de Origem no rótulo dos seus produtos, junto com o nome da IG”, explica Débora. “Os Selos Brasileiros foram instituídos no final do último ano e a gente espera ter valorização, inclusive promoção internacional dos produtos, agregando valor e gerando renda, além de outros benefícios para a região.”