A indústria de defensivos agrícolas do Brasil, que importa a maior parte da matéria-prima de insumos utilizados pelos agricultores brasileiros, já fechou negócios de produtos importados para atender 65% da demanda nacional de pesticidas na nova safra 2022/23, antecipando-se em meio a preocupações com gargalos logísticos por lockdowns na China, a maior fornecedora.
Os negócios estão de 10% a 15% mais adiantados do que em anos anteriores, mas a indústria gostaria de estar ainda mais antecipada, disse à Reuters o presidente do Sindiveg (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal), Júlio Borges.
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“Não conseguimos comprar tudo que a gente quer, não por falta de produção, mas por gargalo em logística”, afirmou.
Ele acredita que estes 65% de produtos contratados, e parte deles em processo de embarque ao Brasil, devem chegar totalmente ao país entre o final de julho e início de agosto, quando começam as primeiras movimentações para o plantio de grãos, que se inicia em meados de setembro.
“Ter 65% é um número bom, mas não é tudo que a gente precisa, nossa preocupação é constante”, acrescentou.
Borges ressaltou que o país é dependente da produção chinesa de insumos e, no momento, “há uma fila enorme de navios parada, e isso tem atrapalhado um pouco” a operação nas indústrias brasileiras.
O cenário não é tão “desesperador” quanto o de 2021, quando, segundo o executivo, o problema era com a produção das indústrias chinesas, fato que postergou grande parte das entregas de importados para o final do ano.
O Brasil importa mais de 80% das matérias-primas para a fabricação de pesticidas.
Na ponta da demanda, mesmo diante de um cenário de elevação nos custos de produção da safra 2022/23 motivado também pelas despesas com fertilizantes –impulsionadas pela guerra na Ucrânia–, a expectativa é que o consumo de agroquímicos se mantenha elevado, puxado pela proliferação de pragas e doenças, e pelo aumento da área plantada no Brasil.
“Se a adubação não é bem feita, o risco de ter que usar mais cuidados de defensivos agrícolas é ainda maior, e não menor”, afirmou Borges, lembrando que o preço das commodities está elevado, o que contribui para que o produtor não reduza o nível de investimentos no pacote tecnológico da lavoura.
Balanço
Os agricultores do Brasil trataram 1,883 bilhão de hectares com defensivos químicos no ano passado, aumento de 12,1% ante 2020, informou o Sindiveg hoje (10).
A área tratada é o resultado da multiplicação da área cultivada em hectares pelo número de aplicações de defensivos e, ainda, pelo número de produtos formulados em cada uma das aplicações, disse a entidade com base em dados encomendados à Spark Consultoria, que realiza a pesquisa junto aos agricultores.
Segundo o sindicato, o aumento na área tratada com agroquímicos se deve à elevação no nível de pragas, doenças e ervas daninhas de difícil controle nas lavouras.
Para 2022, a expectativa é que a área tratada cresça de 8% a 10%, estimou Borges.
O valor de mercado dos defensivos efetivamente aplicados pelos agricultores aumentou 17,4% em 2021 no Brasil, passando de US$ 12,48 bilhões (R$ 64,12 bilhões) para US$ 14,65 bilhões (R$ 75,27 bilhões).
A soja representou 53% do valor total, com US$ 7,7 bilhões (R$ 39,5 bilhões), enquanto o milho participou com 13%, e a cana, com 9%.
O presidente do sindicato disse que há influência do aumento de preços dos produtos, diante de repasses de custos ao longo da cadeia. Para 2022, ele acredita que o valor de mercado avance apenas um dígito.
Em área, com 1,063 bilhão de hectares, a soja representou cerca de 56% do total, crescimento de 15,56% ante 2020. O milho foi a cultura que mais cresceu percentualmente em aplicações: 23,82%, chegando a 305,3 milhões de hectares.
Dentre os principais produtos aplicados, os inseticidas foram utilizados em 27% da área tratada, seguido pelos herbicidas (23%). Os fungicidas foram utilizados em 18% da área, mais que o dobro do percentual dos tratamentos de sementes (8%).
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