“A gente planta agora e em fevereiro teremos um dia de campo dessa fazenda digital”, diz Tatiana Fiuza, head de inovação do Cocriago e sua cofundadora, juntamente com os engenheiros agrônomos George Hiraiwa, diretor de relações institucionais, e Sérgio Barbosa, head de agro e que também é gerente executivo da EsalqTec, incubadora tecnológica que atua junto à Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz/Universidade de São Paulo), em Piracicaba (SP).
“O hub é um ambiente de conexões”, diz Tatiana, que tem dois mestrados: um em propriedade intelectual em tecnologia e outro em geografia com foco na indústria de software. “Nosso papel não é ajudar uma startup a montar plano de negócio, fluxo de caixa, analisar mercado, fazer governança. O que a gente faz é pegar essa startup em fase comercial, que precisa de mercado, e fazer com que ela tenha acesso a grandes cooperativas e empresas, para que possam, juntas, capitalizar.” Entre as empresas e cooperativas interessadas nesse ecossistema e que são parceiras do hub estão a Coamo, Integrada, Belagrícola, AGCO, Adama, Bayer, Sicoob, TMG, entre outras.
A origem do hub
A escolha do modelo de inovação aberta, “para não ser mais um no mercado”, como diz Tatiana, foi fruto de um longo aprendizado que começou em 2016, ano em que aconteceu na SRP, durante a exposição agropecuária do município, um hackathon, nome de eventos que reúnem pessoas para solucionar problemas e desenvolver soluções inovadoras.
A origem do nome vem exatamente daí, da combinação das palavras hack (programar) e marathon (maratona). “Para esse evento, eu estava por uma incubadora, onde trabalhava, e o George, pela SRP. Decidimos, junto com um grupo grande de pessoas envolvidas, fazer um pavilhão dedicado à tecnologia, o Pavilhão Smart”, afirma Tatiana. Naquele ano, 16 projetos participaram do evento de 10 dias. “Foi um primeiro aprendizado, porque terminado o evento a gente olhou para os projetos e não tinha o que fazer”. Em 2017, o grupo repetiu o feito, mas já criando uma pequena aceleradora para modelar os negócios.
Por conta desse trabalho, começou um processo de grupos organizados em Londrina, chamados de governança. Hoje, o município tem 10 grupos. Foi nesse processo, por exemplo, que nasceu o primeiro AgroBit, evento de inovação que neste ano aconteceu nos dias 8 e 9 deste mês, também no parque de exposições da SRP.
No ano seguinte, em 2019, a então ministra Teresa Cristina chancelou Londrina como polo de inovação do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária). “Todo esse movimento aconteceu juntamente com os hackathons, que continuavam ocorrendo anualmente”, diz Tatiana. Hiraiwa conta que o período foi de muita conversa e de negociações para que o projeto fosse em frente. “Nessa época, trabalhando para a SRP, a ideia era construir algo que fizesse sentido e que desse frutos”, afirma.
Mas daí veio a pausa no mundo, com a Covid, e quando as atividades começaram a retomar, o hub foi criado. “O que nos levou ao hub? Estávamos gerando startups na nossa cidade, ela era reconhecida pelo Ministério da Agricultura, a Agrovalley já era forte, com um grupo bem atuante, mas a gente estava executando pouco no sentido de conectar as startups que nasciam aqui com as empresas e cooperativas”, diz Tatiana. Vale registrar que a Agrovalley é um projeto que promove inovação na região de Londrina, no mesmo molde que ocorre com o Vale do Piracicaba (SP), como é chamado o polo de inovação que surgiu em 2016.
Como o funciona a inovação
O feito ocorreu com a marca Minamihara, do cafeicultor Andeson Minamihara, de Franca (SP). Com a SSCROP, que desenvolve software para gestão de fazendas, a conexão se deu com a Integrada Cooperativa Agroindustrial, com sede em Londrina, mas que atua em outros 50 municípios e que possui 11.000 cooperados. A experiência com o software é feita com 20 fazendas. Já FarmGO, startup de Maringá (PR), instalou uma estação meteorológica na sede da SRP, na qual os associados têm acesso às informações.
Há outras iniciativas, além das conexões de startups com a iniciativa privada, que passam pela pesquisa, consultoria e academia. Mas elas também são de conexão. “Contamos com oito institutos de pesquisa, porque é uma característica do agro estar ligado a isso por conta da história da Embrapa”, afirma Tatiana. Entre eles estão a Universidade Federal de Pelotas (RS), a Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia, em Pompeia (SP), com as universidades do Paraná e com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) local. “Está em Londrina o único hub de Inteligência Artificial do Brasil desse órgão, o Instituto Senai”, diz Tatiana.
O Cocriagro prepara o pesquisador e ensina como ele pode se apresentar para as empresas em busca de parceria. “A gente tem um case de uma startup que está saindo do forno e que estava com um problema específico em sua solução de termometria em silos”, afirma Tatiana. “Então, a gente conectou essa startup com a Universidade Federal de Pelotas e eles vão desenvolver um projeto em conjunto.”
O mais recente braço, o programa Florescer, nasceu em fevereiro deste ano, para conectar empresas juniores das universidades. Hoje são oito empresas, entre elas a Universidade Federal de Pernambuco, a Unesp de Botucatu (SP), e a Unicamp, de Campinas (SP). E não apenas nas áreas das ciências agrárias, como a agronomia. A empresas juniores, por exemplo, de engenharia elétrica, engenharia mecânica, TI. “A conexão das empresas juniores se dá com as startups, as empresas e as cooperativas”, diz Fabiana.
A ideia nasceu no primeiro SmartFarm, uma experiência no próprio parque da SRP, realizada em 2021, quando Tatiana, George Hiraiwa e Sérgio Barbosa, chegaram à conclusão de que havia estudantes de agronomia ainda muito fora do que é a realidade das startups e inovação no agro. Naquele ano, os integrantes do hub haviam plantado em uma área de 800 m², no parque de exposições da SRP, talhões de milho e girassol para testar produtos de oito startups.
A estreia que ocorre hoje no IDR Paraná é uma extensão dessa primeira experiência em escala diminuta. “Não temos a pretensão de ter 1.000 startups, porque não somos uma lista de telefone”, diz Tatiana, “O que queremos é, sim, ampliar o número de startups, mas que a gente conheça o que elas fazem e como fazem para, de fato, ajudar a fomentar o que pode mudar o agro.”
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