Cocriagro, o hub de inovação que conecta startups do agronegócio

16 de novembro de 2022
Vera Ondei

Tatiana Fiuza, head de inovação do hub, diz que startups devem ser apoiadas para encontrar mercado

Hoje (16), no Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná, localizado em Londrina, o principal município do estado, depois da capital Curitiba, uma área de plantio de 4.000 m² está recebendo sementes de soja e feijão. A área plantada servirá, pela primeira vez, para que oito startups ligadas ao hub Cocriagro mostrem seus produtos e do que eles são capazes. Denominada Smart Farm, participam da vitrine tecnológica com estrutura de fazenda digital startups de insumos biológicos, melhoramento de semente por gás carbônico, de agricultura de precisão e estação meteorológica, de análise de plataformas experimentais, gestão de EPIs voltada à aplicação, gestão de fazenda e sensores de solo.

“A gente planta agora e em fevereiro teremos um dia de campo dessa fazenda digital”, diz Tatiana Fiuza, head de inovação do Cocriago e sua cofundadora, juntamente com os engenheiros agrônomos George Hiraiwa, diretor de relações institucionais, e Sérgio Barbosa, head de agro e que também é gerente executivo da EsalqTec, incubadora tecnológica que atua junto à Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz/Universidade de São Paulo), em Piracicaba (SP).

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O hub Cocriago, que completou um ano no dia 31 de agosto, ocupa um espaço físico no parque de exposições da SRP (Sociedade Rural do Paraná), também em Londrina, de cerca de 650 m². São 39 startups ligadas a ele. Mas não é somente isso. O hub destoa de muitos projetos que hoje estão em atividade no agro, porque não nasceu para ser uma aceleradora ou incubadora e também não quer essa tarefa.

“O hub é um ambiente de conexões”, diz Tatiana, que tem dois mestrados: um em propriedade intelectual em tecnologia e outro em geografia com foco na indústria de software. “Nosso papel não é ajudar uma startup a montar plano de negócio, fluxo de caixa, analisar mercado, fazer governança. O que a gente faz é pegar essa startup em fase comercial, que precisa de mercado, e fazer com que ela tenha acesso a grandes cooperativas e empresas, para que possam, juntas, capitalizar.” Entre as empresas e cooperativas interessadas nesse ecossistema e que são parceiras do hub estão a Coamo, Integrada, Belagrícola, AGCO, Adama, Bayer, Sicoob, TMG, entre outras.

A origem do hub

A escolha do modelo de inovação aberta, “para não ser mais um no mercado”, como diz Tatiana, foi fruto de um longo aprendizado que começou em 2016, ano em que aconteceu na SRP, durante a exposição agropecuária do município, um hackathon, nome de eventos que reúnem pessoas para solucionar problemas e desenvolver soluções inovadoras.

A origem do nome vem exatamente daí, da combinação das palavras hack (programar) e marathon (maratona). “Para esse evento, eu estava por uma incubadora, onde trabalhava, e o George, pela SRP. Decidimos, junto com um grupo grande de pessoas envolvidas, fazer um pavilhão dedicado à tecnologia, o Pavilhão Smart”, afirma Tatiana. Naquele ano, 16 projetos participaram do evento de 10 dias. “Foi um primeiro aprendizado, porque terminado o evento a gente olhou para os projetos e não tinha o que fazer”. Em 2017, o grupo repetiu o feito, mas já criando uma pequena aceleradora para modelar os negócios.

Tatiana conta que no ano seguinte, em 2018, ocorreu um movimento em Londrina, puxado pela prefeitura do município, que envolveu uma série de associações privadas, entre elas a SRP. Tratava-se de identificar quais setores, por meio da inovação, poderiam impulsionar o desenvolvimento local. No estudo, foram identificados cinco setores: agro, saúde, TI, metal mecânica, e químicos e materiais.

Por conta desse trabalho, começou um processo de grupos organizados em Londrina, chamados de governança. Hoje, o município tem 10 grupos. Foi nesse processo, por exemplo, que nasceu o primeiro AgroBit, evento de inovação que neste ano aconteceu nos dias 8 e 9 deste mês, também no parque de exposições da SRP.

No ano seguinte, em 2019, a então ministra Teresa Cristina chancelou Londrina como polo de inovação do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária). “Todo esse movimento aconteceu juntamente com os hackathons, que continuavam ocorrendo anualmente”, diz Tatiana. Hiraiwa conta que o período foi de muita conversa e de negociações para que o projeto fosse em frente. “Nessa época, trabalhando para a SRP, a ideia era construir algo que fizesse sentido e que desse frutos”, afirma.

Para George Hiraiwa, que é agrônomo, desde o início o hub buscava perenidade

Mas daí veio a pausa no mundo, com a Covid, e quando as atividades começaram a retomar, o hub foi criado. “O que nos levou ao hub? Estávamos gerando startups na nossa cidade, ela era reconhecida pelo Ministério da Agricultura, a Agrovalley já era forte, com um grupo bem atuante, mas a gente estava executando pouco no sentido de conectar as startups que nasciam aqui com as empresas e cooperativas”, diz Tatiana. Vale registrar que a Agrovalley é um projeto que promove inovação na região de Londrina, no mesmo molde que ocorre com o Vale do Piracicaba (SP), como é chamado o polo de inovação que surgiu em 2016.

Como o funciona a inovação

Hoje, os exemplos de conexões bem sucedidas é uma realidade no Cocriagro. Em maio, a startup Arabyka, especializada em rastreabilidade via blockchain, foi a responsável por implementar essa tecnologia em um lote de café orgânico exportado para o Japão.

O feito ocorreu com a marca Minamihara, do cafeicultor Andeson Minamihara, de Franca (SP). Com a SSCROP, que desenvolve software para gestão de fazendas, a conexão se deu com a Integrada Cooperativa Agroindustrial, com sede em Londrina, mas que atua em outros 50 municípios e que possui 11.000 cooperados. A experiência com o software é feita com 20 fazendas. Já FarmGO, startup de Maringá (PR), instalou uma estação meteorológica na sede da SRP, na qual os associados têm acesso às informações.

Há outras iniciativas, além das conexões de startups com a iniciativa privada, que passam pela pesquisa, consultoria e academia. Mas elas também são de conexão. “Contamos com oito institutos de pesquisa, porque é uma característica do agro estar ligado a isso por conta da história da Embrapa”, afirma Tatiana. Entre eles estão a Universidade Federal de Pelotas (RS), a Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia, em Pompeia (SP), com as universidades do Paraná e com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) local. “Está em Londrina o único hub de Inteligência Artificial do Brasil desse órgão, o Instituto Senai”, diz Tatiana.

O Cocriagro prepara o pesquisador e ensina como ele pode se apresentar para as empresas em busca de parceria. “A gente tem um case de uma startup que está saindo do forno e que estava com um problema específico em sua solução de termometria em silos”, afirma Tatiana. “Então, a gente conectou essa startup com a Universidade Federal de Pelotas e eles vão desenvolver um projeto em conjunto.”

Nas consultorias, o Cocriago usa como base a metodologia da ISO 56002, que foi criada em 2019. “Criamos o braço de consultoria em gestão da inovação porque as empresas do agro têm maturidades diferentes nessa área”, diz Tatiana. “Ajudamos as empresas a criarem os seus programas de inovação, olhando contexto e estratégia, e dando suporte para operação.” O hub tem definida uma trilha de formação de líderes, gerentes e analistas para encaminharem os processos de inovação no agro. “Porque não adianta dizer ‘vou criar um evento aqui, um hackathon ali, se depois não sei como internalizar isso na empresa. Foi o nosso primeiro aprendizado lá de 2016 e que agora passamos adiante”, diz ela.

O mais recente braço, o programa Florescer, nasceu em fevereiro deste ano, para conectar empresas juniores das universidades. Hoje são oito empresas, entre elas a Universidade Federal de Pernambuco, a Unesp de Botucatu (SP), e a Unicamp, de Campinas (SP). E não apenas nas áreas das ciências agrárias, como a agronomia. A empresas juniores, por exemplo, de engenharia elétrica, engenharia mecânica, TI. “A conexão das empresas juniores se dá com as startups, as empresas e as cooperativas”, diz Fabiana.

A ideia nasceu no primeiro SmartFarm, uma experiência no próprio parque da SRP, realizada em 2021, quando Tatiana, George Hiraiwa e Sérgio Barbosa, chegaram à conclusão de que havia estudantes de agronomia ainda muito fora do que é a realidade das startups e inovação no agro. Naquele ano, os integrantes do hub haviam plantado em uma área de 800 m², no parque de exposições da SRP, talhões de milho e girassol para testar produtos de oito startups.

A estreia que ocorre hoje no IDR Paraná é uma extensão dessa primeira experiência em escala diminuta. “Não temos a pretensão de ter 1.000 startups, porque não somos uma lista de telefone”, diz Tatiana, “O que queremos é, sim, ampliar o número de startups, mas que a gente conheça o que elas fazem e como fazem para, de fato, ajudar a fomentar o que pode mudar o agro.”

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