Brasil pode se tornar centro de ciência quântica aplicada ao agro

28 de março de 2023
Guettyimages/Metamorworks

Ciência quântica pode ajudar o agro a ser mais sustentável

Interessados em abrir espaço de pesquisa, por meio de laboratórios de estudo e de parcerias com instituições, o Lanaf (Laboratório Nacional de Agro-Fotônica), que pertence à Embrapa Instrumentação, unidade localizada em São Carlos (SP), reuniu na sexta (24), pela primeira vez, um grupo de pesquisadores para traçar o potencial das tecnologias quânticas no desenvolvimento do agro. As tecnologias quânticas estão presentes em diversos desenvolvimentos, como GPS, LED, câmeras digitais, computadores e laser.

“Precisamos ser o centro do mundo da ciência quântica aplicada ao agro, ter uma visão estratégica”, disse Paulo Nussenzveig, pró-reitor de pesquisa e inovação da USP (Universidade de São Paulo), durante o 1º Workshop de Tecnologias Quânticas no Agro. “Há uma nova revolução quântica em curso, que depende de um conhecimento profundo, temos uma comunidade acadêmica forte que domina esse conhecimento. É urgente um projeto de inovação a longo prazo no país”. O encontro teve por objetivo conectar universidades, instituições de pesquisa e a iniciativa privada em torno do tema.

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A pesquisadora Débora Milori, coordenadora do Lanaf, afirma que as tecnologias quânticas têm muito a contribuir na produtividade, controle de pragas e avaliação de qualidade da produção agrícola. “As tecnologias quânticas podem contribuir para o desenvolvimento de novos equipamentos e sensores que possam melhorar a produtividade nas lavouras; mapear e controlar pragas e doenças; métodos para avaliar a qualidade de produtos na pós-colheita e agroindústria; ajudar na rastreabilidade de produtos e melhorar a capacidade e velocidade de tratamento de um grande volume de dados”, afirma ela. “A criptografia quântica, por exemplo, pode ser utilizada para a rastreabilidade dos produtos do agro”.

De acordo com Nussenzveig, a construção da iniciativa quântica no Brasil começou há cerca de dois anos e meio. “Não se trata de fazer algo para alavancar o próprio trabalho, mas algo que o país precisa, para estabelecer um mapa das principais linhas de tecnologias quânticas no Brasil e na América Latina. Esse é um projeto de inovação”, disse ele.

A ciência quântica tem motivado iniciativas como uma chamada da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), lançada em 2022, para a criação de um Centro de Competência em Tecnologias Quânticas. Na avaliação do diretor do Instituto de Física de São Carlos/USP, Oswaldo de Oliveira Júnior, existe a “necessidade de avanços em metrologia, monitoramento, comunicação e nas tecnologias quânticas, que precisam ser dominadas pelo nosso sistema de ciência e tecnologia, pois a segurança nacional depende disso e conhecimento precisa ser passado para a sociedade”.

João Batista Rosolem, coordenador do CPQD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), avalia a possibilidade de um projeto integrador temático com os 11 laboratórios do Sisfóton (Sistema Nacional de Laboratórios de Fotônica). A computação quântica utiliza os princípios da mecânica quântica para a realização dos processamentos, com base em Quantum Bits ou QuBits.

Os super computadores quânticos podem realizar cálculos extremamente complexos, impossíveis de serem realizados pelos computadores atuais, e em velocidades exponencialmente maiores. Estima-se que cerca de mil QuBits lógicos terão poder de computação maior do que toda a capacidade existente atualmente, o que traz oportunidades para solução de desafios diversos vários setores, incluindo o agro.