Por que o preço da carne cai para o pecuarista e não cai igual para o consumidor

5 de maio de 2023
Westend61/Guettyimages

Mercado varejista está tentando recuperar margens com a venda da carne bovina

Uma pergunta que recebo com muita frequência aqui é sobre o motivo do preço da carne não estar caindo tanto quanto o do boi gordo. Afinal de contas, o boi é a matéria-prima para a carne processada que vai ao consumidor.

Então, vamos comparar às proporções. Enquanto a carne caiu 4% nos últimos 12 meses, nós verificamos uma queda de mais de 20% para o preço do boi gordo ao produtor. Ou seja, uma perda de valor muito maior.

Leia também:

E por que a carne não tem acompanhado esse movimento? Vamos voltar um pouquinho no tempo, para lembrar o que aconteceu entre 2019 e 2021. O boi gordo, praticamente, dobrou de preços em termos nominais. E a carne bovina no varejo não conseguiu acompanhar. O consumidor brasileiro, no meio da crise da pandemia (de Covid-19), ficou desempregado e enfrentou a inflação.

Quando os frigoríficos, as lojas de varejos, os açougues e supermercados tentavam imprimir essa alta, o consumidor ficava muito resistente e, obviamente, acabava partindo para outras proteínas que cabiam mais no bolso dele, como frango, suíno ovos, por exemplo, e algumas vezes o pescado.

Então, o consumo de carne suína, por exemplo, subiu bastante no Brasil nesse período, de uma maneira compensatória ao que estava acontecendo com a carne. O preço do boi gordo subiu bastante por falta de oferta e nós já abordamos esse tema aqui na coluna, em outras ocasiões. Um exemplo foi quando falamos sobre o ciclo pecuário.

Faltava boi para o abate e como consequência a gente viu os preços subirem muito, se valorizarem bem acima, inclusive, da inflação. Nesse período em que o boi subiu mais do que a carne, e os agentes de varejo não conseguiram imprimir essa alta, fica claro que eles perderam margem de sua operação. Obviamente, os supermercados, têm um mix de produtos maior e eles conseguem diluir um pouco mais esse problema que acabou acontecendo com a  margem da carne, da carne dentro desses estabelecimento. Mas os açougues continuaram prejudicados porque eles têm um mix de produto menor tá

O que aconteceu agora foi que, durante a fase de alta de ciclo, obviamente, o produtor se sente estimulado a investir na atividade e aumenta a sua produção e agora vem o reflexo. O estímulo dos preços traz aumento produtivo. Essa é uma regra de economia básica. Então, o que a gente tem hoje é um aumento produtivo de gado e consequentemente fazendo os preços caírem.

Mas por que que o varejo não repassa? Porque agora, ele está tentando refazer essas margens perdidas ao longo daquela fase de alta que aconteceu entre 2020 e 2021, principalmente. Agora, haverá um controle da oferta ao varejo, até porque o varejo também não está podendo consumir tanto. E o que  acontece é que ele vai reaver uma parte dessas margens perdidas ao longo daquela fase de alta.

Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.