Estas são as principais conclusões de um relatório do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), publicado nesta quarta-feira (27), durante evento do Dia Internacional do Resíduo Zero. A Embrapa Alimentos e Territórios, unidade localizada em Maceió, (AL), colaborou na revisão do novo levantamento global sobre desperdício de alimentos nas etapas de varejo e consumo. A coordenação do trabalho foi da WRAP, ONG global com sede no Reino Unido e que combate a fome no mundo. O relatório completo está neste link.
-
Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
No Brasil, o Índice de Desperdício de Alimentos estima em 94 kg per capita, ao ano, o desperdício de alimentos na etapa de consumo familiar. A estimativa leva em conta apenas o consumo doméstico de alimentos e é resultante de um estudo piloto realizado em 2023, em cinco regiões distintas da cidade do Rio de Janeiro. Esse estudo realizou análises de resíduos orgânicos, por meio de gravimetria, em regiões do Rio com diferentes perfis socioeconômicos.
Em 2022, foram gerados 1,05 bilhão de toneladas de resíduos alimentares (incluindo partes não comestíveis), totalizando 132 quilos per capita e quase um quinto de todos os alimentos disponíveis para os consumidores. Do total de alimentos desperdiçados em 2022, 60% aconteceram no âmbito doméstico, com os serviços de alimentação responsáveis por 28% e o varejo por 12%.
“O desperdício de alimentos é uma tragédia global. Milhões de pessoas passarão fome hoje, enquanto alimentos são desperdiçados em todo o mundo”, diz Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA. “Além de ser uma questão importante de desenvolvimento, os impactos desse desperdício desnecessário estão causando custos substanciais para o clima e a natureza. A boa notícia é que sabemos que se os países priorizarem essa questão eles poderão reverter significativamente a perda e o desperdício de alimentos, reduzir os impactos climáticos e as perdas econômicas e acelerar o progresso das metas globais.
Leia também:
- Mulheres contra o desperdício de alimentos salvam vidas da fome
- Grandes empresas estão mudando a maré do desperdício de alimentos
- Desperdício de alimentos custa bilhões de dólares aos contribuintes dos EUA
Desde 2021, houve um fortalecimento da infraestrutura de dados com um número maior de estudos rastreando o desperdício de alimentos. Globalmente, o número de dados em nível domiciliar quase dobrou. No entanto, muitos países de baixa e média renda continuam a carecer de sistemas adequados para acompanhar os avanços no cumprimento do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12.3 de reduzir pela metade o desperdício de alimentos até 2030, particularmente no varejo e serviços de alimentação.
Os dados confirmam que o desperdício de alimentos não é apenas um problema de “país rico”, com os níveis de desperdício de alimentos domésticos diferindo nos níveis médios observados para países de renda alta, média-alta e média-baixa em apenas 7 kg per capita. Ao mesmo tempo, os países mais quentes parecem gerar mais desperdício de alimentos per capita nos domicílios, potencialmente devido ao maior consumo de alimentos frescos com partes substanciais não comestíveis e à falta de cadeias de refrigeração adequadas.
De acordo com levantamentos recentes, a perda e o desperdício de alimentos geraram de 8% a 10% das emissões globais de GEEs (gases de efeito estufa) – quase cinco vezes mais do que o setor de aviação – e uma perda significativa de biodiversidade ao ocupar o equivalente a quase um terço das terras agrícolas do mundo. Segundo o Banco Mundial, o custo da perda e do desperdício de alimentos na economia global é estimado em cerca de US$ 1 trilhão.
A expectativa é que os esforços para fortalecer a redução do desperdício de alimentos e a circularidade beneficiem especialmente as áreas urbanas. As áreas rurais geralmente têm menor desperdício, com maior direcionamento de restos de alimentos para animais de estimação, animais de criação e compostagem doméstica como explicações mais prováveis.
Linhas de base robustas e medições regulares são necessárias para que os países mostrem mudanças ao longo do tempo. Graças à implementação de políticas e parcerias, países como Japão e Reino Unido mostram que a mudança em escala é possível, com reduções de 31% e 18%, respectivamente. “Com o enorme custo para o meio ambiente, a sociedade e as economias globais causado pelo desperdício de alimentos, precisamos de uma ação coordenada maior em todos os continentes e cadeias de suprimentos. Apoiamos o PNUMA ao pedir que mais países do G20 meçam o desperdício de alimentos e trabalhem em direção ao ODS 12.3”, comenta Harriet Lamb, CEO da WRAP.
“Isso é fundamental para garantir que os alimentos alimentem as pessoas, não os aterros sanitários. As parcerias público-privadas são uma ferramenta fundamental para a obtenção de resultados, mas requerem apoio: sejam filantrópicas, empresariais ou governamentais, os atores devem se unir em torno de programas que abordem o enorme impacto que o desperdício de alimentos tem na segurança alimentar, em nosso clima e em nossas carteiras.”
O PNUMA continua acompanhando o progresso em nível nacional para reduzir pela metade o desperdício de alimentos até 2030, com um foco crescente em soluções além da medição para a redução. Uma dessas soluções é a ação sistêmica por meio de parcerias público-privadas (PPP): fomentar cooperações entre governos, setor privado e o terceiro setor para identificar gargalos, desenvolver soluções e impulsionar o progresso.