Essencialmente, o ESG trata da incorporação de práticas de sustentabilidade ambiental, inclusão social e governança no universo corporativo e sua transformação em um ativo financeiro tangível. Os critérios ESG se tornaram relevantes na análise de riscos e na tomada de decisões dos investidores e já impactam nas decisões de compra dos consumidores. Sua relevância é tamanha que empresas do mundo inteiro têm investido para fazer com que suas políticas de governança tragam retornos ambientais e sociais o quanto antes.
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De lá para cá, grandes líderes empresariais vêm debatendo a responsabilidade corporativa e seu compromisso com todos os públicos de interesse (não apenas o acionista), o chamado Capitalismo de Stakeholders. Um manifesto de 2019 da Business Roundtable, associação que reúne as maiores corporações dos Estados Unidos – entre elas Amazon, Apple, Bayer, Coca-Cola, Dell e IBM –, com as assinaturas de 181 CEOs, reforçou que o propósito das corporações deve ser o bem-estar social. No ano seguinte, Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de fundos do mundo, declarou a sustentabilidade como seu novo padrão de investimentos e convocou os investidores a dar preferência às empresas com propósito.
A convergência de interesses que coloca o ESG em destaque é muito influenciada pelos investidores, pela opinião pública e pelas mudanças de hábitos de consumo. Levantamento realizado pelo Instituto Akatu e a GlobeScan sobre as percepções dos consumidores em 27 países mostrou que no Brasil mais de 70% dos consumidores esperam que as empresas não agridam o meio ambiente e mais de 60% querem que as empresas estabeleçam metas para tornar o mundo melhor.
“ESG passou de uma questão estratégica periférica para ser central e dominante. Executivos e stakeholders (boards, funcionários de todos níveis, agentes, governo, reguladores e a sociedade) reconhecem que ESG é um direcionador de valor e estão proativamente endereçando esses fundamentos”, explica Alexandre Pierantoni, diretor da Duff&Phelps no Brasil, consultoria global de finanças corporativas.
Além de influenciar a percepção da sociedade, os indicadores ESG também definem a atratividade de uma empresa tanto no mercado de capitais quanto para questões relacionadas a fusões e aquisições, ou seja, impactam diretamente no valuation das companhias.
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“As empresas querem fazer negócios com quem investe em modelos mais sustentáveis, que possam contribuir para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, que entreguem valor à sociedade com um sistema de governança que permita transparência e conduta responsável em todas suas atividades”, afirma José Luiz Moreira, CEO da IHM, empresa do Grupo Stefanini. Especializada em transformação digital, a IHM criou uma divisão focada em soluções tecnológicas que ajudam as indústrias a executarem suas agendas de ESG, sobretudo na adaptação ao processo de transição energética pelo qual o mundo está passando.
Enquanto a geração de eletricidade e o transporte representam 53% das emissões globais de gases do efeito estufa, no Brasil o setor de energia é responsável por apenas 8% das emissões, pois aqui predominam as usinas hidrelétricas. “Com a expansão da produção eólica, solar e de biomassa, além da substituição de térmicas a diesel e de investimentos em estrutura de armazenamento de energia, o Brasil pode assumir a liderança da energia sustentável”, avalia o economista Gesner Oliveira, coautor do livro “Nem Negacionismo Nem Apocalipse – Economia do Meio Ambiente: Uma Perspectiva Brasileira”.
Economia circular
Gesner Oliveira também vê potencial na geração de energia a partir dos resíduos sólidos urbanos e estimula a economia circular em cada cadeia produtiva. O conceito de economia circular defende o melhor uso dos recursos naturais, por meio de novas oportunidades de negócios, da otimização na fabricação de produtos e da reciclagem dos resíduos, de forma a depender menos de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis.
Já a seguradora Zurich, uma das mais tradicionais do mundo, acaba de anunciar um “selo verde” para certificar as oficinas mecânicas parceiras no Brasil. A ideia é estimular a utilização de insumos com baixo impacto ambiental, processos de destinação de resíduos líquidos e sólidos e de reutilização de recursos. A aferição será feita pelo Instituto da Qualidade Automotiva (IQA), e a expectativa é que a mudança das práticas gere ganhos de eficiência, economia de custos, produtividade e maior captação de clientes.
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Pioneira no segmento de gestão ambiental, a Ambipar ganhou relevância internacional por desenvolver soluções que promovem a economia circular, ou seja, que buscam reintroduzir os resíduos na cadeia produtiva, gerando mais uma fonte de receita para as empresas clientes e reduzindo o impacto ambiental. Foi o centro de pesquisas da Ambipar que mostrou à indústria farmacêutica a viabilidade técnica e econômica da reutilização do colágeno usado para envolver cápsulas de vitaminas e outros medicamentos. O resíduo, que iria para aterros sanitários, passou por estudos e análises e se tornou um protótipo de sabonete que, dermatologicamente testado e aprovado, provou ser uma excelente matéria-prima para a indústria de cosméticos.
A hora e a vez do S
Pesquisas mostram que os temas relacionados a E (enviromental) têm tido a maior parte de atenção e que questões de S (social) e G (governance), embora endereçadas, aparecem em segundo patamar. No Brasil, as empresas têm buscado um maior equilíbrio entre os três temas. No âmbito da governança, há questões de controle corporativo e problemas a serem mapeados, como fraudes, corrupção, risco de ataque cibernético, exposição e relacionamento político, entre outras. No aspecto social, há forte demanda da sociedade brasileira pelo tema da diversidade e inclusão.
Para Maria Eugênia Buosi, CEO da Resultante ESG, escritório especializado na integração das práticas a companhias, investidores e instituições financeiras, o S caminha mais lentamente porque incomoda, afeta o modelo de negócios, mas mexe também com o modelo mental, valores, polêmicas. “No fim do dia, ESG é sair da zona de conforto. Se não está doendo, não está sendo feito direito”, declara. “Se estamos vivendo os maiores desafios ambientais e sociais da história, com risco iminente de uma crise climática e de perda maciça de biodiversidade e um abismo social em que 1% da população detém 50% da riqueza, não há como resolver esses desafios fazendo as mesmas coisas de sempre. É preciso mudar. E isso incomoda.”
“Em uma jornada de quase 15 anos, tornamos ESG parte fundamental das nossas estratégias. Com isso, além de contribuirmos para um mundo mais sustentável, buscamos inspirar princípios de confiança, criar oportunidades iguais, aproveitar o poder de todas as gerações e empoderar comunidades locais. Nesse sentido, estamos atentos e ativos no desenvolvimento de ações de sustentabilidade e inclusão, trabalhando por nossas metas e demonstrando à sociedade, de forma transparente, os resultados que já conquistamos”, afirma Rafael Segrera, presidente da Schneider Electric para América do Sul. “Sustentabilidade é parte integrante e indissociável dos nossos negócios.”
Uma estratégia que vem sendo utilizada para dar mais consistência e celeridade às transformações é utilizar os frameworks de complianceR e governança para implementação dos pilares de ESG. “A criação de processos e controles relacionados ao combate ao trabalho escravo é muito semelhante aos processos de compliance que muitas empresas já possuem para lidar com uma série de outros riscos de terceiros, como suborno e corrupção, lavagem de dinheiro ou financiamento do terrorismo”, ressalta Ian Cook, diretor da Kroll no Brasil, empresa mundial de gestão de riscos e investigações corporativas.
“O compromisso com práticas de ESG deixou de ser uma opção”, sentencia Luciano Guidolin, presidente da consultoria Stelagu Capital e Gestão Empresarial. “As empresas que quiserem sobreviver terão de ir além da retórica na defesa dos interesses da sociedade.”
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