A corrida pela redução da pegada de carbono da pecuária na natureza

Apresentado por
4 de setembro de 2021
Wenderson Araujo/Trilux/CNA

Gestão que leve à redução da pegada de carbono da pecuária é a nova fronteira na criação do gado

Qual a real pegada de carbono (carbon footprint, em inglês) de um bovino, do nascimento ao abate? A pegada de carbono de animais, homens e produtos tem sido estudada para criar metodologias que medem as emissões de GEEs (gases de efeito estufa) e a partir daí oferecer soluções ao mercado. No caso da pecuária, como a Carne Carbono Neutro, apresentada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), uma marca-conceito parametrizável e auditável e que em 2020 deu o primeiro passo por meio de uma marca de carne da Marfrig Foods. Mas, para chegar à pegada de carbono da pecuária em larga escala, é preciso preparar o caminho com ferramentas de gestão da boiada de uso generalizado para rebanho de mais de 215 milhões de bovinos, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Por isso, gerir é, cada vez mais, uma necessidade da atividade, passa pelo bolso do pecuarista e prepara o terreno para uma demanda crescente: o boi como promotor do sequestro e da mitigação dos GEEs.

Daí o conceito de “pecuária de decisão”, uma analogia à pecuária de precisão, termo que se refere ao uso de tecnologias de gerenciamento a partir da automatização, digitalização e controle da atividade em tempo real, levando em conta a produção, bem-estar animal e impacto ambiental. “A gente entende que a pecuária de decisão é um momento diferente, evoluindo da pecuária de precisão, que é basicamente fazer mais com menos recursos. O grande problema é que sabemos há alguns anos que as tecnologias estão disponíveis, mas muita pouca coisa era feita para arregimentar essas ferramentas e torná-las harmônicas”, diz Paulo Dancieri, CEO da BovExo, plataforma de gestão pecuária. “É um momento que envolve as tecnologias que já estão aí, com atitudes tomadas de uma forma assertiva, de modo a otimizar a extração de valor do negócio de pecuária.”

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Ontem (3), Dancieri, que estava à frente da Coimma em 2018, quando a empresa de balanças e troncos de contenção de animais foi destacada pela revista Forbes na lista de Empresas Mais Inovadoras do país, promoveu um encontro de especialistas para discutir a “pecuária de decisão” e apresentar mais uma funcionalidade da plataforma, justamente voltada para a pegada de carbono da pecuária. Além de fazer recomendações que otimizem a margem de lucro, ligando os dados de balanças, bolsa de valores, suplementação animal, sistemas de administração de pecuária, rastreabilidade, a ferramenta também poderá indicar quais opções ajudam a reduzir as emissões de CO2 equivalente pelo rebanho. No caso, CO2 equivalente significa a medição de outros gases de efeito estufa que entram nas contas das emissões com o mesmo peso do gás carbônico, daí o “equivalente”. A Bovexo tem em seu sistema 200 mil bovinos monitorados e já recebeu aportes da ordem de R$ 6 milhões nos últimos três anos.

Para a zootecnista Fabiana Villa Alves, pesquisadora da Embrapa que integrou a equipe que desenvolveu a metodologia da Carne Carbono Neutro e que hoje é coordenadora-geral de Mudanças do Clima e Agropecuária Sustentável do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), as tecnologias com potencial para se tornarem ferramentas de largo uso no campo podem levar uma grande contribuição ao plano ABC+ (Plano Setorial de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária), política pública anunciada pelo Mapa em abril deste ano para a promoção da agricultura de baixa emissão de carbono no país até 2030. “Acabamos de finalizar o levantamento de dados do plano ABC da última década e nós tivemos, até 2018, uma adoção em 52 milhões de hectares no Brasil daquelas tecnologias que são metodologias, processos e produtos que têm como foco sustentabilidade”, afirma Fabiana. “A tecnologia e inovação é o cerne da política pública do ABC+.”

Dancieri e seu sócio e parceiro nas pesquisas, o físico Carlos Gomes, acreditam que se avançarem no Brasil os pagamentos vinculados à sustentabilidade da pecuária a atividade dará saltos nesse mercado. Os créditos de carbono, certificados que comprovam que 1 tonelada de dióxido de carbono (CO2) deixou de ser emitida na atmosfera, é a nova fronteira da sustentabilidade. Os executivos dizem que além de discutir a importância de tratar o pasto como lavoura e como os pecuaristas rentáveis operam no mercado do boi gordo, é preciso auxiliar esses produtores a reduzir sua produção de carbono.

Gomes afirma que as plataformas de gestão podem ajudar o pecuarista a fazer da atividade um negócio lucrativo. E faz uma conta básica tendo como base uma boa estratégia: “um bezerro de 220 quilos, até o ponto médio de abate (478 quilos de peso vivo) pode economizar, em relação a um boi criado tradicionalmente, 5.931 quilos de CO2eq, gerando uma potencial receita adicional de R$ 642 por cabeça ou, a uma taxa de lotação de 1,4 unidade animal/hectare, adicionais de R$ 900/hectare/ano”. A conta mede a eficiência do manejo do gado, a sua pegada na natureza. Ou seja, é possível que o pecuarista reduza suas emissões de carbono e tenha maior lucro como resultado. Ganho diário de peso, aproveitamento de carcaça, produtividade, decisão de compra e venda são variáveis afetam entre 75% e 80% da potencial geração de valor da pecuária de corte, setor responsável por R$ 139,7 bilhões do VBP (Valor Bruto da Produção) agropecuária no Brasil, que, segundo a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), movimentou R$ 728,68 bilhões em 2020.

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