O upcycling, ou reutilização criativa, é o processo em que resíduos e peças que perderam a utilidade são usados para a criação de novos produtos com funções diferentes. Desde maio de 2021, quando renovou suas metas globais de sustentabilidade, focadas em pilares dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, a LATAM tem implementado iniciativas para proteger o meio ambiente na América do Sul nos próximos 30 anos. “Estamos trazendo descarbonização e economia circular para a operação da empresa”, diz Maria Elisa Curcio, diretora de relações institucionais e sustentabilidade da Latam.
Foi em uma reunião de equipe que Ligia Sato, gerente de sustentabilidade da companhia, citou a Revoada, empresa de moda sustentável que havia feito uma parceria com a Toyota. Sato havia ficado encantada com a nova cara que a Revoada deu a cintos de segurança, airbags e uniformes de funcionários, que foram transformados em 17 novos produtos. “Não fazemos a ecobag bege e chata. Criamos produtos de design, com qualidade e valor agregado”, diz Itiana Pasetti, cofundadora da Revoada.
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Criada em Soledade (RS) por Itiana e Adriana Tubino, a empresa trabalha com mão de obra de cooperativas de costureiras da periferia, em parceria com instituições como a Ciclo Reverso, liderada pela assistente social Liliane Linhares, o grupo Mulheres de Mãos Dadas de Esteio e as Costureiras do Morro da Cruz de Porto Alegre. “Fazemos workshops e capacitamos as mulheres tanto para costurar quanto para ter ideia de produto, divulgação e preço. A ideia é que elas se entendam empreendedoras”, diz Itiana.
Adriana, que vinha da comunicação, e Itiana, da moda, trabalharam com marcas tradicionais antes de decidirem empreender com sustentabilidade e impacto social. A Revoada nasceu em 2013 como um ecommerce de upcycling usando materiais jogados no lixo. Mas depois de uma parceria com a Renner, as empreendedoras pivotaram para o B2B, modelo de negócios entre empresas que permite trabalhar em maior escala e gerar mais impacto.
As empresárias apostaram há 10 anos em um mercado que deve ser avaliado em US$ 6,49 milhões (R$ 31, 76 milhões) até o fim deste ano, e US$ 18,26 milhões (R$ 89,36 milhões) até 2033, com uma taxa de crescimento anual de quase 11%, segundo dados do Future Market Insights. Hoje, vemos grandes marcas, como a Arezzo, que comprou o brechó online TROC, Shop2gether e até mesmo a Zara começarem a aderir a uma ideia de moda mais sustentável. “Meu sonho é tirar a roupa, plantar e nascer uma árvore”, diz Itiana, que estuda o desenvolvimento de biomateriais.
O ciclo de vida dos uniformes da Latam
Este ano, as roupas serão destinadas à ONG Amigos do Bem, que desenvolve projetos educacionais e de geração de trabalho, água, saúde e moradia no sertão do Nordeste brasileiro.
Peças com tecidos menos nobres ou marcas de uso, e que não podem ser doadas, já se transformaram em cerca de 7 mil novos produtos, com o design da Revoada e as mãos de costureiras da periferia do Rio Grande do Sul. Ao longo de 2022, esse trabalho envolveu 5 mil pessoas e gerou renda para 3 mil mulheres da região. “Não é só uma questão de trazer renda para as mulheres e as suas famílias, mas também de aumentar a autoestima”, diz Maria Elisa, da Latam.
Em 2022, as costureiras produziram 1.000 novas peças, e este ano já foram criados 5.700 produtos para o kit de boas vindas de todos os funcionários da Latam do Brasil e de mais cinco países do grupo. A ideia de fazer upcycling com os uniformes foi importada da Latam Peru. “Na atração e retenção de talentos, não é só questão salarial que conta. Quando a pessoa recebe esse brinde, já cria uma conexão com a empresa”, afirma a executiva.
Alguns produtos, como os sapatos de pilotos que têm o logo da Latam nas solas, estão em perfeito estado, mas não podem ser doados. O próximo passo da parceria com a Revoada é trabalhar desde a confecção dos uniformes, para que eles sejam idealizados já com o objetivo de serem repassados ou descaracterizados e transformados. “Todo lixo é um erro de design”, diz Itiana.
Desde o início, a Revoada trabalha com o conceito de economia e, mais especificamente, moda circular – ou seja, o caminho linear de compra, uso e descarte dá lugar a um processo contínuo, em que as peças são repassadas ou transformadas. O objetivo é reduzir a necessidade de produzir mais e mais, explorando matérias primas e recursos naturais. Tudo isso em uma rede de impacto social, gerando renda para mulheres da periferia. “Rede em economia circular é redundância.”
Metas de sustentabilidade precisam forçar o setor
O propósito se alinha às metas do grupo LATAM de eliminar plásticos de uso único até o fim deste ano e ser uma companhia zero resíduos para aterro sanitário até 2027. Além disso, a empresa está se propondo a compensar 50% das emissões de CO2 de seus voos domésticos até 2030 e ser uma companhia 100% carbono neutro até 2050. “As metas de sustentabilidade são metas do negócio, é 100% licença para operar”, diz a executiva da LATAM.
Para reduzir a pegada de carbono e operar de forma mais sustentável, a companhia está reutilizando os plásticos, desde copos até necessaires de assentos business, compensando e reduzindo emissões, com o uso de combustíveis verdes, uma operação mais eficiente no transporte de carga e alimentos e usando fornecedores próximos. “A meta precisa ser economicamente viável, ao mesmo tempo que força e puxa, porque se for confortável para todo mundo, o setor não cresce”, afirma a diretora de sustentabilidade.
Em 2021, a aviação foi responsável por mais de 2% das emissões globais de CO2 relacionadas à energia, com um crescimento mais rápido do que o transporte rodoviário, ferroviário ou marítimo, segundo a Agência Internacional de Energia. Com o relaxamento das medidas de bloqueio da pandemia, as emissões do setor em 2021 recuperaram quase um terço da queda observada em 2020. Segundo a organização, muitas medidas técnicas relacionadas a combustíveis de baixo carbono, melhorias em aeronaves e motores, soluções de otimização e contenção de demanda serão necessárias para atingir a meta de zerar as emissões de carbono até 2050.
Discussões em torno de combustível verde na aviação
As discussões ao redor do SAF (Sustainable Aviation Fuel, ou Combustível de Aviação Sustentável) envolvem entraves em relação à produção e incentivos fiscais. Recursos naturais colocam o Brasil numa situação privilegiada para a produção do combustível, feito a partir de matérias-primas sustentáveis e outros materiais orgânicos. “O Brasil tem pouco SAF hoje, mas tem um potencial gigante de produção”, diz Maria Elisa, da Latam, acrescentando que todas as aeronaves da companhia estão prontas para usar o combustível verde.
De acordo com a empresa, atualmente é permitido utilizar até 5% de matéria-prima sustentável no coprocessamento do SAF, que contribui para diminuir as emissões de carbono ao longo do seu ciclo de vida se comparado com o combustível de aviação convencional. “Temos uma responsabilidade muito forte de ser líder nas discussões e influenciar positivamente a construção de políticas públicas.”