Empresas adotam a cultura da siesta no Brasil e no exterior

12 de julho de 2020
Ilustração Indio San

Na comparação entre 2018 e 2019, a duração média do sono em dias de semana caiu de 6,6 para 6,4 horas

O brasileiro está dormindo cada vez menos. É o que comprova pesquisa da Absono (Associação Brasileira do Sono), que entrevistou 6.472 pessoas de todas as regiões do Brasil. Na comparação entre 2018 e 2019, a duração média do sono em dias de semana caiu de 6,6 para 6,4 horas (12 minutos a menos). Os impactos da falta de sono são múltiplos: dores no corpo, imunidade baixa, cansaço e memória prejudicada – além de um aspecto envelhecido. Segundo o instituto de pesquisa The RAND Corporation, o sono insuficiente dos trabalhadores custou, em 2016, aproximadamente US$ 411 bilhões à economia dos Estados Unidos.

Para tentar solucionar o problema, empresas como Google, Uber, PwC, Nike e Mercedes-Benz têm implementado espaços para uma soneca em suas unidades. A prática é tradicionalmente conhecida na Espanha como siesta – “sesta” no Brasil, palavra menos usada aqui que a espanhola, denunciando a falta do hábito entre nós. O que é um erro, segundo estudo feito por pesquisadores da Universidade de Lausanne (Suíça) e publicado no jornal “Heart” – o estudo concluiu que uma breve cochilada no início da tarde melhora o humor e turbina as funções cognitivas, com implicações diretas na produtividade.

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No caso do Google, foi fechada uma parceria com a norte-americana MetroNaps, que fabrica cápsulas para a soneca, cujo preço começa na faixa dos US$ 12 mil. Outras startups do tipo têm se espalhado pelas principais metrópoles do mundo: a Nap York, em Nova York, o Spa Lé La, em Los Angeles, a Pop & Rest, em Londres, e a Nescafe Harajuku, em Tóquio. Cada uma delas conta com espaços reservados para clientes que buscam um momento de descanso.

No Brasil, o movimento foi abraçado pela empresa paulistana Cochilo, que opera os “cochilódromos”: cabines individuais para quem quer repousar em algum momento do dia. Cada espaço privativo oferece uma cama, uma mesa de cabeceira, fone e tampões de ouvido. O repouso de uma hora custa R$ 25. São duas unidades da Cochilo para o público geral, uma no centro de São Paulo e outra no bairro do Itaim Bibi. Há um braço da marca (Cochilo InCompany) que leva os cochilódromos para dentro das empresas – entre elas, P&G, Medley, Novartis e Hospital Albert Einstein. Segundo a empresária Camila Jankavski, uma das fundadoras da Cochilo, o serviço in company fornece “atendimento humanizado”, que inclui palestras para conscientizar os funcionários e um aplicativo para agendamento, por uma mensalidade de R$ 3.700.

Os resultados já apareceram: no caso da P&G, o nível de presenteísmo – quando o corpo está presente, mas não a mente – caiu pela metade depois da implantação do programa Stress & Resiliência, do qual a cabine de soneca faz parte. “Tomar um café ou fazer uma pausa muitas vezes não é suficiente”, diz Fernando Akio Mariya, gerente médico da P&G. “O sono no trabalho, além de ser improdutivo, pode ser causa de acidentes. A cabine permite que o funcionário volte revigorado para as suas atividades.”

Hoje nomes de peso têm manifestado interesse pela proposta, como Grupo Ultra, Gol e Danone. Nem sempre foi assim. “O embrião do negócio, que surgiu em 2012, já era fazer com que o bem-estar entrasse nas empresas. Mas havia muito preconceito. Os executivos pensavam: ‘Vou pagar para o meu funcionário dormir?’”, lembra Camila. O cenário foi mudando até atingir o ponto de virada em 2019, quando o número de companhias parceiras cresceu seis vezes. O objetivo agora é incorporar a sesta à cultura brasileira. “Para isso, as cabines precisam estar espalhadas por todos os lados. Estamos negociando com estacionamentos de shoppings, prédios comerciais e coworkings”, completa a fundadora.

Reportagem publicada na edição 76, lançada em abril de 2020

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