A personalidade adorável desta jovem fez dela a favorita entre todos da família. Então foi decidido que o vinhedo receberia seu nome, Adrianna. O pedaço de terra especial acabaria por se tornar parte da realização do sonho de seu pai: mostrar ao mundo que a Argentina poderia fazer alguns dos melhores vinhos do mundo.
Como sua filha mais nova, Adrianna, seria a inspiração para um de seus maiores vinhedos, sua filha mais velha, Laura, se juntaria a ele para administrar Catena Zapata e não só abrir um caminho no mundo dos vinhos finos, mas também levar a ideia do sentido de local (também conhecido como terroir) e o conceito de produções ‘grand cru’ para outro nível de pesquisa e discussão.
Enquanto Adrianna caminhava pelos vinhedos com seu pai, sua irmã mais velha, Laura, se formava em medicina nos Estados Unidos – onde seguiria para concluir a residência em um hospital da Califórnia. Hoje, quando ela é apresentada como doutora Laura Catena, o título não apenas representa sua dedicação à educação e pesquisa, mas também muitos anos como médica de emergência em tempo parcial, enquanto também equilibrava as idas e vindas entre Califórnia e Argentina, criava filhos e administrava uma das vinícolas familiares mais respeitadas do mundo. Mas inicialmente esse não era o plano: enquanto estava na universidade, ela queria salvar o mundo e pensava que não havia forma melhor para cumprir tal missão do que dedicar sua vida à medicina.
Apesar de respeitar o pai, Laura tinha o desejo de encontrar seu próprio caminho no mundo – algo considerado uma revolução para uma mulher argentina nos anos 1990. Ela conheceu bem os Estados Unidos quando Nicolás passou algum tempo como professor visitante de economia na Universidade da Califórnia, Berkeley, no início dos anos 1980, enquanto ela terminava o ensino médio na Califórnia. Foi um bom momento para deixar de morar na Argentina, pela instabilidade política e econômica, e Laura teve a chance de aprender a falar inglês fluentemente (e eventualmente francês), e ao longo do tempo encontrou seu caminho para a medicina.
Quando Laura se juntou oficialmente a seu pai para ajudar a administrar a Bodega Catena Zapata em 1995, ela também fundou o Catena Institute naquele mesmo ano, já que muitas coisas sobre vinhas e vinificação eram baseadas mais em informações anedóticas do que em pesquisas confiáveis. Uma das coisas que acabou refutando foi uma declaração do gerente do vinhedo de seu pai, que dizia que uvas como Malbec e Cabernet Sauvignon nunca amadureceriam em altitudes elevadas como no vinhedo Adrianna. E assim Laura, junto a especialistas de vários campos científicos, partiu em uma missão para estudar todos os aspectos dos vinhedos e vinhas da empresa, além dos processos de vinificação e o produto final.
Recentemente o Instituto Catena divulgou um relatório que mostra resultados positivos em alguns de seus principais locais com a variedade Malbec. Ela argumenta que a ideia de terroir (ou um vinhedo ‘grand cru’) não deve ser apenas associada a lugares lendários como Bordeaux e Borgonha, mas que alguns dos vinhedos de alta altitude da Argentina – nos quais a família Catena tem estado na vanguarda do cultivo de videiras em alturas extraordinariamente elevadas -, também devem ser considerados locais que produzem vinhos distintos e complexos, com estrutura e acidez para envelhecimento a longo prazo.
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Desfazendo estereótipos
Mas quando se trata do potencial dos vinhos finos da Argentina, Laura não tem dúvidas de que, depois de mais de 25 anos de pesquisa e vinificação, “que certos terroirs nacionais podem fazer vinhos de elegância e caráter, que têm estrutura, acidez e complexidade, envelhecer por várias décadas e talvez até um século.” Até hoje, ela se encontra constantemente com compradores de vinho, sommeliers e educadores para discutir abertamente suas próprias experiências ao falar sobre os grandes rótulos da Argentina que não são oficialmente designados, em comparação com os ‘grand cru’ oficialmente designados, como aqueles em Bordeaux e Borgonha.
Alguns acham que um vinho que tem a classificação de ‘grand cru’ no rótulo é fácil para os bebedores de vinho entenderem imediatamente como sendo um bom vinho. Mas, felizmente, com o passar do tempo, mais e mais consumidores estão abertos a aprender mais sobre vinhos de alta qualidade da Argentina, bem como de outros lugares fora de regiões vinícolas historicamente celebradas – embora às vezes eliminar estereótipos possa ser um processo longo.
Depois de 25 anos equilibrando uma vida entre a Califórnia e a Argentina, criando filhos e trabalhando meio período como médica de pronto-socorro enquanto assume a responsabilidade de criar um mercado mundial para os vinhos argentinos, ela ainda reúne profissionais do vinho e especialistas científicos para conversas complexas sobre como os rótulos nacionais são vistos em todo o mundo.
Ela diz querer ouvir as questões que precisa abordar, já que está focada em se esforçar para que a produção argentina seja sempre relevante e que seus vinhos superem as expectativas. Com o tempo, Laura percebeu que era importante para ela salvar o mundo onde cresceu e isso significava que ela precisava participar da melhoria dos vinhedos, práticas de vinificação e tornar-se a voz de um país para que as crianças argentinas pudessem crescer nos vinhedos como ela -, possibilitando que os viticultores e produtores de vinho tenham um futuro. Hoje, ela não poderia estar mais feliz por continuar a trabalhar ao lado de seu pai para manter viva a indústria do vinho na Argentina.
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Ela entende que cada pequeno passo à frente deve ser visto como uma vitória para continuar avançando e evoluindo continuamente para produzir vinhos honestos e de alta qualidade. E logo no momento em que ela lidera uma discussão recente sobre o conceito de vinhedos “grand cru”, um famoso mestre sommelier usou o termo “parcela” – usado na Argentina para se referir a grandes vinhedos que expressam qualidades distintas – e o rosto de Laura se iluminou imediatamente ao saber que mais uma grande vitória havia sido conquistada no caminho de conseguir o respeito que os vinhos argentinos merecem com tanto direito.
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