
Uma das maiores referências gastronômicas do mundo, completando 125 anos em 2025, o Guia Michelin revelou na noite desta segunda-feira (12) os novos restaurantes estrelados em São Paulo e no Rio de Janeiro, em cerimônia repleta de chefs renomados no hotel Rosewood.
O Brasil segue sem nenhum nome no patamar máximo de três estrelas, mas cinco dos seis restaurantes com a dupla distinção em 2024 mantiveram sua posição: D.O.M (São Paulo), Oro (Rio de Janeiro), Tuju (SP), Evvai (SP) e Lasai (RJ) – este último também eleito o melhor restaurante brasileiro pelo ranking 50 Best Latin America no ano passado.
Enquanto os duplamente estrelados não tiveram nenhuma adição este ano, a lista de restaurantes com uma estrela ganhou quatro integrantes: Kanoe (SP), Ryo Gastronomia (SP), Oseille (RJ) e Casa 201 (RJ). Outras 15 casas mantiveram a distinção da edição anterior, como Murakami (SP), Maní (SP), Cipriani (RJ) e Fame (SP), totalizando 20 restaurantes com uma estrela Michelin.
A seguir, a Forbes te conta o que os novos restaurantes Michelin de 2025 têm de especial para ganharem a tão cobiçada estrela do guia:
Kanoe

Tadashi Shiraishi tempera e resfria seu shari com esmero na frente dos comensais no Kanoe
Em um balcão minimalista para apenas oito pessoas no Jardins, em São Paulo, Tadashi Shiraishi exalta a arte de fazer sushi em um dos omakases – espécie de menu confiança, com pratos da escolha do chef – mais especiais e exclusivos do país, a R$ 1.300 por pessoa (sem contar a ótima carta de bebidas, com saquês e borbulhas premium). São de duas a três horas de pura hospitalidade japonesa e atenção aos detalhes, desde os hashis esculpidos à mão e buscados pessoalmente pelo chef no Japão até o gorduroso atum bluefin e a suculenta sororoca do litoral norte paulista, que desembarcam fresquíssimos na casa. Sem falar do arroz, protagonista da noite: os grãos são selecionados um a um a pinça e temperados diante dos nossos olhos, com vinagre de altíssima qualidade.
É uma orquestra regida com rigor pelo paulistano neto de imigrantes japoneses, resultado de 20 anos de carreira e a chance de ser pupilo do chef japonês mais famoso do mundo: Nobuyuki Matsuhisa, fundador do Nobu. Depois de ter um restaurante em Miami em 2018, Tadashi voltou ao Brasil para abrir um endereço onde pudesse resgatar a cultura e o legado familiar de sua família, especialmente sua vó. É ela, cujo nome artístico batiza o restaurante, que inspira receitas como um caldo de frango e legumes – “uma simplicidade cheia de complexidade”, como descreve o chef, agora detentor de uma estrela Michelin.
Oseille
Quarta geração de uma das famílias mais importantes da culinária francesa, Thomas Troisgros se dedica à alta gastronomia no Oseille sem a pretensão de ser sisudo ou conceitual. Seu mantra é fazer comida gostosa para uma bancada de 16 pessoas por noite em Ipanema (RJ). Para isso, no seu menu de sete passos, usa técnicas francesas a nível de excelência e abusa (do melhor jeito possível) de manteiga, molhos caprichados e acidez na medida – com seu toque autoral, claro. A beterraba assada vem com uma “terra” de chocolate salgado, enquanto a vieira no ponto perfeito leva um ponzu de kombucha de café e a galinha da angola é lambuzada em um molho de mocotó e vinagre. Na sobremesa, por que não misturar crumble de chocolate, sorvete de baunilha e cogumelo paris fresco?
A proposta é que o menu seja divertido – um “fun dining”, como Thomas gosta de chamar, como se estivesse recebendo convidados na cozinha de sua própria casa. Além dos pratos untuosos, o ambiente é vibrante, com a trilha sonora animada. A experiência sai R$ 650 por pessoa (sete pratos), mais R$ 380 com harmonização.
Casa 201
Comandada por João Paulo Frankenfeld, a Casa 201 é um grande laboratório para o chef, formado pelo Instituto Paul Bocuse e com passagem em restaurantes estrelados da França, como Guy Savoy e Gordon Ramsay au Trianon, trazer suas versões de receitas e tradições francesas em nível de excelência, com muito apuro técnico.
Vinte pessoas por noite podem provar seu menu degustação de oito etapas (R$ 590 por pessoa, mais R$ 380 com a harmonização de vinhos brasileiros), que muda a cada três meses. Espere foie gras, ótimos pães de fermentação natural com manteiga, um belo pâté en croûte, charcutaria e deliciosos queijos artesanais. Aliás, a maioria dos insumos é feita in loco: quase 100% dos ingredientes são produzidos internamente, como o chocolate, sorvetes, massas, queijos e embutidos. As carnes são maturadas em casa, e o soro do leite vira doce de leite. A ideia é evitar industrializados, comprando só a matéria prima de pequenos produtores. A diferença na qualidade certamente é sentida no paladar.
Ryo Gastronomia
No reinaugurado Ryo, no Itaim Bibi (SP), o chef Edson Yamashita traduz com precisão e delicadeza a essência da culinária japonesa em um menu que muda a cada estação, respeitando a sazonalidade dos ingredientes. Formado nas escolas rigorosas de Tóquio e Kyoto, onde viveu por dez anos, ele começou sua carreira ainda adolescente no Shin Zushi, restaurante da família. De volta ao Brasil, assumiu o comando da casa e trouxe, com pioneirismo, o conceito de omakase — uma experiência em que o cliente confia ao chef a criação da sequência de pratos do dia. O Ryo nasceu em 2014 dessa bagagem e chegou a ganhar duas estrelas Michelin pela liberdade criativa de Edson, que combinava técnicas tradicionais com ingredientes brasileiros. No novo espaço, um milho confitado pode acompanhar cogumelo Eryngui e creme de tofu, enquanto um aipim aparece ao lado do carapau na brasa, por exemplo.
Tudo é construído em torno da ideia de equilíbrio: de temperatura, textura, acidez e sabor. Pescados robustos, como sardinha e atum Bluefin, se contrapõem a peixes delicados, como garoupa e olhete. O ambiente — renovado depois de uma reforma de dois anos — serve de forma elegante e imersiva um omakase de 10 tempos para oito pessoas por noite no balcão. Custa R$ 1.290, com uma harmonização entre R$ 750 (Standard) e R$ 1.500 (Premium).