“O 20 H.P. está entre os modelos mais importantes e influentes já produzidos pela marca. Como o primeiro Rolls-Royce especificamente destinado ao motorista-proprietário, em vez de predominantemente para uso com chofer, é um ancestral direto de Ghost, Wraith, Dawn e Cullinan. E ao definir o modelo mecânico para as gerações que o seguiram, o ‘Twenty’ também tem paralelos históricos com o Spectre”, explica a empresa, se referindo por último ao seu futuro modelo elétrico.
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Frederick Henry Royce, proprietário de uma empresa de engenharia elétrica sediada em Manchester, construiu seu primeiro carro em 1904. Charles Stewart Rolls, à frente de uma revendedora e oficina baseada em Londres, foi convencido por um amigo comum a ambos a experimentar o automóvel construído por Royce. Rolls reconheceu a superioridade do modelo e logo os dois concordaram em desenvolver uma linha de produtos, que seria vendida sob a marca Rolls-Royce.
A gama começava em um dois-cilindros de 10 cv vendido por 395 libras e chegava a um seis-cilindros de 30 cv e etiqueta de 890 libras. Como muitas marcas de luxo da época, a Rolls-Royce vendia apenas o chassi, que depois recebia carroceria e interior encomendados de encarroçadoras como Brewster, Vanden Plas e Park Ward, entre outras. Assim como o exemplar que atraiu a atenção de Rolls, o 20 H.P. também fora desenhado por Henry Royce.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a empresa transfere seus esforços intelectuais e fabris para produção de blindados e motores aeronáuticos. Quando o conflito acaba, em 1918, Henry Royce – já sozinho no comando da fabricante após seu sócio morrer em um acidente de carro em 1910 – se vê diante de um excesso de capacidade na fábrica de Derby e de um mercado que apresenta uma nova realidade.
“Royce entendeu instintivamente que, apesar de suas circunstâncias agora mais difíceis, esses proprietários estavam acostumados aos padrões de excelência da Rolls-Royce e não esperariam nada menos de um novo modelo, independentemente de seu tamanho e especificação”, relembra a empresa.
O 20 H.P. foi então equipado com um motor de 3,1 litros e seis cilindros em linha, que era menos da metade do 7,5 litros de 50 cv que equipava o Silver Ghost. Para compensar, o 20 H.P. era cerca de 30% mais leve. De resto, o novo modelo da Rolls-Royce era mais fácil de manusear – freios, suspensão e sistema de direção eram nitidamente mais modernos. O modelo ainda atraiu novos consumidores para a marca, para os quais custos de manutenção eram fatores decisivos.
Contudo, o 20 H.P. também foi vítima da incompreensão do seu conceito. Muitos clientes insistiam em acoplar ao seu chassi as mesmas carrocerias pesadas e corpulentas – projetadas a favor de conforto e aparência – que apenas o Silver Ghost conseguia suportar, o que comprometia o desempenho do mais compacto e modesto novato.
Também nasceu com o ‘Twenty’ a filosofia de oferecer apenas dois modelos. Assim, a empresa passava a atender às necessidades de dois grupos de clientes: os que optavam por viajar no banco traseiro e aqueles que preferiam guiar seu próprio carro. Foi assim até pouco tempo atrás, com a dupla Phantom e Ghost.
Sucesso de crítica e público (um dos clientes chegou a escrever para a Rolls-Royce alegando que jamais havia lidado com “nada tão doce” ao volante), o 20 H.P. se despediu em 1929, depois de 2.940 exemplares construídos. Cedeu lugar ao 20/25 H.P. (dotado de um bloco de 3,7 litros), por sua vez suplantado pelo 25/30 H.P. e seu motor de 4,25 litros, em 1935.