A depressão é uma doença – e aqui eu uso uma figura de linguagem – que lança uma sombra sobre os pensamentos, os sentimentos e a percepção de mundo do doente. O mundo dessa pessoa fica alterado.
Ela se manifesta de forma diferente em diferentes pessoas. Algumas sentem uma tristeza profunda, ao ponto de mal conseguirem levantar da cama e encarar o dia. Outras, ficam irritadiças, superansiosas ou perdem o interesse nas coisas mais banais do dia a dia.
A minha experiência com o tratamento de casos de depressão mostrou que são justamente esses companheiros ou companheiras os responsáveis por levar o doente a aceitar que ele ou ela precisa ser tratado. Dado o grau de intimidade e de confiança, são eles que conseguem convencer quem está deprimido a buscar um médico. Boa parte das vezes, são eles quem marcam a consulta e até vão junto ao consultório. E isso, acredite, traduz-se em uma maior efetividade no tratamento.
A boa notícia é que hoje a depressão pode ser tratada ao ponto de o doente ficar estável e ter uma vida normal. Mas é importante que ele siga à risca as recomendações de seu médico. Medicamentos não são milagrosos e levam um tempinho até que mostrem os seus efeitos, mas, quando ingeridos segundo a prescrição, praticamente não levam às famosas recaídas.
Um conselho deste médico: quando estamos em uma relação amorosa com alguém que está lutando para dar conta de sua própria condição, tendemos a prestar atenção redobrada a ele ou a ela. Às vezes, significa dar tanta atenção que acabamos por nos esquecer de nós mesmos. Pratique o autocuidado. Não se esqueça de cuidar do seu corpo e da sua cabeça. O sucesso do tratamento da depressão também está muito ligado ao tratamento da família daquele doente.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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