Diferentemente dos clássicos antidepressivos, que levam entre 15 e 21 dias para apresentarem os primeiros efeitos, este começa a agir em poucas horas, melhorando o humor e os sintomas de quem está doente. Para quem pensa em se matar e quem está deprimido e não consegue ter solução para o seu problema, isso faz toda a diferença.
Nós, médicos, sabemos que alguns pacientes depressivos precisam se submeter a vários tratamentos antes que os efeitos de um deles seja percebido. A possibilidade de ajudar pessoas com esse quadro fazendo uso de apenas uma droga é um avanço importante quando comparamos com os antidepressivos tradicionais.
A escetamina é como se fosse imagem de espelho da cetamina. Igual, mas não idêntica, porque a esquerda de uma das imagens é a direita da outra, digamos assim. A cetamina é um anestésico potente comumente usado há muitos anos por veterinários de animais grandes como o cavalo.
Dois de seus efeitos colaterais são alteração da percepção e euforia. Por isso, por volta dos anos 1990 ela foi “redescoberta”, passando a ser usada por pessoas em clubes e raves porque amplifica as sensações. Não levou muito tempo para que o seu consumo se tornasse abusivo, com todas as consequências maléficas para a saúde que bem conhecemos, entre elas a dependência.
As drogas psicoativas estão bastante ligadas à Psiquiatria. Muitas delas foram estudadas como auxiliares do tratamento de transtornos mentais por muitos anos. Porém, a proibição e a criminalização de algumas delas em quase todo o mundo acabou interrompendo esses estudos. Mais recentemente, as pesquisas voltaram à carga, inclusive em renomadas instituições, como a Universidade Johns Hopkins, dos EUA, e o Imperial College, do Reino Unido.
Um comentário feito em maio de 2020 pelo psiquiatra Alan Schatzberg, da Universidade Stanford, no “American Journal of Psychiatry”, aponta que, dado o estado atual dos estudos, ainda não dá para julgar a relação risco-benefício para pacientes individuais e para a sociedade em geral por ter essas substâncias disponíveis. Ainda há um longo caminho à frente quando se fala do uso delas para o tratamento de doenças mentais.
Se você se interessa por esse tema, gostaria de sugerir o blog “Virada Psicodélica”, do jornalista Marcelo Leite. Ele tem acompanhado de perto os estudos sobre essas drogas e traz informação interessante sobre elas.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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