O ditado diz: pets são parte da família. São mesmo?

6 de dezembro de 2022
Ravi Kumar/EyeEm/Getty Images

Alguns estudos mostram que cães e gatos entendem o que estamos falando. Claro, não como um outro humano, mas sabem o significado do sim e do não, entendem seu próprio nome

Se você tem um animal de estimação em casa, gostará de saber que sim. Uma pesquisa recente que envolveu 16 mil tutores de pets e 1200 veterinários de oito países, incluindo o Brasil, mostrou que a quase totalidade dos cuidadores (95%) dizem ver o seu bichinho como um membro da família.

A incorporação do animalzinho ao núcleo familiar é tão profunda que já se fala em famílias multiespécie, quer dizer, famílias compostas por seres de diferentes espécies. Neste caso, o humano e uma outra espécie (gatos, cães, pássaros e até répteis). Não é raro encontrar pessoas que não estão dispostas a se separarem de seus pets quando o casamento termina e vão à justiça batalhar por custódia (única ou compartilhada).

A ciência vem estudando há bastante tempo os benefícios, para o homem e para o animal, dos vínculos que se estabelecem entre eles. Já se comprovou, por exemplo, que os animais de estimação impactam positivamente a saúde de seus donos e que vínculos fortes estão ligados a menores necessidades de cuidados veterinários.

Eu tenho comprovado isso na prática. Como médico que atende casos graves, alguns dos quais resultam na morte do meu paciente, eu tive de aprender, ao longo dos muitos anos, a me proteger desse abalo emocional causado pela perda da pessoa de quem cuidava. Criei, como se diz na linguagem corrente, uma casca protetora. Sem ela, creio que eu sucumbiria.

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Eis que, aos 68 anos, chega à minha vida um cachorrinho, um Golden ainda filhote. Não é que o homem pragmático, um pouco insensível, estressado pelas demandas de trabalho, vai se transformando progressivamente e alterando algumas de suas rotinas diárias para compartilhá-las com o seu pet?

A minha atividade física matinal agora é feita na companhia do Franc, meu cão. Corremos, caminhamos de forma ritmada e voltamos para casa diferentes. Ele, cansado. Ainda filhote, ele precisa gastar aquela energia toda. Eu, volto mais focado. Durante ao nosso passeio, tenho tempo de me preparar mentalmente para o trabalho, para as reuniões que terei de enfrentar. Retorno para casa também mais calmo. Esse ritual se repete mais duas vezes ao dia.

Percebi que, por causa do Franc, alterei o meu horário de dormir. Vou para a cama mais cedo, no mesmo horário que ele, e acordo também mais cedo, para fazermos juntos o nosso exercício. Entramos em sintonia.

Alguns estudos mostram que cães e gatos entendem o que estamos falando. Claro, não como um outro humano, mas sabem o significado do sim e do não, entendem seu próprio nome. Cães, por exemplo, são capazes de captar nossas emoções.

Não é por acaso, portanto, que cachorros são usados como suporte emocional para pessoas com problemas de saúde mental. O amor incondicional que eles oferecem a nós ajuda, e muito, a dar um senso de estrutura. Eu digo: o amor que sentimos por eles também é incondicional.

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

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