Primeiro, porque se sabe que a má saúde mental dos filhos está relacionada à má saúde mental dos pais. Estes são uma referência primordial na vida de seus filhos porque são os primeiros cuidadores com quem essas crianças têm contato. E como referências, influenciam diretamente no comportamento dos filhos. Eu gosto muito de destacar essa frase, que traz uma grande verdade: “o exemplo não é a melhor forma de ensinar algo a alguém, é a única”.
Assim, pais com problemas de saúde mental que relutam em buscar ajuda, que não buscam ativamente melhorar a sua condição, que cuidam mal da sua saúde mental, no fim das contas estão servindo como espelho para essas crianças e adolescentes. Não por acaso crianças com pais com problemas de saúde mental são mais propensas a não só terem problemas elas mesmas, mas também questões de saúde física.
É função dos pais monitorar tudo o que se relaciona ao tema saúde, inclusive saúde mental. Claro, eles não têm a chave mágica de impedir que seus filhos eventualmente sofram com alguma questão mental, mas eles conseguem, sim, fazer duas coisas que são fundamentais:
1. fazer o diagnóstico precoce – Como assim? São os pais as primeiras pessoas capazes de perceber quando algo não vai bem com seus filhos. Claro, os pais não são especialistas e nem têm a obrigação de dar nome aos bois, mas eles são capazes de perceber quando alguma coisa está esquisita com o seu filho;
2. fazer primeiro encaminhamento – Com que especialista esse pai deve conversar? Qualquer um, qualquer um mesmo. Pode ser o pediatra do filho, o terapeuta do filho ou dele mesmo e até a diretora ou o professor da escola. Eles poderão ajudar a clarear a questão e, aí sim, buscar uma pessoa que possa acompanhar e tratar aquela criança ou adolescente.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.