No início deste mês, o INCA (Instituto Nacional de Câncer) apresentou dados de um estudo que revela uma possível queda da mortalidade por tumores malignos no Brasil até o fim desta década. Os pesquisadores comparam as mortes registradas no país entre 2011 e 2015 com as projeções de óbitos por câncer de 2026 a 2030. O resultado mostra uma possível redução de 12% na probabilidade em homens, e de 4,6% em mulheres.
Os números levantados pretendiam responder à seguinte pergunta: o Brasil conseguirá cumprir as metas de desenvolvimento sustentável para o câncer? Essas metas estão alinhadas com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da Organização das Nações Unidas (ONU). O desafio é reduzir em um terço a mortalidade entre indivíduos de 30 a 69 anos por doenças crônicas não transmissíveis.
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Nesta linha, podemos destacar uma boa notícia para um dos tumores mais incidentes no país. O estudo indica uma previsão de queda de 28% nas mortes por câncer de pulmão entre os homens. Com certeza, um efeito de políticas públicas de redução do tabagismo realizadas há décadas aqui no Brasil.
No entanto, vemos que este resultado tem sido mais efetivo para os brasileiros do sexo masculino. As taxas de fumantes entre as brasileiras não têm diminuído na mesma intensidade. Para as mulheres, segundo o levantamento, a projeção é de aumento de 1,1% na probabilidade de morte prematura por câncer de pulmão.
Ainda para as brasileiras, a estimativa traz uma possível redução de 11,5% na mortalidade prematura por câncer do colo do útero, um dos tumores femininos mais prevalentes e evitáveis. Chama atenção que, mesmo neste cenário mais “positivo”, as mortes por esta neoplasia na região Norte devem permanecer bastante altas, com projeção de 25 óbitos a cada 100 mil mulheres.
Para o câncer de mama, a previsão é de estabilidade, com perspectiva de queda de mortalidade para os tumores de próstata.
No entanto, para os cânceres de cólon e de reto, o segundo em incidência entre homens e mulheres, probabilidade de óbito prematuro por câncer entre pessoas de 30 a 69 anos pode ter um aumento de 10% até 2030. Os dados são especialmente ruins entre os homens da região Norte e as mulheres na região Nordeste.
Os pesquisadores enfatizam, no artigo, as diferenças regionais em termos de rastreamento, oportunidade de diagnóstico precoce e acesso aos tratamentos. E, principalmente, reforçam a relevância da prevenção primária, com o estímulo à vacinação contra o HPV e hepatite, o controle da obesidade (e a promoção de uma dieta saudável e a prática de exercícios físicos), a diminuição do consumo de álcool e a cessação do tabagismo.
O Brasil deve registrar, segundo o próprio INCA, mais de 700 mil novos casos de câncer apenas em 2023. Precisamos olhar todos esses números com necessária moderação, aliando prevenção e cuidados para não termos apenas menos óbitos, mas também menos diagnósticos.
Fernando Maluf é cofundador do Instituto Vencer o Câncer e professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
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