O que 2023 nos ensinou sobre saúde mental

19 de dezembro de 2023
Getty Images

Ano de 2023 ensinou muito sobre saúde mental

Esta coluna se despede de 2023 com um apanhado pessoal do que o ano nos trouxe de ensinamentos a respeito de saúde mental.

Esta é a minha listinha:

1. Problemas de saúde mental estão muito mais próximos a nós e aos nossos queridos do que imaginávamos. Por queridos não me refiro só aos familiares e amores, mas aos colegas de trabalho, parceiros de projeto, amigos

O ano de 2023 nos trouxe de forma contundente a constatação de que problemas de saúde mental têm os mais diferentes tamanhos e formas; ou seja, eles são diversificadíssimos tanto em sintomatologia quanto em intensidade. Por exemplo: tristeza, medo, raiva são emoções comuns, e todos nós as experimentamos em algum momento de nossos dias. Para algumas pessoas, entretanto, essas emoções podem ser tão intensas ou durar tanto tempo que passam a trazer prejuízo para elas ou para quem vive no entorno delas.

Dá para perceber, portanto, que a linha entre uma boa saúde mental e uma não tão boa muitas vezes é tênue e que ter um problema não significa obrigatoriamente que alguém tenha sido diagnosticado por um médico. Saúde mental prejudicada não é necessariamente sinônimo de transtorno mental, mas ambos trazem prejuízo para a vida.

2. As telas têm um enorme potencial aditivo e nem nós, médicos, estamos imunes ao risco de nos tornarmos dependentes

Com a adicção, vem um enorme prejuízo à saúde mental, como problemas com o sono, ansiedade ou sensação de vazio quando longe de uma tela, menor capacidade de permanecer focado em uma tarefa ou assunto, só para citar alguns dos sintomas mais comuns.

Não há como negar que a imensa maioria das pessoas passa boa parte do dia diante de telas. Muitos, inclusive, as usam como ferramenta de trabalho. Penso que esse é um fato que dificilmente vai mudar.

2023 nos ensinou que é preciso fazer uso responsável do digital. O que significa isso? Significa limitar o tempo de uso de celulares, tablets e notebooks no tempo livre de cada um. Será que é tão urgente e necessário levar uma tela para a mesa, na hora da refeição, ou para o quarto, na hora de dormir? Será que é tão imprescindível olhar a mensagem que chegou quando se está conversando com um amigo, namorada ou namorado, familiar ou quando se está em uma reunião de trabalho?

Fazer uso das telas de forma saudável significa, por exemplo, escolher estar presente quando você está com pessoas. Significa desfrutar verdadeiramente da presença delas.

Cito novamente um exemplo que aconteceu comigo dois anos atrás. Fui convidado, juntamente com minha mulher, a passar um fim de semana na casa de amigos. Lá, não havia sinal de telefone ou internet. A experiência que tivemos foi riquíssima. Recuperamos um tempo em que a alegria era o estar junto de verdade, na presença física do outro. Rimos e nos divertimos muito.

3. Finalmente, este ano nos ensinou que é preciso olhar para a gente

Se não fizermos isso por nós mesmos, quem o fará? Isso é o que eu chamo de autocuidado. É hora de parar um pouquinho e refletir sobre o que queremos em 2024, mas, principalmente, é hora de começar a construir hábitos saudáveis de vida. São eles que permitirão pavimentar o caminho da prevenção de doenças físicas e mentais. Se você é sedentário, se a base da sua alimentação são produtos ultraprocessados, se você toma um drinque todos os dias quando chega em casa do trabalho, se você não faz bom uso do seu tempo livre, que tal dar um primeiro passo em 2024 para mudar isso?

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.