Para chegar lá, os planos incluem a abertura de quatro restaurantes por ano no país e uma unidade a cada 12 meses nos Estados Unidos. Nova York é o segundo destino, se a operação de Miami der certo. Nem o baixo crescimento do PIB, a inflação alta e as incertezas em relação ao futuro econômico do país devem tirar os pés do empresário do acelerador. “Tenho duas alternativas: agarro-me a todos esses índices, fico pessimista e não abro mais nada. Ou, continuo investindo e empreendendo como sempre fiz”, diz Afranio, de 57 anos.
Loucura? Não para o homem que ficou conhecido por “democratizar o consumo de camarão” no país e que agora é procurado por grupos como o Iguatemi. A família Jereissati conseguiu e a marca servirá como âncora de três de seus shoppings: Ribeirão Preto (acaba de inaugurar), Campinas e Market Place. “Só a unidade da JK, que recebe por volta de 45 mil pessoas por mês, utiliza 7 toneladas mensais de camarões. Nossos pratos são servidos sem mesquinharia”, garante Ronald Aguiar, sócio de várias unidades da rede.
Se o Coco Bambu transformou-se em um incontestável fenômeno brasileiro desse tipo de negócio, isso se deve, em parte, ao gordo e crescente mercado de food service brasileiro (alimentação fora de casa), um negócio que movimentou R$ 262,4 bilhões no país em 2013. Segundo Sergio Molinari, sócio-diretor da área de food service da GS&MD – Gouvêa de Souza, a alimentação fora de casa cresceu uma média de 12% ao ano nos últimos oito anos, embalada por duas variáveis que têm atingido os países emergentes: urbanização e renda do trabalhador. “Enquanto houver crescimento de um dos dois, esse mercado continuará avançando.”
Mesmo em anos como este de economia retraída, o food service deve crescer 3% ante os 0,3% do PIB brasileiro. “De tudo que é gasto com alimentação hoje, a alimentação fora de casa já representa 32%. Antigamente, esse número era de 20%. Já nos Estados Unidos, onde se come muito fora de casa, a taxa é de 49%”, observa.
Mas e daqui para frente, tendo em vista que a urbanização já cresce a uma taxa mais lenta e que a renda média do brasileiro anda perdendo o fôlego? “O meu número mágico para os próximos anos é de crescimento de 6% a 7% por ano, o que é muito e torna esse negócio um ótimo negócio”, diz Molinari. Atualmente, cerca de 70 milhões de refeições por dia acontecem fora de casa – dessas, apenas 20% nos refeitórios das empresas.
Curiosamente, embora as grandes redes sejam as mais visíveis do público, 93% dos estabelecimentos que servem desde um café até uma refeição completa são independentes. Ou seja: geralmente são negócios familiares com apenas um endereço, modelo completamente diferente dos Estados Unidos, composto primordialmente por redes. E com a crise do subprime em 2008, essas redes passaram a olhar para mercados em crescimento e se depararam, à época, com um Brasil bombando, com o desembarque de 40 milhões de pessoas à classe C e 16 milhões de novos consumidores nas camadas A e B. “E todos eles ávidos por novidades, com desejo de consumir em estabelecimentos mais qualificados”, observa Molinari.
Esse conceito levou o empreendedor cearense a receber convites para palestrar em setembro no MBA de business da Universidade de Colúmbia, e também em Harvard e no MIT. O que atraiu centros de ensino de tamanho renome? O fato de o casal ter aberto, em 1985, uma pastelaria de 20 metros quadrados e tê-la transformado em um complexo gastronômico de 10 mil metros quadrados na capital cearense, empreendimento que, anos mais tarde, levaria à ideia de criar o Coco Bambu. “Era para eu falar por uma hora sobre o meu case, mas acabou durando 3h30 de tantas perguntas que me fizeram”, conta o simpático Barreira.
Mas não foram só os cearenses que enxergaram o tamanho do apetite dos brasileiros. A rede Giraffas, nascida no Distrito Federal em 1981, transformou- se em um negócio musculoso com grandes chances de gerar uma receita de R$ 1 bilhão em um futuro próximo. Sua arma? A aposta em pratos com preços acessíveis e que saciem os olhos e a barriga. Esse é o caso do churrasco, um de seus best-sellers. Composto por arroz, feijão, farofa, salada, uma coxa de frango, uma linguiça e um bife de maminha, esse prato substancioso é um dos mais de 30 que transformaram os sanduíches em coadjuvantes do faturamento – apenas 20% das vendas do Giraffas vêm deles.
O Giraffas atrai muitas mulheres das classes B e C+. Seus pratos são fruto de uma parceria com o Marfrig (no uso da carne) e a BRF (frango). Em dezembro, a companhia atingirá 400 unidades em operação – cerca de 70% delas instaladas em shoppings e 11 delas nos Estados Unidos – e uma receita de R$ 790 milhões. Para 2015, o plano é abrir 45 portas do Giraffas e mais 20 do Tostex, marca de sanduíches tostados que foi adquirida e hoje tem seis unidades abertas. A receita no ano que vem deve chegar a R$ 900 milhões – sendo R$ 20 milhões de Tostex. “Nosso mercado se expande a cada ano. A estagnação é um problema bem longe de acontecer”, garante Alexandre Guerra, CEO do Giraffas.
Os casos do Coco Bambu e do Giraffas não são isolados. A maior Pizza Hut do mundo, seja em faturamento, valor e clientes recebidos, fica no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP). “No McDonald’s, a unidade do Shopping Itaquera (SP) é a terceira maior receita do mundo. Já no Outback, nove dentre as dez unidades que mais faturam no mundo são brasileiras”, conta Molinari.
Como o Eataly, que depois de Roma, Gênova, Turim, Milão, Florença, Nova York, Tóquio, Dubai e Istambul, deve desembarcar no Brasil no primeiro bimestre de 2015, em uma parceria com o grupo brasileiro St Marche. A primeira unidade do complexo gastronômico italiano com mercado gourmet, livraria, pizzaria, salumeria, confeitaria, Nutella bar, cursos, dentre tantas outras opções, será aberta em São Paulo – mais especificamente na Avenida Juscelino Kubitschek em um espaço de 4 mil metros quadrados.
O grupo mantém, desde 2014, uma casa em Itu, com a bandeira “Maccaroneria di Gragnano” – mas o empreendimento paulistano será o primeiro a usar a marca “Eataly”. Em breve, o famoso chef inglês Jaime Oliver também deve inaugurar o Jamie’s Italian no bairro do Itaim, em São Paulo, dando sequência à invasão de marcas estrangeiras que não param de se instalar no país, como o Red Lobster, o P.F. Chang’s, o Olive Garden, a Cheesecake Factory (sem data definida), a Johnny Rockets e Vapiano. Isso sem falar nos negócios locais ou estrangeiros que já atuam há mais tempo por aqui como Applebee’s, Hooters, Subway, Bob’s, Burger King, IMC (International Meal Company, que é dona de marcas conhecidas como Viena e Frango Assado), Habib’s e Companhia Tradicional de Comércio (dona de bares como o Pirajá), dentre tantos outros nomes.
Depois de tanto vivenciar as filas do Outback e de experimentar a costelinha do Tony Roma’s – rede que nasceu em 1972 no norte de Miami e se define como a pioneira nas tradicionais baby back ribs –, os empresários e amigos Carlos Passos (da área de manutenção de aeronaves comerciais) e Carlos Miranda (com negócios de alimentação no ABC paulista) resolveram trazer ao Brasil a marca de casual dining hoje presente em 150 países.
Já fora do país, o Tony Roma’s virou um endereço assíduo dos brasileiros. “Em Orlando, em época de férias, 55% dos clientes do restaurante da International Drive são brasileiros. No Chile, os clientes brasileiros passam de 50%. Em Las Vegas, a casa recordista em vendas da marca no mundo, há um percentual enorme de brasileiros e cardápio em português”, conta Passos. A meta da dupla é ter 30 lojas no Brasil em um prazo de dez anos. Para tanto, será necessário alocar R$ 100 milhões no projeto. Para isso, Passos encontra-se em conversações com investidores em potencial. O apetite dos brasileiros é um dos motores que prometem movimentar a economia em 2015.