A CEO que luta pela igualdade de gênero na tecnologia

30 de agosto de 2017
Reprodução/FORBES

Com o objetivo de elevar profissionais do sexo feminino no campo da tecnologia, a GIT é movida por uma rede de mulheres (e homens) que, ativamente, advogam por jovens mulheres na área. (Reprodução/FORBES)

Com uma onda de escândalos explodindo no Vale do Silício, é cada vez maior a dúvida de como as empresas de tecnologia, especialmente suas lideranças, tratam suas funcionárias e, principalmente, como elas, que estão moldando o futuro, planejam ajustar seu comportamento.

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No entanto, 10 anos antes do email sobre a falta de diversidade de James Damore, do Google, e da exposição perturbadora de Susan Fowler, ex-funcionária da Uber, Adriana Gascoigne também se encontrou envolta em um ambiente de trabalho masculino desconfortável quando trabalhava em uma startup – uma história de vida que é familiar demais nos dias de hoje.

Frustrada com a falta de cultura em empresas de tecnologia e com o desejo de se conectar a outras mulheres da indústria, Adriana fundou a Girls In Tech, uma organização sem fins lucrativos que oferece oportunidades educacionais, profissionais e de networking para meninas e mulheres ao redor do mundo. Com o objetivo de elevar profissionais do sexo feminino no campo da tecnologia, a GIT é movida por uma rede de mulheres (e homens) que, ativamente, advogam por jovens mulheres na área por meio de tutorias, da competição de pitch AMPLIFY (que ensina a transmitir a proposta de valor do seu negócio em um curtíssimo espaço de tempo), acampamentos de tecnologia e, em breve, uma plataforma que conecta empreendedoras mulheres a investidores anjo.

Para comemorar uma década de sua fundação, Adriana conversou com FORBES sobre cenários empresariais, as necessidades dos mercados emergentes e a dinâmica das mudanças nas empresas de tecnologia.

FORBES: O que a indústria da tecnologia pode fazer para atrair talentos realmente diversos?

Amanda Gascoigne: É mais do que apenas contratar um número maior de mulheres ou destinar dinheiro para um executivo especializado em diversidade e inclusão. Trata-se de construir uma cultura que seja convidativa e crie um ambiente confortável para que mulheres prosperem. Na Salesforce, por exemplo, o CEO e fundador, Marc Benioff, e seu time de recursos humanos investiram tempo em uma grande investigação para ter certeza de que as mulheres estivessem recebendo o mesmo que seus colegas homens nos mesmos cargos. Depois de US$ 3 milhões, eles conseguiram atingir essa igualdade. Há maneiras mais robustas de, quantitativamente, monitorar progresso e essa é uma grande parte da criação da cultura. No fim, liderar pelo exemplo é um aspecto-chave. Se você tiver um líder que é muito positivo, encorajador, acolhedor, desafiador e que constrói uma empresa com base na integridade, você verá isso refletido em seus funcionários.

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FORBES Quando entram no mundo empreendedor de hoje, qual é a adversidade mais comum que as mulheres encaram?

Amanda: Acesso ao capital. É muito difícil para as mulheres levantar dinheiro em um mundo masculino. O mundo de investimentos ainda é muito patriarcal e há poucas mulheres investidoras. Nós precisamos mudar isso rapidamente. Elas terão a mente mais aberta sobre produtos e serviços porque podem utilizá-los. Investidoras anjo apostando em outras mulheres é uma situação que pode criar ótimos exemplos e estabelecer um legado de corrente do bem, mas, obviamente, de uma maneira que seja estratégica com seus objetivos de negócios.

É realmente difícil crescer em uma empresa quando você não tem um impulso. É pedir muito de mulheres em um mercado emergente que sacrifiquem as economias de suas vidas para começar uma empresa quando não sabem se essa empresa será bem-sucedida.

FORBES: Como a GIT inspira os homens a criarem ambientes de trabalho abertos, seguros e inovadores?

Amanda: Nós convidamos os homens a estarem completamente envolvidos. E eles estão administrando alguns dos capítulos da GIR, sendo mentores, juízes em nossa competição de pitches e liderando as esclarecedoras conversas em nossos acampamentos. São cerca de 10 palestrantes da Catalyst Conference. Os homens ajudam ao serem aqueles moderadores no quadro de diretores que asseguram que todos recebam uma oportunidade de falar e dividir suas ideias.

FORBES: Que tipo de impacto as iniciativas da GIT têm em ecossistemas, especialmente nos de países subdesenvolvidos?

Amanda: O maior impacto que temos em mercados emergentes e regiões carentes é educação e direitos humanos. Educação para meninas e mulheres é extremamente importante porque, esquecendo a parte da tecnologia, se você não tiver seus direitos humanos básicos como mulher, você não tem nada. Em regiões em que há trabalho infantil, tráfico de mulheres ou prostituição, às vezes elas não têm escolha – e nós precisamos dar essa chance.

O “Hacking for Humanity” da GIT é uma competição global realizada em 25 cidades que une mulheres para criar apps de inovação social em saúde, educação, meio ambiente, segurança e comunicação. Isso as estimula a aproveitar seu lado técnico – assim como seu lado acolhedor – para criar uma corrente do bem e ajudar a resolver problemas sociais, tanto domésticos quanto globais. É uma oportunidade para pessoas em regiões mais desenvolvidas do mundo de ajudar a construir tecnologias que vão resolver problemas em mercados emergentes.