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“O Masa chega, olha o relógio de pulso e me diz: ‘Sinto muito, mas só tenho 12 minutos’”, diz Neumann. Depois de uma volta de exatamente 12 minutos, Son disse que precisava ir embora. Mas ofereceu a Neumann a oportunidade de acompanhá-lo em seu carro. Neumann agarrou seu material de vendas e pegou uma carona que viria a render US$ 20 bilhões.
No fim da carona, Son assinou o esboço do iPad, traçou uma linha ao lado e deu a caneta a Neumann. “Ainda hoje, fico arrepiado só de pensar naquilo”, diz Neumann. “Meia hora depois, ele me manda isto por e-mail.” Neumann acessa em seu iPhone uma foto do contrato “de guardanapo” digital – um emaranhado de linhas esquematizando uma parceria global, com a assinatura garranchada de Neumann e, ao lado, a de Masa.
Depois de passar pelos advogados, a proposta virou um acordo de duas partes: a SoftBank investiria US$ 3 bilhões diretamente na WeWork (US$ 1,3 bilhão por meio de uma oferta de compra de ações em poder dos funcionários e US$ 1,7 bilhão em novas ações). Um valor separado de US$ 1,4 bilhão seria dividido entre três entidades novas, destinadas a expandir a WeWork na Ásia: WeWork Japan, WeWork Pacific, WeWork China. A equipe de Neumann montaria e administraria os escritórios, enquanto a SoftBank trataria dos relacionamentos locais. Avaliação: US$ 20 bilhões. A WeWork, que combina imóveis, hospitalidade e tecnologia, valia o mesmo que a operadora de hotéis Hilton Worldwide e mais do que a Boston Properties, gigante dos imóveis comerciais.
A receita deve chegar a US$ 1,3 bilhões em 2017No fechamento do negócio, em Tóquio, em março de 2017, Neumann estava acompanhado de seu cofundador, o também bilionário Miguel McKelvey, de 43 anos, um musculoso ex-jogador de basquete da Universidade de Oregon. “Masa vira para mim e pergunta: ‘Numa luta, quem vence – o inteligente ou o louco?’”, conta Neumann. “Eu respondo: ‘O louco’. Ele me olha e diz: ‘Você está certo, mas você e o Miguel não são loucos o suficiente’.”
O mais louco de todos parece ser Son, quando você tenta imaginar exatamente o que ele está avaliando em US$ 20 bilhões – cifra superada somente pelo Uber e pelo Airbnb entre as startups norte-americanas. É uma empresa de escritórios… que não é dona de nenhum escritório. Como o Uber e o Airbnb, a WeWork é basicamente uma intermediária que aluga espaço de outras pessoas por atacado e cobra mais caro pelo design bacana, pelos aluguéis flexíveis e pelos serviços inclusos.
O valor agregado da WeWork é a cultura do escritório – numa escala enorme. A empresa começou com um espaço em Nova York em 2010 e já tem 163 espalhados por 52 cidades. Seus mais de 2.900 funcionários gerenciam 900 mil metros quadrados para 150 mil membros que pagam desde US$ 220 ao mês pelo uso de uma área comum até US$ 22 mil por um escritório para 50 pessoas.
“Ninguém está investindo numa empresa de coworking que vale US$ 20 bilhões. Isso não existe”, diz Neumann. “Nossa avaliação e nosso tamanho hoje se baseiam muito mais na nossa energia e espiritualidade do que num múltiplo da receita.” Sobre isso, não há sombra de dúvida: a empresa está a caminho de obter receitas calculadas em US$ 1,3 bilhão em 2017, o que proporciona a ela um índice preço/vendas superior ao que uma empresa convencional em expansão poderia alcançar como múltiplo do fluxo de caixa.
Mesmo antes de Son aparecer, empresas como Benchmark, Fidelity, Goldman Sachs e JPMorgan tinham investido US$ 1,55 bilhão na WeWork com base na ideia de que as medidas tradicionais não refletem o modelo disruptivo dela. “Eles criam um ambiente vibrante e divertido e o enchem de pessoas animadas para energizar a experiência de trabalho”, diz Bruce Dunlevie, da Benchmark.
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Mas atender startups não leva ninguém muito longe. A aposta deles – e em especial a de Son – é que a WeWork pode mudar a maneira como todo mundo utiliza um escritório. Nos últimos anos, a WeWork fechou contrato com companhias como GM, GE, Samsung, Salesforce, Bank of America e Bacardi. Este ano, ela alocou um prédio inteiro para a IBM, e agora as grandes empresas geram 30% do faturamento mensal. Para as empresas em crescimento, a WeWork oferece uma maneira de entrar em novas cidades sem o inconveniente de caçar imóveis, negociar contratos, estruturar o espaço e contratar fornecedores.
McKelvey, por sua vez, foi criado em Eugene, Oregon, num coletivo de mães solteiras ativistas que valorizavam mais as causas do que o dinheiro. Foi uma infância com mudanças frequentes de endereço e cestas básicas do governo.
Estudante superdotado, McKelvey jogou basquete no Colorado College antes de se transferir para a Universidade de Oregon, onde conciliava os esportes de alto nível com o curso de arquitetura.
Os dois se conheceram em Nova York através de um amigo em comum e logo se entrosaram por causa das semelhanças na criação e na tendência à competitividade. Neumann tinha aberto uma empresa de roupas para bebês e sublocava parte de seu espaço para obter renda. McKelvey era arquiteto e Neumann descreveu, empolgado, o plano de alugarem um espaço barato que eles poderiam dividir e locar como escritórios por um valor mais alto.
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