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A gigante norte-americana de tecnologia divulgou na quarta-feira (12) um trio de novos dispositivos com telas maiores e slots para cartões SIM duplos, um recurso que já é conhecido entre os viajantes que precisam trocar de operadora com frequência para evitar taxas de roaming. A Apple optou por colocar dois slots físicos de cartão SIM nas versões Xr e Xs Max dos novos iPhones que serão vendidos na China, enquanto o resto do mundo terá modelos com um slot de cartão SIM físico junto com um “eSIM”, uma versão virtual do chip. A iniciativa marca a primeira vez que a empresa de Steve Jobs muda seu design de hardware especificamente por causa de um país.
Analistas dizem que a Apple precisa fazer isso para cumprir as regulamentações locais. As autoridades chinesas teriam discordado da versão do eSIM porque a tecnologia do telefone criaria brechas para os usuários evitarem que suas atividades fossem rastreadas pelo governo, de acordo com um analista que discutiu o assunto sob condição de anonimato. Para obter um cartão SIM na China, os consumidores são obrigados a visitar uma loja física e fornecer seus nomes e números de identificação. O processo, no entanto, é muito menos rigoroso para os SIMs virtuais, e isso pode resultar em pessoas com identidades falsas ou incompatíveis, diz o analista. A Apple não comentou o assunto.
O ajuste da companhia vai aproximar a marca ao perfil do consumidor chinês. A fabricante de smartphones de Cupertino, na Califórnia, vem perdendo participação no país para concorrentes locais como a Huawei, que vem reduzindo a diferença em relação à Apple no que diz respeito à qualidade. As marcas da região estão vendendo dispositivos semelhantes muito mais baratos, além de criarem outros recursos inovadores.
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“Se você olhar para o hardware, os novos telefones da Apple não são necessariamente melhores do que os modelos Android da China, mas são muito mais caros”, diz Jia Mo, analista da empresa de pesquisa Canalys. “Está ficando cada vez mais difícil para a empresa atrair compradores chineses.”
A Apple já viu sua participação no mercado da China diminuir nos últimos anos. No segundo trimestre de 2018, a fatia de mercado da norte-americana caiu para 6,4%, contra 7,1% no ano anterior. Ao mesmo tempo, a Huawei conseguiu registrar um recorde de 27%, segundo a Canalys.
A perda de participação de mercado, no entanto, não afetou a receita total da Apple. Em vez de aumentar o volume, a empresa concentrou-se na venda de dispositivos mais caros. No terceiro trimestre deste ano, registrou US$ 53,3 bilhões em receita, um salto de 17% em relação ao ano anterior, embora o embarque de iPhones tenha permanecido estável.
“A Apple sabe que enfrenta muito mais concorrência no segmento premium”, diz o principal analista da Gartner, CK Lu. “Por isso, está criando um segmento super premium, elevando os preços ainda mais. Enquanto sua base de usuários atual continuar pagando, ela não precisa se preocupar com a receita.”
Analistas alertam que talvez o maior desafio para a Apple na China seja a crescente tensão comercial entre o país e os Estados Unidos. A mídia estatal já sinalizou que a Apple poderia enfrentar uma reação nacionalista ou ser usada como um “poder de barganha” na disputa. Outras tarifas sobre produtos chineses propostas pelo presidente Donald Trump também podem aumentar os custos para uma ampla gama de produtos da Apple.
“É uma ameaça em potencial”, diz Jia, da Canalys. “As tarifas do lado norte-americano podem prejudicar a Apple, e o ambiente na China também não é muito otimista”, diz o especialista.