Brasileiros: US$ 800 mi em diesel renovável no Paraguai

26 de fevereiro de 2019
Daniel LeClair/Reuters

Segunda etapa terá licenciamento e acordos comerciais para as vendas

O ECB Group, holding de investimentos do empresário brasileiro Erasmo Carlos Battistella, assinou ontem (25) um memorando de entendimento com o governo do Paraguai para investir no país vizinho mais de US$ 800 milhões em unidade de diesel e querosene de aviação renovável. O complexo Ômega Green, que terá capacidade de produção diária de até 16.500 barris dos dois produtos, utilizará no processo o chamado “hidrogênio azul”, obtido por eletrólise da água, mas que demanda carga relevante de energia elétrica — tal tecnologia é ainda inédita em fábricas no Hemisfério Sul, segundo o ECB.

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O objetivo da unidade, que teria capacidade para atender mais de um terço do consumo paraguaio de diesel fóssil, segundo a empresa, é vender a produção do combustível renovável na exportação, obtendo com isso retornos mais altos, possíveis graças a uma demanda de países que têm compromissos para a reduzir emissões de gases poluentes. Segundo Battistella, que também é parceiro da Petrobras em outro empreendimento, a produtora de biodiesel convencional BSBios, o acordo com o governo paraguaio foi assinado após quase oito meses de estudos de viabilidade técnica e econômica.

Uma segunda etapa do projeto vai englobar questões de engenharia, licenciamento e acordos comerciais para a comercialização da produção. Ele também buscará parceiros para financiar a construção do complexo, algo que deve começar entre o final deste ano e o início de 2020. “Vamos ter o ‘funding’ de três origens: uma parte será financiado, uma parte virá de recursos próprios e a outra de parceiros, principalmente fundos de investimentos que estão investindo em combustíveis avançados”, disse Battistella. “Nossa estimativa é trabalhar nove a dez meses em engenharia, a questão comercial e a financeira. Depois teremos 24 meses de obras, esperamos que no primeiro trimestre de 2022 estejamos com a operação em marcha”, destacou.

A unidade deverá ser instalada no município de Villeta, às margens do Rio Paraguai, e contará com um terminal logístico rodoviário e portuário, com escoamento da produção por hidrovia. Ele disse que o governo do Paraguai se comprometeu a dar apoio legal, em um país que, segundo ele, já é bastante “pró-negócios”.

Haverá a necessidade, por exemplo, da criação de um marco legal para combustíveis avançados. “A rota mais utilizada para a produção de hidrogênio é à base de gás natural. No Paraguai, como tem grande produção de energia e disponibilidade de água, vamos produzir o hidrogênio azul, à base de água. A estimativa inicial é que teremos o projeto mais verde do mundo, não tem notícia de tal projeto no Hemisfério Sul”, disse ele.

Questionado se o projeto demandará subsídios para um consumo de 300 megawatts-hora de energia, ele afirmou apenas que está dialogando com o governo daquele país para ter garantia de suprimento. “O Paraguai já tem um preço de energia atrativo comparado com outros países. Estamos trabalhando para a energia elétrica não ser um problema, não há um subsídio, mas há uma estruturação de projeto, para que o preço que é competitivo se mantenha, para dar segurança…”, disse.

Assim como no biodiesel convencional, o diesel e o querosene renováveis utilizarão óleos vegetais, como de soja, e gorduras animais, como matérias-primas. “Estimamos que dentro da nossa conta devemos utilizar 2 milhões de toneladas de soja, há disponibilidade de matéria-prima e as gorduras animais vão ter participação bem significativa”, declarou.

De qualquer forma, a demanda da unidade equivaleria a cerca de 20 por cento da produção paraguaia de soja, considerando dados da safra atual.

O Brasil, que colhe mais de dez vezes a produção de soja do Paraguai, também teria potencial para desenvolver o diesel renovável, algo que começará a ser discutido com a implementação do programa RenovaBio, segundo o empresário.

“Defendo essa tese, de que países do cone sul podem se transformar nos Emirados Árabes dos biocombustíveis, pelo etanol, biodiesel e os avançados…”, afirmou.

O diesel renovável é muito mais versátil que o biodiesel, podendo ser utilizado nos veículos sem a necessidade de mistura com o diesel fóssil.

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