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Isso levanta a questão de por que uma auditoria, realizada na mesma época, garantiu a estabilidade da barragem e por que a mineradora não tomou precauções, como mover um refeitório localizado logo abaixo da estrutura que se rompeu.
A Vale perdeu cerca de um quarto de seu valor de mercado, ou quase US$ 19 bilhões, desde a tragédia. O colapso da barragem ocorreu em 25 de janeiro e foi a mais mortal tragédia de mineração do Brasil e o segundo desastre envolvendo uma barragem de rejeitos de minério de ferro em pouco mais de três anos no país.
“Zona de atenção”
O relatório interno da companhia de outubro de 2018 colocou a barragem da mina Córrego do Feijão dentro de uma “zona de atenção”, dizendo que “deve ser assegurado que todos os controles de prevenção e mitigação estejam sendo aplicados”.
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“Isso não é bom na minha opinião, especialmente se você considerar que essas estruturas são de longo prazo”, disse David Chambers, geofísico do Centro de Ciência em Participação Pública, em Montana, e especialista em barragens de rejeitos.
A mineradora disse em seu comunicado por e-mail que “a criação de um alerta para a alta gestão, sugerida em novembro de 2017, passou a ser estudada dentro do contexto da integração do risco geotécnico ao risco dos negócios da Vale”.
Sob investigação
A Vale disse que as causas da ruptura ainda estão sendo investigadas. A empresa afirmou repetidamente que a barragem foi declarada como sólida por um auditor independente em setembro. A auditoria da alemã TÜV SÜD, que foi vista pela Reuters, disse que a represa atendeu as exigências legais mínimas de estabilidade, mas levantou uma série de preocupações, particularmente sobre os sistemas de drenagem e monitoramento da represa. O auditor fez 17 recomendações para melhorar a segurança da barragem. A Vale disse que as recomendações eram rotineiras e que a empresa atendia a todas elas.
O relatório interno de outubro identifica a liquefação estática e a erosão interna como as causas mais prováveis de uma falha potencial. Ainda não se sabe a causa do colapso da barragem em Brumadinho, mas uma autoridade ambiental do Estado disse à Reuters neste mês que todas as evidências apontavam para a liquefação.
“Nós costumávamos dizer que esses tipos de incidentes de mineração eram atos de Deus, mas agora… nós os consideramos fracassos na engenharia”, disse Dermot Ross-Brown, engenheiro da indústria de mineração que leciona em instituição no Colorado.
A Vale disse que vai investir cerca de US$ 400 milhões a partir de 2020 para reduzir sua dependência de barragens de rejeitos, que armazenam detritos da mineração.