Brasil volta a concentrar bom número de bilionários

6 de março de 2019
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Muitos dos novos integrantes da lista estão envolvidos com atividades comerciais voltadas para o varejo, como Luciano Hang e Luiza Trajano.

O Brasil viveu um período de alerta. O país deixou de ser uma das economias emergentes de melhor desempenho do mundo, passou por instabilidade política e está sendo afetado por uma das maiores recessões de sua história. Em 2014, registrou um recorde de bilionários no ranking mundial publicado pela Forbes: 65. Mas, desde que os problemas começaram, a contribuição brasileira para a lista foi reduzida a 42 nomes no ano passado.

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Mas o Brasil está de volta – pelo menos quando o assunto passa pelos muito ricos. Na nova edição da lista Bilionários do Mundo, divulgada ontem (5) pela Forbes, 18 novos nomes apareceram, alguns dos quais abriram o capital de suas empresas recentemente. No total, a Forbes encontrou 58 bilionários no país que, juntos, somam patrimônios de US$ 179,7 bilhões.

Muitos dos novos integrantes da lista estão envolvidos com atividades comerciais voltadas para o varejo, como Luiza Helena Trajano, a acionista majoritária da rede Magazine Luiza, que tem expandido seu negócio para vendas online.

Outro novo bilionário é Luciano Hang. O empresário da loja de departamentos Havan utiliza fortemente as mídias sociais e estabelece suas filiais exclusivamente em cidades de pequeno e médio portes. “Estou no negócio de atrair pessoas e oferecer uma experiência incrível, que vai além de apenas fazer compras”, diz Hang. Cada loja Havan – hoje mais de 100 estabelecimentos em vários estados brasileiros – foi construída para lembrar a Casa Branca e tem uma réplica da Estátua da Liberdade na entrada.

Isso não é coincidência, já que o empresário é um fã declarado dos Estados Unidos e espera que o novo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, faça do país uma nação grande novamente, a exemplo do que fez seu colega norte-americano, Donald Trump, quando concorreu à Casa Branca em 2016. “Devemos ‘copiar’ os países onde o capitalismo funcionou, como os EUA, e não aqueles copiados pelos nossos governos anteriores”, acrescenta Hang. Assim como Trump e Bolsonaro, o novo bilionário também é fã das mídias sociais, e suas transmissões diárias ao vivo no Facebook podem atingir até um milhão de telespectadores por vez. Hang está usando essa influência online para defender políticas de direita e também para atrair clientes. “Em todo lugar que vou no Brasil, as pessoas me conhecem e pedem novas filiais da Havan”, diz ele.

Outro novo varejista no ranking é Samuel Barata, acionista majoritário da Drogarias DPSP, a segunda maior rede de farmácias do Brasil. O segmento é um dos poucos do país a desafiar a recente recessão, que ainda causa problemas à maioria dos varejistas devido ao lento crescimento das vendas e ao desemprego – o PIB do país cresceu apenas 1,1% no ano passado e atualmente há mais de 12,7 milhões de brasileiros sem trabalho. Ainda assim, a receita da Drogarias DPSP aumentou 11% em 2017, para US$ 2,4 bilhões.

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Três novatos da mesma família construíram fortuna ao se aventurar na área da saúde: Candido Pinheiro Koren de Lima, oncologista que se tornou empresário hospitalar, e seus dois filhos, Candido Pinheiro Koren de Lima Júnior e Jorge Pinheiro Koren de Lima. O trio controla a operadora de planos de saúde Hapvida, cujo IPO, em agosto passado, gerou o maior burburinho no mercado de ações do Brasil desde 2013.

Os irmãos Joesley e Wesley Batista estrearam este ano principalmente graças a um aumento na demanda por carne bovina na China e nos EUA – o que ajudou sua empresa, a JBS, a uma valorização de quase 40% no ano passado. Essa é uma ótima notícia para os Batistas, que em 2016 estiveram envolvidos em um escândalo de corrupção no qual foram acusados ​​de pagar centenas de milhões de dólares em supostos subornos a mais de mil políticos brasileiros. Os irmãos têm mantido uma vida discreta desde então e ainda estão negociando um acordo judicial com as autoridades brasileiras. Até agora, ambos concordaram em pagar uma multa de US$ 3,2 bilhões – seus representantes não comentaram as alegações de suborno devido a discussões ainda em andamento com autoridades do setor público.

Além dos recém-chegados, um brasileiro retornou à lista. Rubens Menin Teixeira de Souza, proprietário da empresa de construção civil MRV Engenharia, apareceu anteriormente na lista da Forbes em 2012, 2013, 2014, e depois ficou de fora do ranking. Ele está de volta neste ano devido, em parte, ao IPO do Banco Inter, um banco varejista fundado pelo bilionário em 1994 que agora opera exclusivamente online e abriu o capital em abril de 2018. Porém, a maior parte do dinheiro de Rubens Menin ainda vem da MRV Engenharia.

“Acredito que o Brasil é um país muito singular e com um enorme potencial”, diz ele. “É uma das três únicas nações continentais, junto com a China e os Estados Unidos, que tem uma população de mais de 200 milhões de habitantes ansiosos para gastar dinheiro em todos os tipos de produtos.” Além de serviços bancários e de construção, ele também está investindo no segmento de mídia – no início deste ano, o bilionário anunciou que está se unindo à Turner International para lançar a CNN Brasil que, assim como o canal norte-americano, estará focada em transmissão de notícias 24 horas por dia.

Há motivos para otimismo em relação ao futuro do Brasil? Rubens Menin diz que sim. “Temos tudo: a força de trabalho, a terra, os consumidores e somos os mais bem organizados de todos os países do BRIC”, diz o bilionário, um entusiasta dos mercados de capitais. “Só precisamos nos concentrar em fazer o que é necessário para enfrentar nossos maiores problemas agora e, em breve, poderemos gerar mais riquezas e distribuí-las adequadamente.”

(Por Anderson Antunes)

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