Como líderes investem no estresse para ter sucesso

26 de março de 2019
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Estresse e ansiedade podem ser ótimas ferramentas se você souber usá-las

“Faça algo que o coloque em desconforto todos os dias”, me disse uma vez meu amigo e ex-companheiro de equipe da Navy Seal, David Goggins. Na verdade, ele usou outras palavras, mas para esta plataforma fornecemos uma versão mais leve. Nós estávamos falando sobre a jornada que ele percorreu para se tornar um dos melhores corredores de ultramaratona e um atleta de recordes mundiais — como se ser um Seal da Marinha não fosse o suficiente. Seu novo livro best-seller, “Can’t Hurt Me” (Não pode me machucar, em tradução livre, ainda sem edição no Brasil), capta perfeitamente essa ideia. Fomos forjados no estresse e na adversidade juntos como colegas do BUD/S (treinamento Seal).

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O significado é mais simples do que parece: estenda os limites da sua zona de conforto — mental e fisicamente. A fortaleza psicológica e física requer treinamento, pois suas qualidades são perecíveis. Nosso conforto é cercado por barreiras móveis. Só precisamos de um primeiro pulo — ou salto com vara, se você preferir esse modo de transporte — sobre a parede. E então você percebe que não é tão assustador lá fora. Claro, pode haver dor e fracasso, mas há também oportunidades mágicas. Quando se trata de liderança em ambientes voláteis, o gerenciamento do estresse é um dos muitos ônus do comando.

Estresse e ansiedade podem ser ótimas ferramentas se você souber usá-las. Nossos instrutores do BUD/S costumavam nos dizer para pegar toda a dor e o sofrimento e transformá-los em agressividade. Com toda a publicidade sobre os impactos negativos do estresse, é fácil concluir que ele é completamente insalubre e deve ser evitado — isso se aplica tanto ao físico quanto ao emocional. Mas eu tenho uma perspectiva diferente, assim como muitos psicólogos bem versados ​​neste campo. Perseguir uma vida livre de estresse pode causar mais aborrecimentos — duplicar os problemas, nos impedir de superar nossas dificuldades e de expandir nossa zona de conforto.

Pense por um momento em um episódio em que você experimentou um crescimento pessoal ou profissional substancial, ou em, que desempenhou máximo desempenho. Como concluir uma corrida de longa distância, construir um negócio, ser aceito na universidade dos seus sonhos, criar filhos — o que, muitos concordam, é um dos desafios mais gratificantes e dolorosos da vida. O que o levou a aprender e crescer durante essas experiências? Posso apostar que foram os momentos de estresse, sofrimento e luta.

Com base em seu trabalho e pesquisa com executivos, com Navy Seals, com estudantes e com atletas profissionais, os psicólogos comportamentais Alia e Thomas Crum desenvolveram um modelo de três etapas para lidar com a pressão e aproveitar o poder criativo do estresse, minimizando seus efeitos prejudiciais. Um processo crítico não apenas para a liderança, mas para a mudança.

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O modelo é simples:

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Apenas reconhecendo nosso estresse podemos migrar a reatividade dos centros automáticos para os mais conscientes.

PASSO UM: Reconheça

Nós normalmente enfatizamos as coisas com as quais nos importamos profundamente. Quando começamos a nomear esse estresse, nos tornamos mais preparados para enxergá-lo a distância e encontrar soluções para mergulhar nele.

A pesquisa neurocientífica de Matt Leiberman mostra que apenas reconhecendo nosso estresse podemos migrar a reatividade dos centros automáticos para os mais conscientes. Os terapeutas que trabalham com veteranos vítimas de estresse pós-traumático buscam a raiz do problema — em geral, um evento ou acontecimento específico. O método permite que a pessoa reconheça o próprio estresse, o enxergue e, eventualmente, o supere. Isso funciona — eu fiz.

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Focar no que é relevante desencadeia a chamada agressão positiva.

PASSO DOIS: Domine

Como mencionado, costumamos focar nas coisas que são relevantes para nós. Ter essa percepção desencadeia o que eu chamo de agressão positiva — porque no fundo sabemos que as coisas realmente importantes na vida não são fáceis de obter.

Como membro da diretoria da Seal Family Foundation, eu faço visitas a doadores potenciais do centro de treinamento BUD/S. Certa vez, perguntaram a um instrutor da Seal qual era o segredo para transformar pessoas comuns em guerreiros de elite capazes de superar quase todas as adversidades. “Temos lições quase ilimitadas no campo de batalha. E, no treinamento Seal, os instrutores projetam cenários que podem ser exponencialmente mais estressantes, caóticos e dinâmicos do que uma operação de combate real, para que a equipe aprenda a lidar com as circunstâncias mais difíceis. Quando o estresse do treinamento parece insuportável, podemos dominá-lo, sabendo que, afinal, é o que escolhemos fazer — ser um membro de uma equipe e vencer qualquer situação.”

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Basicamente, fazemos algo desconfortável todos os dias para nos tornarmos melhores.

PASSO TRÊS: Use

Embora muitas vezes esse pareça ser o caso, a resposta do corpo ao estresse não foi projetada para nos destruir. Na verdade, o objetivo evolutivo da reação ao estresse é impulsionar o corpo e a mente, aprimorar o funcionamento de ambos, nos fazer crescer e atender às demandas que enfrentamos.

Embora a resposta às vezes possa ter efeitos adversos, em muitos casos os hormônios do estresse induzem o crescimento e a liberação de substâncias químicas no corpo que reconstróem células, sintetizam proteínas e aumentam a imunidade — deixando o corpo mais resistente e saudável. Pesquisadores chamam esse evento de “efeito fisiológico próspero”, e qualquer atleta, veterano de guerra ou sobrevivente conhece a sua recompensa. Como falamos, é questão de perspectiva.

Como mostrou a professora da Harvard Business School, Alison Wood Brooks, converter a ansiedade em excitação pode melhorar o desempenho em qualquer tarefa ou objetivo. Quando treinamos para transformar nossa visão sobre o estresse e a adversidade, desenvolvemos resistência e resiliência. Com esse modelo simples, qualquer pessoa pode se tornar capaz de liderar a si e aos outros em situações caóticas e dinâmicas.

Pergunte a si mesmo:

• O que você faz regularmente para perceber os limites da sua zona de conforto? Quando você observa, o que vê? É algo que o obriga a pular ou a retornar a um lugar confortável?

• Como você canaliza a energia negativa das situações adversas? Você reaplica essa energia em algo novo?

• Quais benefícios positivos poderiam surgir se você começasse a fazer algo que o incomodasse todos os dias?

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