- Áreas de ciência e tecnologia ainda são predominantemente masculinas, com um ambiente não muito convidativo para mulheres;
- Da necessidade de um sistema mais inclusivo, nasceu o projeto Women in Blockchain Brasil, que conecta profissionais ligadas ao blockchain diariamente;
- Conheça cinco iniciativas de destaque criadas por mulheres.
Cansada de ser uma das únicas mulheres nos chamados “meetups”, eventos e reuniões de profissionais do blockchain, a consultora de projetos Liliane Tie criou o Women in Blockchain Brasil.
LEIA MAIS: Conheça a história de Mackenzie Bezos, a terceira mulher mais rica do mundo
Além disso, Liliane e suas parceiras de todo o país frequentemente se juntam para apresentar palestras e painéis, como aconteceu no BlockCrypto 2019, evento anual que reúne profissionais e interessados em blockchain e criptomoedas. Durante o BlockCrypto, em entrevista à Forbes, ela explicou como o Women in Blockchain Brasil está combatendo algumas das dificuldades apresentadas pela diferença de gênero no cenário da tecnologia e computação.
“É importante lembrar que outras mulheres vieram antes da gente e nos deram espaço de fala”, afirma Liliane. “As mulheres contribuem muito e muitas vezes passam despercebidas, por isso, damos visibilidade não só às mulheres de hoje, mas principalmente às que abriram o caminha para a gente, como uma forma de honrá-las, porque o mundo hoje é bem melhor do que há alguns anos atrás.”
Além disso, a fundadora do projeto também contou que, muitas vezes, quando a iniciativa é convidada para fazer parte de reuniões e conferências, os organizadores estão focados no marketing que a discussão sobre diferenças de gênero traz. Para aprofundar as palestras, principalmente nessas ocasiões, ela mostra dados alarmantes: “A equidade de gênero vai levar provavelmente 108 anos para acontecer”, explica Liliane. “Mas a salarial vai demorar 202.”
Na edição de 2018 do The North America Bitcoin Conference, conferência norte-americana que trata do tema, por exemplo, além de apenas três dos 88 palestrantes serem mulheres, o evento de networking que aconteceu ao fim da conferência aconteceu em um strip-club de Miami. Em maio daquele ano, o engajamento masculino com o bitcoin era de 94,73%, contra o feminino de 5,27%.
As mulheres, porém, começam a aparecer no cenário. A Rastra é um exemplo de empresa que trabalha com o blockchain, apesar de não se envolver muito no mundo das criptomoedas. A fundadora Vanessa Spiess usa a tecnologia para contribuir para uma economia mais sustentável no mundo da moda e conta que no começo também sofreu resistência de seus colegas de trabalho na grande empresa de varejo onde trabalhava.
“Eu comentava sobre o uso do blockchain na moda há uns quatro anos, e as pessoas achavam que eu era doida”, fala. “Não havia interesse, até que chegou o diretor de TI da empresa onde eu trabalhava falando sobre blockchain. Eu tentava explicar, mas era difícil por eu ser mulher, por eu vir da moda. Todo mundo da área de TI em que eu trabalhava ficou indignado. Todos passaram a me respeitar porque eu era a única mulher da equipe e ao mesmo tempo, a pessoa com mais pré-conhecimento.”
VEJA TAMBÉM: Forbes celebra edição As Mulheres mais Poderosas do Brasil
Conheça 5 exemplos de negócios fundados por mulheres, que estão se destacando em meio a esse universo do blockchain que ainda as discrimina:
1. Moeda
Essa conexão de pequenos projetos a grandes investidores sem nenhum intermediário garante que aportes sejam feito sem desvios e com transparência. Esse pagamento é realizado em MDA, criptomoeda própria da organização (negociada em exchanges), MDABRL (pareada ao real), entre outros tokens, para que não seja necessário o uso do mesmo sistema financeiro tradicional que os exclui.
2. Instituto Alinha
Usando o blockchain, o Alinha conecta oficinas têxteis a grandes distribuidoras, marcas e lojas, combatendo a exploração de seus costureiros, de acordo com a fundadora Dari Santos.
3. MyHealthData
A idealizadora e co-fundadora do MyHealthData Valéria Queiroz também fez parte do painel da BlockCrypto 2019 sobre mulheres no blockchain. O sistema funciona como um armazenamento dos dados de saúde do usuário, como uma lista de alergias, tipo sanguíneo, carteira de vacinação e os exames médicos que essa pessoa fez ao longo da vida, todos no mesmo lugar e com total privacidade. O usuário decide o que tirar e adicionar da rede e com quem compartilhar essas informações.
O MyHealthData também permite que seus usuários doem seus dados para pesquisas médicas de forma fácil e segura, graças ao blockchain. O objetivo do projeto é eventualmente ser a plataforma tecnológica de um sistema de saúde mais acessível e inclusivo
O foco da Rastra é transformar a economia linear do mundo da moda em uma economia circular. Também em palestra na BlockCrypto 2019, a criadora da Rastra Vanessa Spiess explicou que a diferença vital de ambas é a sustentabilidade. Na economia linear, por exemplo, a produção em massa termina em montes de roupas em aterros sanitários, já na circular, uma roupa antiga propriamente identificada pode se tornar uma peça nova e pronta para o consumo.
O sistema todo funciona com o blockchain: na etiqueta da roupa, além de estarem contidos todos os estágios pelos quais a peça passou, do fornecedor de tecido à costureira até chegar à loja, também estarão criptografados os detalhes do material da roupa, que permitirão o desfibramento dessa peça. Ou seja, as fibras de tecido dessa roupa usada são usados na fabricação de uma nova peça. Com a Rastra, o uso do blockchain abre portas para condições de trabalho mais dignas aos fabricantes e para a moda consciente e sustentável às grandes lojas.
5. Women in Blockchain Brasil
Algumas das mulheres que fazem parte do Women in Blockchain Brasil visitam escolas apresentando às crianças como funciona a tecnologia do blockchain de forma lúdica e interessante. Dessa forma, elas mostram às meninas que a área da tecnologia é uma possibilidade, como disse Liliane, “é uma cadeia, uma menina que é impactada pode influenciar muitas outras.”
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn