5 negócios comandados por mulheres no mundo do blockchain

14 de agosto de 2019
Getty Images

O blockchain segue como uma tecnologia emergente, e com um mercado predominantemente masculino

Resumo:

  • Áreas de ciência e tecnologia ainda são predominantemente masculinas, com um ambiente não muito convidativo para mulheres;
  • Da necessidade de um sistema mais inclusivo, nasceu o projeto Women in Blockchain Brasil, que conecta profissionais ligadas ao blockchain diariamente;
  • Conheça cinco iniciativas de destaque criadas por mulheres.

Cansada de ser uma das únicas mulheres nos chamados “meetups”, eventos e reuniões de profissionais do blockchain, a consultora de projetos Liliane Tie criou o Women in Blockchain Brasil.

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Essa rede une profissionais de diversas áreas que usam o blockchain no seu dia a dia e podem se sentir sozinhas em um universo predominantemente masculino. De advogadas a engenheiras e desenvolvedoras, o Women in Blockchain Brasil oferece a elas a chance de se conhecerem e trocarem ideias.

Além disso, Liliane e suas parceiras de todo o país frequentemente se juntam para apresentar palestras e painéis, como aconteceu no BlockCrypto 2019, evento anual que reúne profissionais e interessados em blockchain e criptomoedas. Durante o BlockCrypto, em entrevista à Forbes, ela explicou como o Women in Blockchain Brasil está combatendo algumas das dificuldades apresentadas pela diferença de gênero no cenário da tecnologia e computação.

“É importante lembrar que outras mulheres vieram antes da gente e nos deram espaço de fala”, afirma Liliane. “As mulheres contribuem muito e muitas vezes passam despercebidas, por isso, damos visibilidade não só às mulheres de hoje, mas principalmente às que abriram o caminha para a gente, como uma forma de honrá-las, porque o mundo hoje é bem melhor do que há alguns anos atrás.”

Além disso, a fundadora do projeto também contou que, muitas vezes, quando a iniciativa é convidada para fazer parte de reuniões e conferências, os organizadores estão focados no marketing que a discussão sobre diferenças de gênero traz. Para aprofundar as palestras, principalmente nessas ocasiões, ela mostra dados alarmantes: “A equidade de gênero vai levar provavelmente 108 anos para acontecer”, explica Liliane. “Mas a salarial vai demorar 202.”

De acordo com as estatísticas de agosto do site Coin Dance (comunidade especializada em serviços e estatísticas do bitcoin), o uso da criptomoeda é feito 90,09% por homens e 9,91% por mulheres. Os números, no entanto, estão evoluindo.

Na edição de 2018 do The North America Bitcoin Conference, conferência norte-americana que trata do tema, por exemplo, além de apenas três dos 88 palestrantes serem mulheres, o evento de networking que aconteceu ao fim da conferência aconteceu em um strip-club de Miami. Em maio daquele ano, o engajamento masculino com o bitcoin era de 94,73%, contra o feminino de 5,27%.

As mulheres, porém, começam a aparecer no cenário. A Rastra é um exemplo de empresa que trabalha com o blockchain, apesar de não se envolver muito no mundo das criptomoedas. A fundadora Vanessa Spiess usa a tecnologia para contribuir para uma economia mais sustentável no mundo da moda e conta que no começo também sofreu resistência de seus colegas de trabalho na grande empresa de varejo onde trabalhava.

“Eu comentava sobre o uso do blockchain na moda há uns quatro anos, e as pessoas achavam que eu era doida”, fala. “Não havia interesse, até que chegou o diretor de TI da empresa onde eu trabalhava falando sobre blockchain. Eu tentava explicar, mas era difícil por eu ser mulher, por eu vir da moda. Todo mundo da área de TI em que eu trabalhava ficou indignado. Todos passaram a me respeitar porque eu era a única mulher da equipe e ao mesmo tempo, a pessoa com mais pré-conhecimento.”

Atualmente, Vanessa e Liliane se destacam no blockchain brasileiro, mas, felizmente, não são as únicas.

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Conheça 5 exemplos de negócios fundados por mulheres, que estão se destacando em meio a esse universo do blockchain que ainda as discrimina:

1. Moeda

A empresa fundada pela CEO Taynaah Reis usa a tecnologia do blockchain para conectar empreendedores e investidores a projetos de impacto social de difícil acesso com o sistema financeiro tradicional. O que significa que a Moeda leva o blockchain a, por exemplo, produtores sem conta bancária, o que os liga a grandes fornecedores, permite o comércio entre eles, e traz fazcilidades para obter créditos.

Essa conexão de pequenos projetos a grandes investidores sem nenhum intermediário garante que aportes sejam feito sem desvios e com transparência. Esse pagamento é realizado em MDA, criptomoeda própria da organização (negociada em exchanges), MDABRL (pareada ao real), entre outros tokens, para que não seja necessário o uso do mesmo sistema financeiro tradicional que os exclui.

2. Instituto Alinha

Usando o blockchain, o Alinha conecta oficinas têxteis a grandes distribuidoras, marcas e lojas, combatendo a exploração de seus costureiros, de acordo com a fundadora Dari Santos.

Assim, um consumidor pode inserir o código da etiqueta de sua peça (a “tag alinha”) no cadastro do site e acompanhar exatamente de onde veio seu produto e para onde foi seu dinheiro. Esse tipo de processo detalhado e com garantia de transparência só é possível com a tecnologia do blockchain.

3. MyHealthData

A idealizadora e co-fundadora do MyHealthData Valéria Queiroz também fez parte do painel da BlockCrypto 2019 sobre mulheres no blockchain. O sistema funciona como um armazenamento dos dados de saúde do usuário, como uma lista de alergias, tipo sanguíneo, carteira de vacinação e os exames médicos que essa pessoa fez ao longo da vida, todos no mesmo lugar e com total privacidade. O usuário decide o que tirar e adicionar da rede e com quem compartilhar essas informações.

O MyHealthData também permite que seus usuários doem seus dados para pesquisas médicas de forma fácil e segura, graças ao blockchain. O objetivo do projeto é eventualmente ser a plataforma tecnológica de um sistema de saúde mais acessível e inclusivo

4. Rastra

O foco da Rastra é transformar a economia linear do mundo da moda em uma economia circular. Também em palestra na BlockCrypto 2019, a criadora da Rastra Vanessa Spiess explicou que a diferença vital de ambas é a sustentabilidade. Na economia linear, por exemplo, a produção em massa termina em montes de roupas em aterros sanitários, já na circular, uma roupa antiga propriamente identificada pode se tornar uma peça nova e pronta para o consumo.

O sistema todo funciona com o blockchain: na etiqueta da roupa, além de estarem contidos todos os estágios pelos quais a peça passou, do fornecedor de tecido à costureira até chegar à loja, também estarão criptografados os detalhes do material da roupa, que permitirão o desfibramento dessa peça. Ou seja, as fibras de tecido dessa roupa usada são usados na fabricação de uma nova peça. Com a Rastra, o uso do blockchain abre portas para condições de trabalho mais dignas aos fabricantes e para a moda consciente e sustentável às grandes lojas.

5. Women in Blockchain Brasil

Além de ser uma rede de apoio e cooperação para profissionais que lidam com o blockchain, o Women in Blockchain Brasil também luta para trazer mais mulheres para o campo de STEM (sigla em inglês para áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática).

Algumas das mulheres que fazem parte do Women in Blockchain Brasil visitam escolas apresentando às crianças como funciona a tecnologia do blockchain de forma lúdica e interessante. Dessa forma, elas mostram às meninas que a área da tecnologia é uma possibilidade, como disse Liliane, “é uma cadeia, uma menina que é impactada pode influenciar muitas outras.”

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