5 dicas do empreendedor que faliu seis vezes e hoje fatura R$ 50 milhões por ano
Beatriz Calais
17 de fevereiro de 2020
Divulgação
Geraldo Rufino é fundador da JR Diesel, a maior empresa de peças seminovas da América Latina
Da mãe, o empreendedor Geraldo Rufino recebeu o nome e os valores. Em uma casa de pau a pique em Campos Altos, interior de Minas Gerais, aprendeu a valorizar os nados no riacho, a natureza e a presença dos pais. Com quatro anos, após perder toda a lavoura e se mudar para uma periferia da Zona Oeste de São Paulo, agradecia o sol que entrava pelas frestas de seu barraco e as novas amizades. O chão batido, tanto em Minas quanto em São Paulo, nunca foi considerado um problema.
Na realidade, foi a base para a construção da sua personalidade. “Minha mãe sempre dizia que morar em um barraco e ser pobre não eram problemas. Que eu podia mudar tudo isso se quisesse”, diz Rufino, fundador da empresa JR Diesel. A sabedoria materna nunca deixou seu cotidiano. Com sete anos, já tinha adquirido o costume de acordar e agradecer pelo dia, e isso não mudou quando sua mãe saiu de cena.
Poucos meses depois, Dona Geralda faleceu precocemente. “Mas meu caráter já estava formado. De lá para cá, fui uma criança blindada, nunca dei o direito a nada nem ninguém me incomodar”, revela. Era como se sua mãe acompanhasse seu crescimento por meio dos valores que tinha passado. “Ela me guiou pela vida. Tudo que acontecia comigo eu ia ligando com a visão de mundo que ela deixou.”
Com uma tutora eterna, entregou-se ao mundo – segundo ele, responsável por ter completado sua educação. Começou a trabalhar com 11 anos, recolhendo latinhas e ajudando o pai no sustento da casa. Com 13, ingressou no Grupo Playcenter, de parque de diversões, onde revela ter aprendido educação financeira e vivido o empreendedorismo em sua forma mais pura. “Eu trabalhava como se a empresa fosse minha.”
Como um homem de negócios, foi de chefe de carrinho de pipoca a diretor da Playland, uma das principais empresas de entretenimento infantil do país. “Eu vendia muita pipoca, sentia prazer naquilo. Polia o carrinho, limpava, fazia os pipoqueiros usarem gravata borboleta…”, relembra. Assim, foi criando oportunidades e crescendo na companhia. “Você tem que ser empreendedor no seu trabalho. Toque aquilo como se fosse seu, empreenda para você.”
Rufino trabalhou no grupo dos 13 aos 30 anos, e, durante esse período, conquistou casa própria, carros e uma frota de caminhões. Tudo começou com uma paixão pelos antigos fuscas, que evoluiu para a necessidade de adquirir uma kombi para seu irmão. De repente, os pequenos caminhões entraram nos planos e se multiplicaram rapidamente para uma dúzia, constituindo uma frota lucrativa.
JR Diesel: um acidente de percurso
A história de Rufino parece, às vezes, um passe de mágica, mas está longe disso. A prova é que, após alguns meses de lucro com os caminhões, um “belo dia”, como ele mesmo diz, os veículos se envolveram em um acidente. “Eu digo ‘belo dia’ porque Deus não sacaneia”. Para pagar as dívidas que tinha feito para tocar o negócio, decidiu desmontar os caminhões avariados e vender as peças. Ao seguir sua intuição para resolver o problema, criou a JR Diesel.
“Não fui visionário, foi um acidente de percurso”, conta. A empresa foi aberta em 1985, e Rufino continuou fazendo jornada dupla, já que ainda trabalhava no Playcenter, até 1999, quando pôde tocar seu próprio negócio definitivamente. “Eu recolhia latinha e, hoje, tenho a maior empresa de peças seminovas da América Latina. Só mudou o tamanho da lata”, diz, rindo. Para ele, há uma lição essencial a ser tirada desse episódio: a importância que as crises e os problemas têm nas nossas vidas.
“Pode parecer estranho, mas os problemas são necessários. É uma oportunidade de evoluir.” Segundo o empreendedor, quando você nasce, passa a ser um gerador de problemas, e, quando morre, os transfere para os próximos. É algo inato e, como tal, movimenta a vida, a economia e até os negócios.
Sua trajetória na JR Diesel é uma prova de que esse ponto de vista não está errado. Após abrir a empresa, Rufino já “faliu” cinco vezes. “Na verdade, eu fiquei sem dinheiro. E dinheiro é o menor dos valores”, diz. Mas a realidade é que ele quebrou e sempre conseguiu se reerguer. Hoje, seu negócio fatura R$ 50 milhões por ano.
Rufino diz ter evoluído com cada uma das falências, seja como empreendedor, seja como ser humano. E, ao que tudo indica, as pessoas a sua volta percebem isso. Acostumado a dar dicas e conselhos, mudou a dinâmica da empresa, que passou a receber filas de funcionários nos corredores em busca de suas palavras motivadoras. Sabendo que não poderia atender todo mundo, recorreu à tecnologia e criou um blog e uma página oficial nas redes sociais. Foi questão de tempo para que começasse a ser chamado para palestras e mentorias ao redor do país.
“Na primeira palestra eu perguntei se iam me pagar”, lembra. E, surpreso, descobriu que sim. Rufino já escreveu dois livros e contabilizou 300 palestras em 2019. Sua agenda está repleta de compromissos do tipo até 2021. Mais do que sua experiência no mundo empreendedor, ele fala sobre sua visão da vida – aquela mesma que foi herdada da mãe. “A minha infância nunca acabou. Eu nunca perdi meus valores, meu controle emocional, minha alegria. Eu ainda tenho sete anos.”
No auge das crises, Rufino revela ter focado no fato de que “nossos patrimônios são menores do que nós”. Para ele, se um indivíduo é capaz de criar, gerar ou lucrar com alguma coisa, ele consegue fazer isso mais de uma vez. Além do mais, assume a culpa por todos as situações em que ficou sem dinheiro, dizendo ser o único responsável e causador de seus sucessos e fracassos.
Ele brinca sobre uma sexta vez em que faliu – a única que não foi sua culpa: “Quando eu pegava latinhas, enterrava meu dinheiro para recolher depois do trabalho. Um dia passaram cortando a grama e levaram tudo… Foi minha primeira falência”.
Para aqueles que estão com problemas mais sérios do que os causados por uma máquina de cortar grama em seus negócios, o empresário tem algumas dicas. Veja, na galeria abaixo, 5 passos de Geraldo Rufino para sobreviver à falência e garantir o sucesso: