Nos últimos anos, com a explosão da produção em escala e a disseminação das redes de fast-fashion, o acesso e o interesse da população mundial pela moda subiram vertiginosamente. Peças outrora supérfluas tornaram-se não só necessárias como também vitais para a sociedade moderna. Foi assim que as portas do clube do bilhão foram escancaradas por aqueles que conseguiram acariciar a vaidade humana a partir de seus moldes com muitas cores, cortes, brilhos e estampas.
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Os controladores da Guararapes surgem no 458º lugar da lista e na 18ª posição entre os brasileiros, com uma fortuna de US$ 3 bilhões. O octogenário empresário teve início em 1947, com a abertura da loja A Capital, em Natal, e deu uma guinada em seus negócios em 1979, quando arrematou a rede de lojas de tecidos Riachuelo e a transformou no que ela é hoje. As recordações permanecem assim como os hábitos. Metodicamente às 8h30, o empresário se dirige dia após dia à fábrica do grupo instalada em Extremoz, perto de Natal, e só vai embora ao final da jornada.
O ranking coloca Nevaldo Rocha e família ao lado de cerca de 100 poderosos nomes do universo fashion, como os controladores da Zara, H&M, Gap, Benetton, Forever 21, Diesel Jeans, Mango, Chanel, Dolce & Gabbana, Giorgio Armani, Ralph Lauren, Prada, LVMH, Luxottica, Richemont, Geox, dentre tantos outros que contabilizam individualmente uma riqueza de dez dígitos para cima.
É Nevaldo Rocha quem define pessoalmente os preços dos 300 produtos lançados semanalmente pela Riachuelo. E isso não é tudo. “Toda diretoria da Riachuelo voa mensalmente para Natal, onde temos uma reunião com o meu pai e mostramos todos os acontecimentos que envolvem a empresa. Normalmente tem coisas que ele pede para executarmos de forma diferente do que planejamos. O fato é que ele tem a intuição tão apurada e aguçada que quando tentamos fazer algo que a gente acha que ele não vai concordar, ele fareja a história a 3 mil quilômetros de distância”, confidencia Flávio Rocha, filho de Nevaldo, presidente da Riachuelo, vice-presidente da Guararapes e grande braço direito do homem que transformou sua empreitada em um negócio bilionário.
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Em seguida emenda que o varejo ainda está aquém do que a potência futura do Brasil demandará. E é aí que a cabeça do filho acrescenta valores à do pai. “Meu pai acha que já fomos longe demais, mas eu acho que ainda temos muito para crescer. Assim que a Zara anunciou sua 344ª loja em Portugal, eu liguei para ele de lá para mostrar o potencial de mercado”, conta Rocha.
A tese de Rocha faz sentido quando se observa a redução da informalidade no país e também o consequente fortalecimento do varejo atual, seja por meio de crescimento orgânico ou fusão/aquisição. Ele calcula que ninguém tem mais de 1,5% das vendas de vestuário no Brasil, um mercado que comercializa 9,8 bilhões de peças por ano. As maiores redes, estima, vendem no máximo 120 milhões de peças por ano, o que significa que o mercado ainda está muito diluído. “Em alguns anos, alguém terá 10% desse mercado. Poderemos ser nós, a Renner, a C&A ou alguma outra rede, mas o mercado está evoluindo e isso vai acontecer.”
O estilo Forever 21 da Guararapes chamou a atenção de Abilio Diniz tempos atrás. Pouca gente sabe, mas quando Diniz ainda se encontrava à frente do Grupo Pão de Açúcar, ele chegou a propor uma associação à Riachuelo e a respectiva criação da Via Varejo da Moda, seguindo o modelo construído com o Ponto Frio e Casas Bahia. Após conversas, Rocha decidiu seguir pela carreira solo. Como sua empresa segue em rota ascendente, o empresário resolveu não se render a essa e outras propostas de sociedade.
O projeto 70 anos em 4, uma alusão aos “50 anos em 5” do presidente Juscelino Kubitschek, levará a Riachuelo a um salto históricoA Riachuelo está se preparando para dar um grande salto nos próximos anos. É o que internamente os funcionários chamam de “70 anos em 4”, uma alusão ao slogan “50 anos em 5”, usado pelo presidente Juscelino Kubitschek durante a campanha.
Após inaugurar 24 lojas em 2012, fechando o ano com 169 endereços em operação, a meta é abrir 40 unidades neste ano. E as inaugurações não param por aqui. “De 2013 a 2016, nós vamos abrir um total de 160 lojas. Nesses quatro anos nós vamos inaugurar mais lojas do que em toda a história da empresa”, revela.
A empresa dos Rocha concluiu 2012 com receita líquida de R$ 3,5 bilhões e lucro líquido de R$ 365,6 milhões. Os resultados foram considerados satisfatórios para Nevaldo e Flávio. A diferença, contudo, é que o pai se contentou. O filho, não. Ele acha que a Guararapes Confecções pode voar mais alto. Em 2012, o tíquete médio da Riachuelo aumentou de R$ 128,30 para R$ 136,30. Flavio quer mais. Seu objetivo é conquistar uma parte maior da passarela brasileira.
O MUNDO
segundo Flávio Rocha
Arte
Coleciona de Di Cavalcanti a Frans Krajcberg. A última aquisição, a qual está curtindo muito, é uma obra cinética de Cruz Diez. “De maneira geral, gosto de escultores contemporâneos brasileiros”
“A Saga Brasileira, de Miriam Leitão, foi uma de minhas últimas leituras e eu recomendo”
Música
Chico Buarque e Caetano Veloso
Roupa
Hermès, Prada, Gucci e Riachuelo
Restaurante
Em São Paulo, sou cliente fiel do Rodeio há décadas. Dos recentes gosto muito do Attimo, do chef Jefferson Rueda, e do Dom, do craque Alex Atala
Avesso a entrevistas e jornalistas, o grande mentor da Guararapes e primeiro brasileiro a gerar uma fortuna acima de dez dígitos com a moda no país respondeu às perguntas de FORBES Brasil:
Em 1947, o senhor criou a loja de roupas A Capital e, em 1979, comprou a Riachuelo e a transformou no maior grupo de moda do país. Olhando para trás, quais foram os seus maiores acertos e equívocos?
No início, ainda muito jovem, quando me dei conta de que estava para começar a minha vida empresarial, o primeiro caminho que segui foi o de me espelhar nos vitoriosos. Essa percepção juntamente com a minha obstinação de ser vencedor tornaram-se traços marcantes da minha trajetória. O maior acerto que considero é o de nunca ter me desviado desse caminho. Foi com base nele que comecei, construí e gerencio o meu negócio até hoje. Destaques como a compra da Riachuelo, o reposicionamento dela, a reestruturação da indústria e a integração da cadeia têxtil foram consequências da minha concentração e foco para atingir meus objetivos. Sempre pautados por princípios éticos e respeito nas relações.
É verdade! Sou contrário à venda integral ou parcial e essa é minha posição definitiva. Meu pensamento sempre esteve voltado para o crescimento da Riachuelo no sentido de torná-la uma cadeia de lojas de moda, reconhecida e desejada pelos seus clientes, mas nunca para ser negociada.
Qual foi o momento mais difícil na construção e ascensão da empresa desde sua fundação?
Desde que comprei a Riachuelo, sempre pensei e acreditei na ideia de produzir na Guararapes aquilo que seria vendido nas lojas: era o sonho de ver um canal direto, sem intermediação, que somente traria benefícios para o negócio. Um momento difícil foi não ter tido êxito na minha primeira tentativa em fazer essa integração. As empresas e seus processos não estavam completamente prontos para esse casamento. O recuo, a nova preparação e a minha obstinação de construir uma cadeia totalmente integrada como modelo de negócio mostraram que eu estava no caminho certo de um modelo vitorioso.
Minha rotina é simples, mas muito disciplinada. Além da atenção e preocupação geral com os principais assuntos da empresa, cumpro meu ritual diário de “tomar conta” daquilo que considero mais importante no nosso negócio: o produto, aquele que diariamente abastece todas as nossas lojas. Não defini nenhuma data para parar. Minhas energias serão o limite da minha atuação.
Como o senhor definiria o ato de empreender no Brasil?
Essa é uma tarefa das mais penosas. São anos e anos de muita dedicação e determinação para superar as dificuldades impostas pela legislação brasileira, pelo ônus da pesada carga tributária, pelas barreiras fiscais e por toda essa complexidade burocrática que nos toma um tempo precioso e atrapalha quem quer crescer e gerar progresso.
Eu estou satisfeito com a condução de Flávio à frente da Riachuelo e lhe atribuo a nota máxima. Considero uma grande virtude sua espelhar-se na minha experiência.
Reportagem publicada na edição 8, lançada em abril de 2013
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