O custo real das fontes de energia renováveis

2 de maio de 2018
O custo real das fontes de energia renováveis - iStock

Produção de energia a partir dos ventos e do sol foi de 53% na Dinamarca, 26% na Alemanha e 23% na Califórnia

No último ano, a imprensa veiculou, em vários momentos, notícias sobre a queda do valor dos painéis solares e das turbinas de vento. Ao lerem essas informações, é compreensível a impressão das pessoas de que quanto mais energia eólica e solar produzirmos, mais baixas serão as tarifas de energia elétrica. Mas não é o que acontece. Na verdade é o oposto.

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Entre 2009 e 2017, o preço do watt (unidade de potência) gerado por painéis solares caiu 75%, enquanto a mesma unidade fornecida pelas turbinas de vento apresentou uma redução de 50%. E, durante o mesmo período, o preço da eletricidade em locais que implementaram a produção de energias renováveis de forma significativa subiu dramaticamente. Na Alemanha, por exemplo, o preço da eletricidade ficou 51% mais caro durante a expansão da energia solar e eólica, entre 2006 e 2001. Na Califórnia, esse aumento foi de 24% no intervalo de implantação do sistema de energia solar, de 2011 a 2017. Já na Dinamarca, os custos mais do que dobraram desde 1995, ano em que o país começou a usar energias renováveis de maneira mais séria, principalmente eólica.

Mas, se os painéis solares e as turbinas eólicas se tornaram opções muito mais baratas, por que o preço da eletricidade aumentou em vez de diminuir?

Uma hipótese poderia ser que, enquanto a energia solar e eólica se tornam mais acessíveis, a energia gerada por outras fontes, como carvão, nuclear e gás natural, tornam-se mais caras, o que elimina qualquer economia e eleva os preços em geral.

Mas, novamente, não foi o que aconteceu.

O preço do gás natural caiu 72% nos Estados Unidos entre 2009 e 2016 devido à revolução do Fracking, método de perfuração e extração de componentes gasosos. Já na Europa, o valor do produto caiu um pouco menos de 50% durante o mesmo período. Já o preço da energia solar e do carvão ficaram praticamente estáveis.

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Outra hipótese aponta para o fechamento de usinas nucleares, que poderia ter resultado em preços de energia mais altos. Desde 2010, a Califórnia fechou uma usina nuclear (2.140 MW de capacidade instalada), enquanto a Alemanha encerrou as atividades de cinco e desativou quatro reatores de usinas em operação (10.980 MW no total).

O que também reforça esta teoria é o fato de que os líderes da energia nuclear em Illinois, França, Suécia e Coreia do Sul desfrutam de algumas das fontes de eletricidade mais baratas do mundo. Em Illinois, por exemplo, a eletricidade é 42% mais barata do que na Califórnia, enquanto na França o preço da energia elétrica é 45% menor do que na Alemanha.

Essa suposição, porém, é prejudicada pelo fato de que o preço dos principais combustíveis alternativos – gás natural e carvão – permaneceu baixo, apesar do aumento da demanda na Califórnia e na Alemanha.

Isso nos dá a ideia de que a energia solar e eólica são as principais suspeitas da alta dos preços da eletricidade. Mas por que painéis solares e turbinas eólicas mais baratos deixariam a eletricidade mais cara?

A principal razão foi prevista por um jovem economista alemão em 2013. Em um artigo para a “Energy Policy”, Leon Hirth estimou que o valor econômico da energia eólica e solar diminuiria significativamente à medida que se tornassem uma parte maior do fornecimento da eletricidade, e o motivo seria sua natureza fundamentalmente não confiável. Tanto a energia solar quanto a eólica produzem muito quando as sociedades não precisam dela, e não o suficiente quando precisam.

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Assim, esses dois tipos de energia exigem que plantas a gás natural, represas hidrelétricas, baterias ou alguma outra forma de energia confiável estejam prontas a qualquer momento para começar a produzir eletricidade quando o vento parar de soprar e o sol parar de brilhar. E a insegurança exige que lugares com energia solar e/ou vento, como a Alemanha, a Califórnia e a Dinamarca, paguem a seus países ou nações vizinhos para absorver sua energia solar e eólica quando estão produzindo em excesso.

Outra previsão feita por Hirth era a de que o valor econômico do vento na rede europeia cairia 40% quando se tornasse 30% do total da eletricidade usada, enquanto o valor da energia solar cairia em 50% quando chegasse a apenas 15%.

Em 2017, a participação da eletricidade proveniente dos ventos e do sol foi de 53% na Dinamarca, 26% na Alemanha e 23% na Califórnia. Os dois países europeus têm os valores mais altos do continente.

Ou seja, ao informar sobre os custos decrescentes de painéis solares e turbinas eólicas, mas não sobre como eles aumentam os preços da eletricidade, os jornalistas, intencionalmente ou não, enganam os formuladores de políticas e o público sobre essas duas tecnologias.

O “The Los Angeles Times” publicou, no ano passado, que os preços da eletricidade na Califórnia estavam subindo, mas não conseguiu ligar o aumento da tarifa às fontes renováveis, provocando uma resposta certeira do economista da UC Berkeley, James Bushnell. “A história de como o sistema elétrico da Califórnia chegou ao seu estado atual é longa e ensurdecedora”, escreveu Bushnell, “mas o fator dominante na política do setor elétrico tem, incontestavelmente, um foco no desenvolvimento de fontes renováveis ​​de geração de eletricidade.”

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Parte do problema está no fato de muitos comunicadores não entenderem de energia elétrica. Eles pensam na eletricidade como uma mercadoria quando ela é, na verdade, um serviço – similar a comer em um restaurante. O preço que pagamos pelo luxo de comer fora não engloba apenas o custo dos ingredientes que, como os painéis solares e turbinas eólicas, diminuíram por décadas em muitos países. Os valores dos serviços – tanto de alimentação quanto de energia – refletem, também, os custos de preparo e entrega.