Satoyama Jujo: o refúgio japonês nas montanhas

15 de junho de 2018

Localizado entre as tranquilas florestas de faia e arrozais em cascata de Minami-Uonuma, no Japão, o Jujo Hotel, um retiro isolado na montanha Satoyama, é uma tradução das “dez histórias da aldeia montanhosa”. Aquelas dez tradicionais narrativas, que o hotel lista como “comida, arquitetura, têxtil, agricultura, meio ambiente, arte, atividades ao ar livre, relaxamento, saúde e coleta”, são surpreendentemente bem integradas à vida cotidiana da propriedade.

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O enredo arquitetônico compartilha a origem do hall da recepção, ambientado em uma casa japonesa de 150 anos feita inteiramente de zelkova, uma madeira durável nativa da região. Já a narrativa de relaxamento retrata a fonte ao ar livre, que pode ter a melhor vista de águas termais (onsen) do Japão. Quando você está longe do caos, inserido na natureza, as nuvens em repouso dão espaço para a Via Láctea iluminar os picos como se fosse um holofote. Assim como o Guntû, o luxuoso hotel que flutua no Seto Inland Sea, no Japão, o Satoyama Jujo parece ter sido construído para capturar essas vistas noturnas das estrelas.

O estabelecimento foi idealizado por Toru Iwasa, o graduado em arte que virou hoteleiro. Iwasa nasceu e foi criado em Tóquio, mas sempre teve uma queda por um estilo de vida mais sossegado e simples – principal tema explorado em sua popular revista de estilo de vida “Jiyujin”.

Assim que chegou a Minami-Uonuma, um amigo de Iwasa pediu que ele assumisse uma velha pousada nas montanhas. Diante da oportunidade, ele aproveitou a chance para colocar suas habilidades de design em uso e reviver a propriedade ao transformá-la no Satoyama Jujo. “Eu queria proporcionar às pessoas os benefícios de um estilo de vida orgânico de uma forma mais autêntica”, explica ele. “Embora a revista seja ótima para orientar, não há como substituir as experiências práticas.” Dito isso, Iwasa levou em conta sua linha editorial – a atenção aos detalhes que ele emprega na publicação reluzem em Satoyama Jujo. Se um convidado quiser saber quem desenhou o sofá, as lâmpadas ou o trilho para cabide, terá acesso às informações por meio de um conteúdo multimídia disponibilizado pelo hotel.

Os quartos variam de 10 a 30 metros quadrados, muitos com a sua própria banheira de madeira cipreste em um terraço ao ar livre. Todas as acomodações possuem vista para a floresta de cedro ao redor ou para as montanhas, perfeitas para acompanhar o nascer do sol. Alguns dos quartos foram planejados em colaboração com a Musashino Art University, alma mater de Iwasa. Os banheiros contam com aquecedor de toalhas e produtos de higiene pessoal ecológicos.

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O hotel é caseiro e calmo. A passagem da montanha Osawa nos arredores confere uma sensação de extensão e uma aura de destaque à propriedade, dando-lhe um ar majestoso, mas distintamente sereno. Entrar em um banho nas fontes de águas termais é, naturalmente, uma experiência relaxante por si só, mas quando você o faz tão longe da cidade, o impacto é muito maior. A mobília em todo o hotel foi pensada por Isamu Noguchi e Charles e Ray Eames, enquanto as obras de arte são de Shun Kawakami e do escultor Ryuichi Ohira.

O Sanaburi, restaurante do Satoyama Jujo, serve refeições orgânicas feitas com ingredientes locais. A cozinha é supervisionada por Yutaka Kitazaki, que treinou no restaurante Kichisen – três estrelas Michelin – e veio para o hotel para estar mais perto da fonte natural dos alimentos, especialmente dos vegetais. “Os ingredientes são meus guias, deixo que eles me mostrem o caminho”, diz Kitazaki. O marisco do Sanaburi é proveniente do Mar do Japão, enquanto o arroz Koshihikari, que protagoniza todas as refeições e é cultivado na região de Minami-Uonuma, é considerado o melhor do país. A bebida de destaque fica por conta do saquê não processado e não filtrado, feito com arroz local e água de nascente.

A maneira mais fácil de chegar ao hotel é pegar o trem de alta velocidade na estação de Tóquio com direção à estação Echigoyuzawa, a 12 quilômetros do Satoyama Jujo – ou você pode dirigir de três a três horas e meia saindo da capital japonesa.

Pistas de esqui e trilhas para caminhadas e mountain bike são abundantes nessa parte do Japão, e o equipamento é fácil de ser locado. Não é coincidência que Toru Iwasa tenha deixado sua rotina agitada na cidade de Tóquio para dar vida ao hotel – após passar um ou dois dias por lá, é possível entender o porquê. “Você não pode ter essa experiência em nenhum outro lugar do planeta”, diz ele.