Jack Ma vira alvo por defender jornada de 12 horas

22 de abril de 2019

Fundador do Alibaba prega o espírito trabalhador do Vale do Silício

Resumo:

  • Jack Ma, fundador do Alibaba, tem sido criticado nas redes sociais por defender a controversa prática do “996”, que se refere ao expediente que dura das 9h às 21h ao longo de seis dias da semana;
  • Para o executivo, essa é a chave para obter o sucesso na carreira e fazer com que a competitividade de uma empresa cresça;
  • Embora essa rotina de trabalho faça os funcionários entrarem em crise, ela também pode causar uma mudança de mentalidade, a fim de aumentar a produtividade.

Jack Ma, bilionário fundador do Alibaba, tem sido criticado por defender a controversa prática conhecida como “996”. Esse número se refere à opinião de Ma de que todos em sua empresa devem trabalhar tranquilamente das 9h às 21h, seis dias por semana. Desde os anos 1990, Ma prega ao grupo de funcionários que imitem o “espírito trabalhador do Vale do Silício” para competir contra os norte-americanos. “Se começarmos a trabalhar às 8h e pararmos às 17h, não estamos em uma empresa de alta tecnologia.”

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Sua mensagem é a mesma hoje em dia: “Pessoalmente, acho que o 996 é uma grande bênção. Não é possível alcançar o sucesso sem se esforçar mais do que o normal”. Jack disse que o verdadeiro 996 não se trata de fazer hora extra. Ele defende que todos têm o direito de escolher e critica aqueles que não concordam dizendo que “não provarão a felicidade e as recompensas do trabalho duro”.

A internet entrou em colapso coletivo com os comentários de Ma. Para os internautas, as demandas do executivo são draconianas e exploradoras. A reação não é surpreendente, dada a recente tendência global de anticapitalismo, ressentimento contra bilionários e movimentos em prol de políticas socialistas. Para muitos, a afirmação de Ma é uma repreensão ao capitalismo, já que o CEO e as elites vão se aproveitar dos trabalhadores para obter benefícios próprios. Os críticos afirmam que as horas, mesmo que não sejam obrigatórias, pressionam os funcionários demais. Não há tempo para a família, amigos, criar os filhos, cuidar de parentes doentes ou sequer ter uma vida equilibrada.

Gostaria de acrescentar uma opinião impopular à discussão. O posicionamento de Jack Ma é hiperbólico, da mesma forma que o presidente norte-americano Donald Trump e a congressista Alexandria Ocasio-Cortez fazem suas proclamações. Trump quer US$ 1 milhão para construir o muro na fronteira com o México, e Alexandria pediu trilhões para pagar por seu “Green New Deal”. Ambos fizeram esses pedidos desmedidos cientes de que isso provocará uma discussão sobre o assunto e haverá uma negociação para estabelecer um meio-termo. O fundador do Alibaba também pretende provocar as pessoas a darem tudo de si e contemplarem os resultados. A discussão pode acabar em um expediente das 9h às 18h, em vez do 996.

Se o executivo defendesse uma jornada das 9h às 17h, o Alibaba acabaria como a maioria das empresas. Seus funcionários chegariam ao escritório por volta das 9h15 resmungando sobre o atraso do trem ou do trânsito. Em seguida, discutiriam sobre a incrível vitória do Tiger Woods, enquanto outros debateriam o mais recente episódio de “Game of Thrones”. Depois de fofocarem um pouco, eles tomariam café da manhã e iriam ao banheiro. Às 10 horas, eles, finalmente, começariam a trabalhar. Por volta das 11h30, enviariam mensagens de texto para colegas de trabalho perguntando sobre o almoço.

Eu poderia continuar narrando um dia tradicional, mas todos sabemos o que acontece. É fácil desperdiçar um dia de trabalho. Jack reconhece isso e está estimulando uma mentalidade diferente para tornar seus funcionários mais produtivos. A realidade é que a empresa precisa competir com as maiores e mais fortes corporações, aquelas que abrigam os funcionários mais inteligentes do mundo, como a Amazon. Ter uma ética de trabalho forte é a chave para o sucesso da empresa.

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Não estou defendendo o trabalho como se estivéssemos vivendo a Revolução Industrial, mas o expediente tradicional das 9h às 17h não é suficiente para alcançar o sucesso. Em todos os meus anos de recrutamento, nunca vi uma pessoa chegar ao topo fazendo o mínimo. Os que fazem são medianos. As pessoas que dedicam mais tempo e esforço tendem a se sobressair.

A mídia realmente não se atentou a isso, mas Ma expressou: “O funcionário 996 deveria, de fato, estar gastando tempo aprendendo, pensando e melhorando.” Você não precisa gastar todas essas horas apenas trabalhando em sua mesa, mas sim se dedicando ao trabalho – seja lendo um livro, participando de eventos de networking, indo à academia ou meditando para limpar a mente.

Pode soar duro quando nos referimos a dedicar tantas horas ao trabalho, mas acho que é perfeitamente natural quando pensamos em termos esportivos. Algumas pessoas são abençoadas com habilidades atléticas. Aqueles que têm dons, mas não praticam constantemente, perdem para aqueles com menos talentos inatos mas mais dedicados. O regime de treinamento de Tiger Woods exemplifica a teoria de Jack Ma. Segundo relatos, sua rotina típica começa no início da manhã com uma hora de exercícios aeróbicos, geralmente envolvendo ciclismo, uma caminhada de 11 quilômetros ou uma corrida de 5 quilômetros. Depois desses exercícios, Woods faz musculação por mais uma hora – e isso tudo antes do café da manhã. No final do dia, o atleta pratica golfe e, depois, volta para outra rodada de levantamento de pesos à noite.

Essa rotina é semelhante à de uma pessoa que procura construir uma carreira. Você precisa investir tempo, esforço e motivação para alcançar o sucesso. Eu fico dividido com o discurso do fundador do Alibaba. Não dá para fazer as pessoas trabalharem tão duro. Elas acabam entrando em crise mental, emocional e física.

Se você gosta do que faz para viver e é bom nisso, então o trabalho não é tão árduo. No entanto, muita pressão fará com que o cronograma cansativo seja insustentável a longo prazo. É preciso de um meio-termo para a duração do expediente, para que sua carreira avance sem que você se sinta sob o chicote da administração.

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