Outras forças que impulsionam tendências nesse cenário, segundo o Boston Consulting Group (BCG), incluem a crescente pressão para acomodar a exigência de consumidores por uma melhor experiência, proximidade e transparência em relação à cadeia produtiva.
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Boa parte dos esforços na agricultura digital brasileira está em atividades “dentro da porteira”, segundo Silvia: todos os estágios desde o pré-plantio até o pós-colheita, com aplicações como uso de sensores para análise de solo, monitoramento de lavouras com inteligência artificial e colheitadeiras automatizadas.
Apesar do ferramental disponível, existem limitações no Brasil que o setor precisa transpor. Entre eles, Silvia aponta o uso eficiente dos dados. “O maior desafio é transformar os dados heterogêneos do campo em informação que possa ajudar o agricultor a reduzir custos e otimizar a produção”, ressalta. Segundo a pesquisadora, a Embrapa tem trabalhado dados coletados nas últimas três décadas para criar modelos sofisticados de análise e traduzir esses insights para o ecossistema de forma acessível. Além disso, há o problema da conectividade, elemento importante quando o assunto é a IoT – segundo a pesquisa TIC Domicílios, do Comitê Gestor da Internet, o acesso à web só chega a 44% dos usuários nas áreas rurais. “A questão da conectividade deve ser resolvida nos próximos anos – é algo fundamental para o rápido progresso”, diz Ronan Damasco, diretor nacional de tecnologia da Microsoft.
Segundo Damasco, o agro é um dos setores prioritários para a Microsoft, cujos produtos incluem modelos preditivos de IA baseados na plataforma de nuvem Azure, que ajudam, por exemplo, a determinar o melhor momento para plantar e a profundidade ideal de semeadura. A empresa busca adaptar sua tecnologia para atender produtores de baixa renda, com dados analíticos enviados por SMS a fazendeiros e drones substituídos por balões com smartphones.
“O que o mercado está pedindo são tecnologias que apoiam a tomada de decisão e geram informações como microclima, que são muito relevantes para a gestão de risco do agricultor”, diz Ulisses Mello, diretor do laboratório de pesquisas da IBM.
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Apesar dos desafios, o Agro 4.0 no Brasil continua se expandindo. O número de agtechs cresceu 30% entre 2016 e 2019 – já existem mais de 300 delas ativas no segmento (como as premiadas Agrosmart e Solinftec), segundo a Associação Brasileira de Startups. Grandes corporações do setor apostam nessas novas empresas como forma de alavancar suas estratégias digitais.
“Essa soma de atores cria um ambiente favorável para a inovação e considera a cultura local, pois é impossível só importar soluções de lugares como Israel. Precisamos ter soluções específicas para os diversos problemas do Brasil”, diz Almir Araújo, diretor de agricultura digital para a América Latina na Basf.
Colaboração também faz parte da estratégia de outra gigante do agro, a Cargill. Segundo João Alexandre Carvalho, consultor de inovação digital da Cargill para a América Latina, a empresa envolve startups, clientes e fornecedores para obter respostas a questões de segurança alimentar e seus desdobramentos. “Estamos numa época em que os concorrentes se tornam parceiros para resolver grandes problemas”, afirma. A empresa apoia tecnologias de código aberto e contribui com engenheiros de software em blockchain para o Hyperledger, consórcio formado pela Linux Foundation. Em outubro, a empresa lançou a Splinter, uma plataforma de código-fonte aberto para aplicativos seguros e distribuídos de forma privada com base nos conceitos de blockchain. “Ferramentas como essa ajudarão a trazer mais transparência, confiança e integração às nossas complexas cadeias de suprimentos,” diz Carvalho.
O Brasil está mais avançado em agricultura digital do que muitos mercados desenvolvidos, na opinião de Decker Walker, sócio-líder de agronegócio no BCG. “Produtores brasileiros são altamente empreendedores e abertos à experimentação”, aponta, acrescentando que, por outro lado, não há muita preocupação no que se refere a proteção de dados. Ele avalia também que uma das oportunidades no médio prazo é a verificação de desmatamentos. “O consumidor quer recompensar produtores responsáveis em relação ao meio ambiente. A tecnologia pode e vai ter um papel importante para garantir que aqueles que estão fazendo a coisa certa tenham seus esforços reconhecidos.”
INTERNET DAS COISAS E DADOS
Uso de equipamentos físicos em fazendas e imagens aéreas com satélites e drones que, com análise intensiva de dados, monitoram lavouras e geram dados personalizados
ROBÓTICA
Dispositivos para detecção e pulverização e outras tecnologias autônomas que podem encontrar padrões e atuar em tempo real
GÊMEOS DIGITAIS
Riação de clones digitais de terras, atividades e recursos agrícolas para economizar recursos e aumentar o rendimento de culturas
Novos ativos não sintéticos feitos de organismos vivos, com mínimo impacto residual ou efeitos colaterais
EDIÇÃO DE GENES
Adição rápida de novas características a espécies que anteriormente levariam anos de pesquisa
Reportagem publicada na edição 73, lançada em dezembro de 2019
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