O magnetismo do bilionário inglês é imenso, bem como a demanda por beber da fonte de experiências e de visão de um dos empreendedores mais bem-sucedidos do planeta. Isso se confirmou na visita mais recente de Branson a São Paulo para promover os voos da Virgin Atlantic, que começam a operar entre Cumbica e Londres em 29 de março. Os voos serão diários em um Boeing 787-9 Dreamliner, uma das aeronaves mais recentes da companhia. Vão decolar de Cumbica às 15h55 e pousar em Londres às 7h20. Da capital inglesa para São Paulo, sairão às 22h30 para chegar às 6h25.
Trem de alta velocidade
Conhecido por seu fascínio pela resolução de problemas, o empreendedor foi apresentado a um dos desafios do Brasil assim que chegou: o trânsito caótico da capital paulistana. A dificuldade em conseguir um helicóptero resultou em uma viagem de carro de quase três horas entre Guarulhos e o hotel Four Seasons, na zona sul.
“Não sei como as pessoas conseguem viver nessas circunstâncias. Provavelmente, muitas delas passam até cinco horas no trânsito todos os dias, e essa não é uma existência que eu gostaria de ter”, confessa Branson, que mora na tranquila ilha de Necker, nas Ilhas Virgens Britânicas. “Mobilidade é uma área na qual poderíamos ajudar o Brasil
nos próximos anos. Precisamos construir o Virgin Hyperloop One ao longo da rodovia, um trem que vai reduzir o trajeto [de Cumbica até a capital] para 20 minutos”, afirma, referindo-se ao trem de alta velocidade que a Virgin vai construir entre as cidades indianas de Mumbai e Pune.
aliado de iniciativas de apoio a jovens empreendedores. O grupo britânico pretende lançar no Brasil a Virgin Startup Loans, projeto que já concedeu milhares de empréstimos e mentoria de negócios em locais como o próprio Reino Unido e a África do Sul. “Se o governo estiver interessado em trabalhar conosco, definitivamente ficaríamos muito felizes em trazer o programa para o Brasil.”
Ele também é um crítico da educação formal, e diz que o empreendedorismo pode trazer parte da solução para outro problema do Brasil: o desemprego de mais de 11 milhões de pessoas, 30% delas jovens entre 18 e 24 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): “Pessoas que administram seus próprios negócios certamente aprendem mais do que na escola ou mesmo na universidade”, analisa.
Emergência climática
Apaixonado por causas relacionadas à preservação ambiental (a Virgin deixou de servir carne vermelha em seus voos em 2018) e um dos personagens mais influentes no mundo de negócios no debate sobre mudanças climáticas, a expectativa é que Branson use a presença de sua companhia no Brasil para aumentar sua influência nessa agenda.
“Não consigo pensar em nada mais triste nesse mundo do que ver a floresta amazônica sendo queimada. É uma joia preciosa que existe neste país, e temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para protegê-la”, afirma. Ele sabe que, apesar dos diversos e complexos problemas a serem endereçados quando o assunto é meio ambiente, o benefício financeiro da Amazônia, se mantida intacta, é de US$ 8,2 bilhões, segundo a revista científica “Nature”. Por isso, tem intensificado seu lobby para que a emergência climática fique óbvia para governos e a elite dos negócios em diversos países. Branson tem tentado encampar o equivalente a um imposto sobre carbono para que empresas invistam a totalidade desses recursos em projetos de energia renovável.
“Pessoas que administram seus próprios negócios certamente aprendem mais do que na escola, ou mesmo na universidade.”, Richard Branson“Estamos tentando convencer governos a fazer com que empresas invistam uma porcentagem de seus lucros em energia limpa com base em suas emissões de carbono”, ressalta. “Se [essa contribuição] fosse imposta a todas as empresas, conseguiríamos resolver o problema de mudança climática muito rapidamente. Estamos trabalhando para que isso aconteça.”
Ativamente envolvido em múltiplos compromissos filantrópicos (que incluem a limpeza dos oceanos e o combate à miséria), Branson aplaude o crescente foco corporativo no Brasil em aplicar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas, o que vai ao encontro de sua opinião de que empresas devem se responsabilizar pelo tratamento de temas importantes para a humanidade.
“Precisamos que empreendedores preencham essas lacunas.”
Sobre seu próprio negócio, Branson aceita que as pessoas não vão parar de viajar de avião, mas quer que a oferta seja o mais sustentável possível: a Virgin Atlantic tem a meta de atingir a neutralidade nas emissões de carbono em 2050, com iniciativas como aviões com baterias em voos domésticos e a adoção de tecnologias que reduzem o consumo de combustíveis fósseis.
Corrida espacial
Avaliada em mais de US$ 2 bilhões, a Virgin Galactic foi a primeira empresa de transporte espacial a estrear na bolsa, em 2019. Desde então, teve uma queda nas ações e agora depende do lançamento de sua oferta de viagens suborbitais, que inclui turismo e missões espaciais, para chegar ao break-even em 2021.
A trajetória para fazer com que viagens ao espaço se tornem relativamente corriqueiras enfrenta desafios por mais de uma década. Em fevereiro de 2019, a Virgin atingiu seu mais recente marco, com a nave VSS Unity chegando à altitude máxima de 89,9 quilômetros e levando uma passageira, Beth Moses, além dos dois pilotos. Primeira mulher a embarcar num voo espacial comercial, a astronauta flutuou no interior da nave, assim como farão os futuros passageiros.
A Virgin não revela quem está em sua lista de turismo espacial, mas existem brasileiros entre as mais de 600 pessoas que desembolsaram US$ 250 mil para garantir um lugar na fila, como o fundador de uma das maiores startups do país. O empreendedor, que pediu para permanecer anônimo, acha que a Blue Origin, de Jeff Bezos, lançará sua oferta comercial antes. Branson rebate a previsão: “Já provamos que estamos à frente da Blue Origin. A única razão pela qual não estamos levando pessoas [comercialmente para o espaço] hoje é que queremos fazer mais voos de testes com pilotos para ter 100% de certeza de que ofereceremos um voo de ida e volta”, enfatiza.
O fundador da Virgin também garante que não se preocupa com Elon Musk, que quer levar humanos para Marte com seu projeto SpaceX. “Nós dois estamos fazendo coisas bem diferentes. A Virgin Galactic foi a primeira a colocar pessoas no espaço, e é isso que chamo de roubar a cena.”
“Existem 4 bilhões de pessoas na Terra que não estão conectadas e, a não ser que usemos satélites ao redor do planeta, esse problema permanecerá”, comenta, sem perder a chance para alfinetar a competição: “A abordagem da Virgin é, em vez de ir passear em Marte, usar o espaço para melhorar nosso planeta.”
Reportagem publicada na edição 75, lançada em março de 2020
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