Ele sempre responde: “Sim, estou”.
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“Não fico entediado de trabalhar, fico entediado nas férias”, diz ele com frequência. “Trabalho dia e noite. Não sei a definição de trabalho, porque me divirto com ele.”
Os truques do mestre são apresentados em um novo documentário sobre sua vida. É possível constatar sua genialidade com as marcas, sua ética de trabalho e sua produção criativa insana na obra “House of Cardin”, codirigida por P. David Ebersole e Todd Hughes, lançado virtualmente em 14 de agosto. O filme é um projeto inspirador para qualquer empresário.
Ele começa com a pergunta óbvia: “Quem é Pierre Cardin?”. Mas nem mesmo alguns de seus confidentes mais próximos sabem a resposta. Por meio de uma série de entrevistas, os cineastas tentam arrancar qualquer verdade das pessoas que vivem ao redor do designer, o que acaba sendo um grande desafio. E por que desafiar o imperador? Há muito em jogo.
“House of Cardin” tenta mostrar o lado mais suave do estilista, mas também seu ego. Ele nos conduz por seu império de sucesso, gabando-se de suas realizações – prêmios, tendências pioneiras, seu primeiro encontro com Marlene Dietrich – e por sua marca homônima em Paris, um museu feito por ele mesmo no 4º arrondissement da cidade (mas, infelizmente, nenhuma menção de sua recente retrospectiva do Brooklyn Museum).
Há entrevistas com celebridades que são fãs do profissional, como Dionne Warwick (que usou um vestido Cardin na capa de um de seus álbuns), Sharon Stone (entusiasta de seus tecidos), Naomi Campbell (que o chama de mestre) e Alice Cooper (admirador de sua linha de colônia), além de bate-papos com seus funcionários (que não ousariam arriscar seu emprego nem por um suborno suculento) e ex-pupilos, como Jean Paul Gaultier, que provavelmente foi o entrevistado mais sincero da obra ao lembrar de uma anedota sobre Pierre Cardin ter sido impedido de entrar no restaurante Maxim’s de Paris por causa do código de vestimenta, o que gerou um grande escândalo.
O italiano mudou-se para Paris na década de 1940 e fundou sua marca uma década mais tarde. Pouco depois de trabalhar com a estilista Elsa Schiaparelli (que era rival de Coco Chanel), fez sucesso na imprensa ao apresentar seu “vestido de bolha” da era espacial, em 1954.
Pierre Cardin elevou a moda parisiense à uma zona estranha, em uma época em que tudo era elegante, chique e previsível. Seus vestidos eram materiais para videoclipes, ideais para sessões de fotos de pop art.
Mas nem tudo foi simples para o artista. Ele foi expulso da Chambre Syndicale, a então associação francesa de estilistas, por criar uma coleção “ready-to-wear” – algo como “pronto para vestir”, em tradução livre – para uma loja de departamentos. Por causa dela, foi desaprovado como costureiro, considerado vulgar, enquanto seu objetivo era democratizar a moda para todas as mulheres.
Para aqueles que não estão familiarizados com o assunto, vale destacar os caminhos que Pierre Cardin abriu na moda ao longo de sua trajetória. Ele foi o primeiro estilista a apresentar um modelo masculino na passarela, em 1966. Abriu caminho para o logotipo da marca, sendo o primeiro estilista a colocá-lo na parte externa das peças, como uma declaração de moda. Então, de certa forma, fez com que esse símbolo se tornasse parte de tudo aquilo, algo não para esconder dentro de uma gola, mas para vestir e mostrar, o que revolucionou o estilo moderno. Desnecessário dizer que a moda streetwear não existiria se não fosse por Pierre Cardin.
Ele exagerou em termos de branding, mas quão longe é longe demais? Especialmente hoje, quando se espera que as marcas tenham uma movimentação para além das fronteiras?
Alguns dizem que Pierre Cardin também lançou a primeira linha de óculos de sol e que foi um dos primeiros estilistas a realmente vestir celebridades.
Mas, além de seu conhecimento de negócios, ele também sabia como cuidar da cultura. O designer fundou um local de eventos em Paris chamado Espace Pierre Cardin, onde todos, de Marlene Dietrich a Alice Cooper, já se apresentaram. Tinha um tipo de vibe sofisticado do Studio 54 e, certamente, não prejudicava sua marca reunir as pessoas no local. Isso diz muito sobre como ele fazia networking.
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Uma das coisas mais profundas que Pierre Cardin diz no filme é sobre o futuro – do ponto de vista de um futurista. “Em 100 anos, não estarei mais aqui”, diz ele.
Quando questionado sobre qual a principal qualidade de sua personalidade, ele se revela exigente e diz gostar de terminar o que começa. “Tout est possible” (tudo é possível) faz parte de seu bordão. É também a sua abordagem em relação ao empreendedorismo.
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