Restaurantes e serviços de entrega usam a criatividade para diminuir os impactos da pandemia

8 de agosto de 2020
Ilustração/Getty Images

Delivery precisou se azeitar rapidamente para salvar os estabelecimentos e as pessoas confinadas em casa

O isolamento social causado pela pandemia da Covid-19 tem transformado o padrão de consumo de vários setores do comércio. A dinâmica dos serviços de entrega, por exemplo, precisou se azeitar rapidamente para salvar os estabelecimentos da bancarrota e as pessoas confinadas em casa.

As startups de serviços de entrega, que já passavam por um aumento de demanda natural nos últimos anos, estão com mais trabalho do que nunca. Sérgio Saraiva, presidente da Rappi no Brasil, afirma que o bom momento da empresa está sendo compartilhado com a sociedade em forma de ações criadas para mitigar os impactos econômicos da crise.

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“Não é do nosso interesse nos beneficiarmos da situação. Por isso, estamos voltando os ganhos para a sociedade”, Sérgio Saraiva, presidente da Rappi no Brasil

“Apesar de o isolamento social impactar positivamente os negócios, nós nos preocupamos com o longo prazo. Não é do nosso interesse nos beneficiarmos da situação. Por isso, estamos voltando os ganhos para a sociedade.” Entre as medidas, ele cita que a Rappi reduziu o prazo de repasse para os restaurantes de 14 dias para sete; reduziu a comissão cobrada dos restaurantes menores; garantiu a remuneração de entregadores que eventualmente adoeçam e concedeu o benefício Rappi Prime (isenção de taxa de entrega) para maiores de 65 anos. Além dessas ações, a Rappi criou, em parceria com a ONG Gerando Falcões, um botão de doação que arrecadou mais de R$ 400 mil em dez dias para a compra de cestas básicas destinadas a comunidades carentes.

Aumento de 11,3%

Já o iFood fechou março com 158 mil restaurantes – um aumento de 11,3% em relação a fevereiro. O aplicativo também criou ações para amenizar o revés da crise. Além de antecipar o repasse aos restaurantes para sete dias, criou dois fundos solidários no valor de R$ 2 milhões destinados a amparar tanto os entregadores que adoecem e precisam parar de trabalhar quanto aqueles que pertencem ao grupo de risco e precisam ficar isolados. Outros R$ 50 milhões de sua receita devem beneficiar os restaurantes parceiros do app durante dois meses por meio de ações como o auxílio calculado pelo valor dos pedidos, que pode chegar a 20% nas taxas de cada compra realizada.

Sobre a mudança nos padrões de consumo, Bruno Montejorge, diretor de comunicação do iFood, acredita que muitas das pessoas que começaram a usar o app por necessidade no isolamento continuarão utilizando. “Conseguimos mostrar que o iFood é uma plataforma que vai além da pizza de sábado à noite e pode fazer parte do dia a dia das pessoas que nunca tinham usado o app ou o faziam de forma esporádica.”

A plataforma de serviços de entrega Uber Eats registrou um aumento de dez vezes no número de restaurantes que procuraram o app entre os meses de março e abril em relação ao mês anterior, segundo o diretor geral do Uber Eats Brasil, Fábio Plein. Ele afirma que a melhor forma de contribuir para diminuição dos impactos da pandemia no setor é trazer demanda aos restaurantes, sobretudo os de pequeno porte. Para isso, a empresa lançou a campanha #PeçadoRestauranteLocal, zerou a taxa de entrega dos pedidos feitos nesses estabelecimentos e tornou os seus repasses diários em vez de semanais.

Fábio também acredita que haverá mudanças no padrão de consumo pós-isolamento. “Temos observado que as pessoas, trabalhando de casa, estão recorrendo ao Uber Eats em momentos como almoço e café – nosso campeão de vendas sempre foi o jantar.”

A movimentação dos restaurantes

Não foram só os serviços de delivery que se ajustaram ao novo cenário. O Grupo Fasano, por exemplo, com 25 restaurantes (contando os dois de Punta del Este, possuía os serviços de delivery apenas para o Gero Panini, uma versão mais descontraída do luxuoso estabelecimento aberto há quase um ano em São Paulo.

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“Estamos cuidando da qualidade dos nossos produtos, logística e entrega, porém, a interação que temos com os clientes durante o serviço no restaurante sempre será única”, conta Mayra Chinellato, diretora de alimentos e bebidas do grupo. Ela diz que os serviços de entrega, apesar de não retornarem o prejuízo causado pelo fechamento dos restaurantes, estão dando “motivação para seguirmos”. O sushiman Jun Sakamoto, que empresta seu nome para um dos restaurantes de comida oriental mais conceituados de São Paulo, com uma estrela Michelin, não ficou de braços cruzados ao perceber que sua clientela habitual estava interessada em continuar a comer seus sushis: resolveu ir pessoalmente entregar-lhes os pratos.

Como não usa embalagens descartáveis, pois “acaba com a experiência”, Jun retira os pratos no dia seguinte. Ele admitiu que as entregas não sustentam todos os gastos, mas, com os pedidos atuais do meio do abril (que giram em torno de 30 pratos diários), o restaurante conseguiu o suficiente para não demitir ninguém da equipe.

A chef e empresária Renata Vanzetto já possuía serviços de delivery no Matilda, MeGusta e Muquifo — nos seus dois outros estabelecimentos, o Ema e o Mé Taberna, não havia delivery. Foi necessário implementar o serviço no Ema. Ela conta que o número de pedidos aumentou entre os meses de março e abril (200 pedidos diários no meio de abril entre todos os restaurantes). Já a chef Morena Leite, à frente do Capim Santo em São Paulo e Rio, e do Santinho, em São Paulo, precisou inovar, uma vez que não tinha delivery. Segundo ela, foi necessária uma força-tarefa para conseguir começar esses serviços, primeiro no Rio de Janeiro, depois em São Paulo. “Pegamos de tudo um pouco: garçons que tinham moto, preparamos um cardápio especial e, com fé e coragem, nos reinventamos.”

Como está à frente da alimentação do Colégio São Luís, em São Paulo, ela percebeu a demanda de pais e mães sobrecarregados com trabalho em casa e a lida com as crianças. “Criei um menu assinatura, o Capim para casa, comida do dia a dia para duas, quatro ou seis pessoas. Isso é demanda nova e pode continuar após o isolamento passar.” Morena e seu time se desdobraram também para pôr em prática as doações semanais de marmitas para hospitais de São Paulo. Dia 17 de abril, por exemplo, foram doadas mil marmitas distribuídas entre o Hospital Dante Pazzanese e o Hospital São Paulo.

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