Startup GitLab defende uma operação total de trabalho remoto

13 de novembro de 2020
Morsa Images/Getty Images

Para a GitLab, as empresas devem abraçar completamente o regime de home office para atingir a máxima eficiência

Sid Sijbrandij conhece os perigos do home office. Em 2018, após anos trabalhando exclusivamente em um pequeno cômodo em seu apartamento no 47º andar de um arranha-céu em São Francisco, o empresário desenvolveu problemas nos pés. Então ele mudou. Passou a trabalhar em uma mesa acoplada a uma esteira ao lado de sua tela compatível com Zoom e três monitores.

Mas o CEO da GitLab diz que o problema não é o trabalho remoto, mas como ele é praticado. A menos que você esteja atuando para uma das poucas empresas que abraçaram totalmente a nova realidade de trabalho, Sijbrandij acha que, provavelmente, você está fazendo algo errado. Sua visão radical sobre o trabalho remoto é que ele só é eficaz se você apostar alto. Medidas parciais vão provocar uma cisão na força de trabalho ao longo do tempo. Como consequência, os funcionários remotos serão afastados do alto desempenho. “Veremos algumas empresas voltarem [para o escritório] e tentar tirar o melhor proveito disso, e acho que elas terão dificuldades”, diz ele.

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Na operação da GitLab, a única vez que os funcionários se encontram pessoalmente é para as reuniões anuais gerais da empresa, realizadas (em tempos pré-Covid, pelo menos) em locais animados e relativamente baratos como a Grécia. Outro pilar do absolutismo de trabalho remoto da empresa: transparência radical. Ela publica um manual público online detalhando como aborda praticamente todos os tópicos. Você não encontrará os salários individuais dos funcionários, mas os objetivos estratégicos de seus executivos para o trimestre atual e a fórmula exata para calcular os salários nos 67 países em que a equipe da GitLab vive, do Quênia ao Marrocos e à Sérvia. (Há também uma seção sobre como e quando falar com Sijbrandij e outra sobre o seu gato.) Qualquer coisa que não esteja no manual, que teria 8.400 páginas se fosse impresso, provavelmente está em uma pasta interna do Google Doc. Cada reunião na GitLab tem, pelo menos, um documento online complementar.

Sijbrandij também depende muito da documentação para permitir que os funcionários da GitLab trabalhem perfeitamente. Os funcionários atualizam documentos e fazem anotações ou compartilham informações de maneira assíncrona em canais do Slack e mensagens de vídeo. As decisões e planos são transferidos para o manual. “Cada vez que você tem que esperar por permissão ou aprovação para que outra pessoa faça algo, isso é um problema”, diz ele.

Ele construiu uma das startups mais valiosas do mundo, avaliada em US$ 2,8 bilhões em 2019, sem manter escritórios para nenhum de seus 1.300 funcionários. Isso ajuda a companhia – que fornece um conjunto de ferramentas de software que ajuda os desenvolvedores a criar, gerenciar e proteger seus aplicativos – a atuar em uma categoria de alta tecnologia que é ainda mais importante à medida que as empresas impulsionam as vendas e as interações com os clientes online.

Mesmo entre outras grandes empresas que adotaram o home office na pré-pandemia – notavelmente a Automattic, o nome por trás do WordPress – Sijbrandij se destaca. “Provavelmente não somos tão radicais quanto Sid é”, diz Dave McJannet, CEO da startup de infraestrutura em nuvem remota HashiCorp, avaliada em US$ 5 bilhões. Hoje, porém, o radicalismo de Sijbrandij está atraindo muitos seguidores. Os downloads do e-book gratuito da GitLab sobre trabalho remoto chegaram a 70.000 desde seu lançamento em março. Os funcionários estão demandando webinars frequentemente.

A configuração multinacional da GitLab começou na Europa. Sijbrandij havia trabalhado em uma empresa de submarinos e ajudado a administrar uma startup de revisão de aplicativos online. Enquanto gerenciava projetos da web para o Ministério da Justiça holandês, encontrou um projeto de código aberto da Ucrânia, com centenas de colaboradores voluntários.

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Em 2012, Sijbrandij entrou em contato com os criadores da iniciativa, Dmitriy Zaporozhets e Valery Sizov, dizendo que iria construir um negócio em cima de seu projeto. Um ano depois, Zaporozhets ingressou como cofundador e CTO. Ele, agora, é um colega de engenharia. Sizov ingressou em 2014 e é desenvolvedor sênior. Sijbrandij começou a construir a GitLab (batizada em homenagem a Git, um sistema popular para rastrear alterações no código-fonte) para vender assinaturas de ferramentas de software que ajudam a gerenciar projetos baseados na tecnologia de código-fonte aberto. Sijbrandij, Zaporozhets, Sizov e seis outros empreendedores se reuniram temporariamente na Califórnia, no início de 2015, para participar da prestigiada aceleradora de startups Y Combinator – os únicos três meses em que passaram trabalhando no mesmo espaço.

A maior parte do time da GitLab voltou para a Europa depois. Sijbrandij, apaixonado pelo ecossistema de startups e com um olho na arrecadação de fundos, ficou para trás. Até hoje, a empresa já arrecadou US$ 476 milhões, a maioria desse valor ainda está em seu balanço. Ela vende um conjunto de 10 ferramentas de aplicativos diferentes, do desenvolvimento à segurança, por até US$ 99 por usuário por mês, gerando mais de US$ 75 milhões em receita no ano passado de mais de 15.000 clientes, incluindo Nvidia, Siemens e Goldman Sachs, que posteriormente investiram na companhia.

A tendência das empresas de moverem suas operações para o online, especialmente desde o início da pandemia, levou ainda mais desenvolvimento para a nuvem, o que significa que os negócios estão crescendo. Mas os clientes estão cada vez mais propensos a pedir não por suporte de software, mas por um curso intensivo sobre como a GitLab conduz seus negócios.

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“De 10% a 15% do nosso envolvimento com os parceiros se baseia em ajudá-los a ver como fazemos as coisas”, disse Michelle Woodward Hodges, vice-presidente de parcerias de canal da GitLab.

Mas nem tudo são rosas no trabalho remoto, especialmente agora. Sijbrandij é rápido em notar que tem sido difícil conviver com o fato de não poder viajar. Alguns pais de sua equipe enfrentam demandas extras de cuidados infantis. A GitLab procurou resolver isso, oferecendo feriados de sexta-feira, e encorajou staycations (atividades de lazer em família que não requerem viagens). “É importante que todos se lembrem que isso não é trabalho de qualquer lugar, é trabalhar de casa durante uma pandemia”, diz Sijbrandij. “Este não é um momento normal.”

Uma ironia de espalhar o evangelho do trabalho remoto: mais empresas seguindo a GitLab significa que seu segredo foi revelado. “Tivemos a vantagem de atrair muita gente porqueu as opções para ingressar em uma empresa em rápido crescimento eram poucas. A competição agora é muito maior, o que deve aumentar os salários”, diz Sijbrandij. “Acho que isso é ótimo para o mundo.”

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