A OMC foi fundada em 1995, a partir da transformação do extinto Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt, na sigla em inglês), e enfrenta uma crise existencial por embates com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (o acordo comercial EUA-China), e pela diversidade da economia de seus membros.
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Um dos principais candidatos ao posto de diretor-geral é Hamid Mamdouh. De origem egípcia, é figura conhecida na entidade: fez parte do antigo Gatt e do time responsável pela transformação da sigla na atual OMC. “O processo de transição levou anos, mas nós precisávamos disso. A economia do mundo estava passando por mudanças substanciais, assim como o comércio.” Mamdouh permaneceu na organização desde sua fundação até setembro de 2017. Se nomeado, será o primeiro africano a dirigir a entidade.
Para o diplomata, conselheiro do G20 e professor convidado da Queen Mary University of London, a OMC enfrenta um momento de transformação econômica e enfraquecimento similar ao vivido pelo Gatt nos anos 1990. Ele vê sua candidatura como assertiva pela experiência acumulada em 35 anos no mundo dos acordos e negociações comerciais. “Se o seu carro estivesse quebrado, quem você gostaria de ter ao lado? Não seria válido um dos engenheiros que desenhou o automóvel e o ajudou a funcionar nos últimos 25 anos? Eu posso fazer o diagnóstico e apresentar as soluções.”
O papel da entidade é maximizar os benefícios dos acordos comerciais, o que implica o incentivo à expansão das relações de comércio com regras multilaterais que garantam produtividade e estabilidade das negociações – atraindo, como consequência, os investidores.
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Assim como membros do G20, Mamdouh é defensor das mudanças de base na entidade. “Não devemos ficar obcecados com o organismo em seu atual formato. É preciso ter uma mente aberta e um olhar analítico para entender qual deve ser a OMC do futuro, e não o futuro da OMC.” E completa: “Não precisamos terminar com a formulação de uma nova sigla, mas é preciso encarar a realidade e canalizar as preocupações para algo maior do que manter o status quo”.
Fôlego brasileiro
Para o diplomata, a dependência econômica brasileira de commodities agrícolas e o baixo valor agregado dos produtos requerem apostas consistentes e massivas no setor terciário. “É possível ter uma economia sem agricultura, como Singapura e Hong Kong, ou sem manufatura, mas nunca carente de serviços. O Egito, por exemplo, é o sexto país no mundo em produção de vegetais frescos. Mas essa capacidade produtiva não é refletida na performance de exportação ou nos mercados locais. E isso porque fazer tomates brotarem é uma coisa, colocá-los nas prateleiras dos supermercados é outra. Nesse caso, também há carência de investimento no setor terciário, que vai da pesquisa aos testes e design de embalagens.” Segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o agronegócio brasileiro representou 21,4% do PIB de 2019.
Sobre a estrutura profissional de base do país, que interfere diretamente nos assuntos econômicos, ele coloca em pauta a urgência de investimentos no setor da educação. “Existe um desnível entre o que o sistema de ensino produz e o que o mercado de trabalho demanda. O modelo educacional precisa ser capaz de ensinar como pensar e não o que pensar. A economia não precisa de indivíduos com um disco rígido na cabeça. Os dados podem ser acessados na ponta dos dedos”, avalia. “Formar pessoas com capacidade analítica pode ser a saída para o aprendizado duradouro e a longevidade profissional. Infelizmente, isso não é um ponto atrativo para mandatos políticos por demandar alto grau de investimento, com retornos de longo prazo.”
Novos ares
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A multilateralidade, para ele, é levada como princípio básico na busca de saídas para dilemas em comum. Mamdouh afirma que problemas em larga escala não devem ser resolvidos domesticamente: “O coronavírus vai nos deixar a lição de mais cooperação. Não podemos escapar do princípio econômico de que crises globais requerem soluções conjuntas”. Ainda no comando da OMC, Azevêdo solicitou aos governos que não colocassem barreiras na exportação de alimentos e itens de uso médico ( leia mais sobre a gestão do brasileiro abaixo).
Oportunidades
GESTÃO BRASILEIRA
Engenheiro e diplomata de carreira, Roberto Azevêdo foi o primeiro latino-americano a assumir a diretoria geral da Organização Mundial do Comércio. No cargo desde 2013, cumpria seu segundo mandato, com término inicialmente previsto para agosto de 2021.
Considerado um dos brasileiros que mais entendem de negociações comerciais, Azevêdo trabalhou nas embaixadas dos Estados Unidos e do Uruguai, foi chefe da delegação brasileira da Rodada Doha e subsecretário-geral para Assuntos Econômicos e Tecnológicos.
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