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Entre os problemas identificados está a falta de estratégias para que a inclusão e a diversidade se mantenha à medida que se sobe na pirâmide corporativa. “Contratar profissionais negros é uma tendência, mas se isso não trouxer valor para o negócio, vai parar de entrar dinheiro para os programas de diversidade”, diz Eliezer Leal, que gere a Singuê junto com a esposa.
Nubank tem mentoria para pretos
No Nubank, Jader Felipe foi um dos profissionais mentorados durante o programa de aceleração. Era gerente na consultoria Deloitte, foi contratado como analista pelo Nubank e, em 2021, promovido a gerente de riscos operacionais. “Foi emocionante fazer um treinamento e ver tantas carinhas negras na tela, coisa que nunca vivi antes”, diz Felipe, sobre as mentorias semanais que aconteciam em um grupo online. “Todos esses temas ligados à raça era algo que eu evitava e esse trabalho me ajudou a conseguir olhar para a questão e a falar dela.”
O executivo conta que, em comparação aos colegas que fizeram parte do programa, teve uma vida privilegiada. Veio de uma família de classe média, pode estudar em escolas privadas e estudar em uma faculdade de renome. “Sei que meus colegas negros viveram experiências muito duras e o programa me trouxe essa consciência. Até nisso foi um divisor de águas para mim.”
Na Natura, o programa de aceleração de carreiras de grupos subrepresentados (pessoas pardas ou pretas, PcDs, comunidade LGBTQIA+) tem uma meta. “Queremos sair de 10% desses grupos na liderança para 30% nos próximos sete anos”, diz Milena Buosi, gerente de diversidade da Natura & Co para América Latina. “Uma das frentes é formar essas pessoas em diversas competências, incluindo idiomas.”
Autoestima é parte dos treinamentos
Lidar com questões pessoais é um dos pontos importantes desse tipo de mentoria. Além de conscientizar as lideranças para os vieses ligados à cor da pele e abrir espaço na empresa para que essas pessoas subam mais rapidamente, há um trabalho de fortalecimento de autoestima. “70% do nosso trabalho diz respeito à estrutura e 30% diz respeito ao indivíduo. Pessoas pretas têm menor tolerância aos próprios erros, se cobram demais e não arriscam. Além disso, há uma preocupação excessiva com relação à própria aparência em razão de tudo o que enfrentam”, diz Matos.
A própria presença de mais pessoas negras em cargos de liderança deve ter um caráter educativo dentro das companhias e equipes. “Uma vez me dei conta de que era a única referência para estagiários e trainees negros”, diz Felipe sobre a posição que ocupava nas empresas pelas quais passou. “Isso é um fardo. Com mais gente ocupando esse lugar, muda tudo e mais jovens pretos poderão reconhecer que podem ser líderes também”