Metaverso e Web3 têm demanda em alta e salários começam em R$ 10 mil

6 de setembro de 2022

As contratações em torno do metaverso e da Web3 vão além dos profissionais de TI

Criação de avatares de influencers, cryptogames (jogos que premiam com criptomoedas) e a chamada Web3 estão demandando profissionais que podem ter salários iniciais em torno de R$ 10 mil. Na BAYZ, fundada em setembro de 2021, por sócios que vieram de empresas como TikTok, Riot Games e Garena, o número de funcionários cresceu mais de dez vezes em menos de um ano, passando de 7 para os atuais 74. A editora de jogos Web3 atende grandes empresas de games, desenvolvedoras, publicadoras, marcas que estão entrando em Web3 e metaverso, além de artistas.

A BAYZ é a representante oficial no Brasil de um dos maiores metaversos descentralizados do mundo, onde o usuário tem autonomia para escolher seus ambientes, o The Sandbox. “Temos um time de profissionais dedicados a esse projeto e várias marcas estão dentro do The Sandbox, como The Warner Music, Snoop Dogg, Playboy, Smurfs, The Walking Dead, Ursinhos Carinhosos, entre outros”, diz João Borges, cofundador da empresa.

Para conseguir formar o time, a BAYZ precisou flexibilizar os requisitos. “Por ser um mercado novo e em construção, nossa dificuldade é encontrar profissionais qualificados que entendam de Web3”, diz. Na falta deles, a empresa vem trazendo profissionais da Web2 e investe em seu desenvolvimento.

Entre os cargos mais demandados estão os de metaverse builder (construtores de experiência no metaverso), game designer e desenvolvedor de Web3. Por ser um mercado novo, não há uma média salarial estabelecida, mas o salário de entrada para profissionais da área vai de R$ 3 mil a R$ 10 mil.

Biobots tem fila de influencers à espera de avatares

Satiko tem planos de ir ao Rock in Rio sendo patrocinada pelo Itaú. O avatar da apresentadora Sabrina Sato tem seus próprios contratos publicitários. A Biobots, empresa especializada na criação e desenvolvimento de produtos digitais, especialmente NFTs (tokens não-fungíveis) e avatares, é a responsável pela imersão no metaverso e a criação de Satiko.

Foram necessários cinco meses e dez profissionais envolvidos para criar o avatar da influenciadora. “Começamos com a identidade e personalidade do avatar, partimos para ilustração e iniciamos o Concept Art, que é a primeira versão 3D do personagem”, diz Ricardo Tavares, CEO da Biobots.

A fase seguinte é a de look development e rig, que é a criação da textura do avatar e seus acessórios e também os “ossos” do personagem, que permitem os movimentos. “Ainda temos a fase do grooming, que trabalha volume de cabelo, corte, penteados, cor, cílios e sobrancelhas do personagem. Na fase still e animação é onde o personagem fica pronto para ser trabalhado”, diz Tavares.

Cada um desses passos requer ao menos um profissional especializado para que o trabalho seja concluído. E a demanda é crescente. A empresa também é responsável pelo avatar da influenciadora Boca Rosa, a Pink, e já tem mais dez contratos em andamento. Cauã Reymond, Ticiane Pinheiro, Rafa Kalimann, Luiza Possi e Natalia Beauty estão entre os avatares com lançamentos previstos para os próximos meses.

A startup também é responsável por projetos como a primeira coleção de NFTs do lutador José Aldo e sua expansão para o metaverso, com o ginásio de luta exclusivo em terreno no Sandbox. Trata-se de uma plataforma desenvolvida na blockchain ETH (Ethereum), que permite aos usuários comprar, vender, negociar e ter ativos em um mundo virtual.

Para isso, a Biobots tem 50 funcionários e recentemente anunciou Paulo Franco como sócio-investidor. O executivo tem experiência na área de TV, com passagens por Record, SBT e Fox Networks Group no Brasil e na Europa. “Recentemente contratamos profissionais de Rigging, Gruming e generalista 3D, mas ainda temos vagas abertas em nosso site”, afirma o CEO, que diz ter problemas para encontrar profissionais qualificados. “São necessárias ferramentas muito específicas”, afirma.

Metaverso até nas igrejas

A tecnologia do universo paralelo atrai até clientes que nada têm a ver com influencers e celebridades que estão povoando o metaverso. Fundada em 2019, a In peace App constrói metaversos para igrejas. Na pandemia, a demanda aumentou para que os cultos fossem transferidos para a segurança do ambiente digital.

A companhia tem 78 funcionários no Brasil e já expandiu as operações para os Estados Unidos, onde tem uma equipe de 38 colaboradores, e hoje atende 6 mil igrejas. Cada projeto, para ser colocado de pé, pode variar de 30 dias até meses.

Segundo Hudson Chamon, CEO Brasil do Inpeace APP, mesmo com o controle da pandemia, a demanda por ambientes online onde os fiéis podem interagir, participar das orações e até fazer doações não para de crescer. “As igrejas que possuem um viés mais tecnológico e público mais jovem estão partindo para essa adaptação”, diz.

Para dar conta da demanda, a empresa está contratando. Há vagas para desenvolvedores, áreas de marketing, vendas e design. “Para garantir mão de obra qualificada temos um programa com universidades para captação de estagiários e visamos capacitar e reter esses talentos”, afirma o CEO.

Segundo ele, os cargos mais demandados são de desenvolvedores de maneira geral. “O salário varia de R$ 6 mil a R$ 35 mil”, afirma.

Contratações vão além da área de TI

As contratações em torno da Web3 vão além dos profissionais de TI. Há demanda por áreas que servem de suporte a esse trabalho, como gente que atue com RH, administração e finanças. Afinal, as empresas estão desembarcando no Brasil ou sendo criadas por aqui e precisam de uma estrutura completa.

Segundo Isis Borge Sangiovani, diretora associada da consultoria de recrutamento Talenses, a demanda por profissionais para atuar com metaverso, cryptogames e Web3 aumentou muito nos últimos meses. “Notamos uma busca de empresas de fora que estão se instalando aqui e das startups brasileiras dessas áreas, que estão crescendo muito rápido”, diz.

Além dos cargos administrativos, a diretora afirma que a busca por gente para atuar no desenvolvimento de tecnologia está competitiva. “Como as empresas estão com dificuldade de achar mão de obra qualificada, acabam sendo mais flexíveis e aceitando profissionais de outras áreas para aprender as novas funções no dia a dia.”

Mais do que a formação, o perfil pessoal tem sido levado em conta na hora da busca pelos profissionais. “A maior parte das companhias focadas nessas tecnologias ou está iniciando uma subsidiária no Brasil ou é uma startup. O perfil requerido busca quem tenha alto poder de adaptação, fluência em inglês, interesse em aprender e seja multitarefa.”

É claro que há uma compensação para isso. A remuneração é uma das formas de atração de talentos. “Muitas empresas da área estão pagando os funcionários com criptomoedas com base na cotação do dólar. Isso dá uma média salarial até 50% maior do que um profissional de TI de outras áreas ganha no Brasil”, diz Isis.

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