Sempre que estou analisando um programa de ações, outorgado por uma empresa aos seus profissionais com o objetivo de alinhar interesses do time com a performance do negócio e com o ganho dos acionistas, eu vejo os efeitos que fatores exógenos podem causar nesta expectativa de ganho. A política, a economia, o dólar, o preço das commodities, a China, as guerras que estão acontecendo do outro lado do mundo ou mesmo o mau humor dos investidores podem desmantelar qualquer plano de negócio. E aí, grande parte do ganho esperado pelo profissional perde a validade.
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Essa instabilidade é um dado do problema. Mas, no mês passado, me deparei com um estudo conduzido pela Harvard Business Review e que me trouxe um nível adicional de preocupação. Não é que as pessoas esperam uma oportunidade de ganho e acabam recebendo menos. O problema é que as pessoas nem sabem o que estão recebendo!
Quanto maior o número de ações oferecidas, maiores as chances de as pessoas aceitarem a troca do dinheiro pelo papel, mesmo sem terem a menor ideia do que isso significa, sem saberem qual o percentual que essas ações representam do cap table da empresa, se vão precisar pagar pelas ações, quanto vão precisar pagar ou qual a projeção de crescimento dessa ação. Me lembrou um programa de TV que assistíamos aos domingos em que a pessoa entrava numa cabine e respondia perguntas sem tê-las ouvido, e acabava trocando um carro zero km por uma casca de banana (referência válida para os 40+ como eu!).
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Outro ponto alarmante veio de uma pesquisa aplicada para entender o nível de conhecimento dos profissionais sobre os programas de ação, e os resultados foram realmente desconcertantes. O índice de acerto não só foi baixo, como também as pessoas optavam pela resposta errada ao invés de admitir que não sabiam. E esse excesso de confiança acaba levando os profissionais a não buscarem informações que são fundamentais para que possam tomar as melhores decisões.
Então antes de trocar o certo pelo duvidoso, se informe, procure orientação de um profissional especializado, estude as condições da proposta que está recebendo e compare com as alternativas mais tradicionais. E se depois de todas as considerações você entender que o pacote é atrativo, siga em frente! Só não vale dar um salto no escuro e reclamar depois de ter pulado num poço sem fundo.
Fernanda Abilel é professora na FGV e sócia-fundadora da How2Pay, consultoria focada no desenho de estratégias de remuneração.
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